Depois de meses de muitos trabalhos e falta de tempo para escrever minhas opiniões e desabafos, resolvi retornar, pois é necessário retomar as coisas que a gente gosta e sente prazer em fazer. No meu caso, escrever para esta coluna é uma delas. Ao longo de toda a nossa existência temos processos de vida e morte o tempo inteiro, início e fim de relações de todos os tipos, mudança de casa, de trabalho, de cidade, de destino, e a cada etapa, um pouco ou muito de nós acaba morrendo para que outra configuração do que somos possa nascer e crescer.
Assim é essa trajetória cheia de linhas, curvas e pedras que é a vida. Mas, de todas as minhas mortes e os meus renascimentos, e não foram poucos, lhes digo, o meu nascimento como mãe é certamente o mais difícil, complexo e que ainda faz com que eu busque entender o que eu estou fazendo no mundo. Como uma boa escorpiana com tantas casas neste signo controverso, sempre tive uma grande habilidade com adaptação.
Mudar de cidade, de casa, de trabalho nunca foi um tormento, sempre vi como uma nova fase com novos desafios e certamente novas lições e coisas para eu aprender, o que é algo que me anima bastante. Dizem que somos como Fênix, amamos ir ao fundo do poço para renascer das cinzas. Mas, a maternidade é um pouco diferente porque carrega inúmeros paradoxos, que, para mim, têm sido mais complexos de decifrar e de me adaptar.
Vivemos numa sociedade que romantiza o cansaço. Para ser boa mãe, você precisa ser a mais cansada, a que pede menos ajuda, a que depende de menos recursos, a que dá conta de tudo, menos de você mesma e de sua saúde. Somado a isso, você precisa ser bem-sucedida, caso contrário, por que teve filho se não tem um emprego “estável” (ainda procuro a definição de estabilidade no mercado de trabalho atual, mas não encontrei)? Por que teve filho se não tem dinheiro para pagar uma babá, para pagar uma creche em horário integral? Por que teve filho se acha que deve ter uma rede de apoio? Afinal, não é obrigação de ninguém cuidar do filho dos outros. E quando você vai emagrecer? Não é porque virou mãe que precisa estar relapsa, você precisa malhar, fechar a boca, cuidar da casa, ser boa esposa, enfim, suprir o que todos esperam de você, menos você mesma.
E aí vem a culpa e você se afunda num poço de tristeza porque todo mundo ao seu redor lhe incentiva a ter filhos, mas quando eles nascem, se tornam um “problema”, sobretudo quando você prefere ir na contramão do que é o indicado e palpitado 24h todos os dias. E a vida é um ganhar e perder sem fim, nem sempre na proporção que gostaríamos, mas a gente sempre ganha de alguma forma. Talvez eu ainda me sinta muito perdida, com um pouco de saudade da Díjna bailarina, que dançava em casa, na rua, nos palcos, da Díjna menos tensa, menos preocupada com o horário para chegar e com os afazeres de casa.
Ainda não sei quando vou me adaptar por completo a essa nova pessoa que eu sou, mas eu acho que, o que tem dificultado muito mais não é a maternidade, é a forma como a sociedade lhe massacra quando você não entrega a ela o que ela quer: hipocrisia, sorrisos falsos, romantismo do cansaço, corpo magro, mente doente e uma alma sebosa, porque assim é muito mais fácil te manipular. É mais fácil seguir cartilhas do que pensar de outras formas e entender que seu mundo não é o único em que as coisas podem funcionar corretamente. Dito isto, voltei, não sei como, não sei até quando. Mas, por enquanto, seguirei aqui.