Uma colher de mel na boca

A mitologia dos Orixás apresenta inúmeros contos (itans) que se aproximam com o nosso cotidiano e apresentam formas de lidar com as adversidades que encontramos ao longo da vida. Ontem, dia 08 de dezembro, foi dia de celebrar a Orixá Oxum. Dentro de minha crença, que é o Candomblé, Oxum é uma divindade que rege as águas doces, é a mais política e estrategista das Orixás, aquela que com uma colher de mel na boca afirma que tudo pode ser dito.

 

Em alguns itans sobre Oxum, encontramos narrativas repletas de movimentos sinuosos, como o movimento das águas doces, que com sua calmaria em superfície, esconde a profundidade e os mistérios em camadas que só se revelam para quem deseja mergulhar e se arriscar. Mas, viver é um risco. E viver enquanto mulher é ainda um risco muito maior. Por isso, Oxum traça estratégias e maneiras de sobrevivência para mostrar que nem sempre uma guerra se ganha com armas e força física.

 

A partir de suas estratégias políticas, Oxum dialoga com os mais raivosos, com os que estão dispostos a destruir tudo, com os mais poderosos e déspotas. É com o mel na boca, que Oxum se movimenta entre os perigos, enfrenta seus inimigos, colhe informações e as utiliza a seu favor com perspicácia, leveza e sagacidade. Enquanto o mundo ocidental só a enxerga através do espelho da beleza e feminilidade, Oxum domina em silêncio, enquanto gesta e executa planos de poder.

 

Oxum está em todas as mulheres e todas as mulheres estão em Oxum. Afinal, como enfrentar os grandes desafios do mundo estruturalmente machista e patriarcal sem sermos ouvidas? Como lutar por igualdade de direitos quando os que estão em posição de privilégio não desejam compartilhar o poder? Por que as mulheres precisam se esforçar muito mais para ter o mínimo de destaque em seu trabalho? Por que o cuidado com o lar, com a família é um impedimento para que as mulheres cresçam em suas carreiras?

 

Vamos refletir para que sejamos como Oxum, estratégicas, versáteis, persistentes em nossos propósitos, com muito amor próprio e sempre com uma colher de mel na boca, para que tudo que seja dito seja ouvido, seja compreendido e seja, de fato, modificado.

 

 

Ora Ye Ye O !

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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