Dilma não tem adversário

Aécio Neves não tem como ganhar esta eleição. Dilma Rousseff não tem adversário, portanto, não perde a eleição. Eduardo Campos só não decepcionou mais do que o ex-governador mineiro porque dele não se esperava muito mesmo. Aécio briga com ele mesmo e seu humor deve piorar ao ver que a Copa dá certo enquanto seus índices percentuais nas pesquisas não se movem para cima.

Num país de muitas contradições e de evidentes problemas a serem resolvidos na saúde, na educação e na segurança pública, onde a violência tornou-se endêmica, o candidato tucano não tem conseguido apresentar um discurso inovador, propositivo e confiável, repetindo algumas vezes as soluções já apresentadas, quando não caindo em contradição.

Aécio Neves tenta enganar uma parte do eleitorado quando se descola de opiniões controversas de economistas a quem é ligado. Em reportagem publicada pelo jornal Valor, o grupo que inclui Armínio Fraga, Edmar Bacha, Gustavo Franco e

Elena Landau defendeu medidas como a revisão das desonerações e da forma de cálculo do salário mínimo, assim como a retomada forte das privatizações. No dia seguinte, Aécio afirmou que respeita as opiniões desses interlocutores, mas que eles não são seus porta-vozes e tampouco concorda integralmente com suas avaliações.

Ele critica o número considerado por ele excessivo de ministérios e cargos comissionados do governo federal, mas anuncia que vai criar mais uma secretaria extraordinária. “Uma medida tomarei no primeiro dia de governo (…) a criação de uma secretaria extraordinária para a simplificação do sistema tributário”.

Contrariando seus aliados liberais críticos do Bolsa Família, ele agora parece que redescobriu sua vocação perdida para causas sociais, como disse Humberto Costa, ao destacar os dez anos de existência do programa. "O senador Aécio Neves apresentou propostas de aperfeiçoamento do programa sob a justificativa de que é preciso institucionalizá-lo, integrá-lo aos direitos sociais do cidadãos e transformá-lo em política de Estado. Só que o Bolsa Família já está previsto em lei e já é uma política de Estado", afirmou o senador do PT pernambucano.

Recentemente, coordenadores da campanha presidencial de Eduardo Campos criticaram o "vampirismo" eleitoral evidenciado pelo adversário tucano. Aécio disse que novos dissidentes devem deixar a base do governo Dilma Rousseff, mas que eles vão ainda sugar um pouco mais antes de aderirem à sua candidatura. "A gente não quer esse tipo de gente que suga. Que eles continuem sugando do PT e do PSDB", reagiu o sergipano Pedrinho Valadares, um dos coordenadores da campanha do candidato do PSB.

"Eu digo: façam isso mesmo. Suguem mais um pouquinho e depois venha para o nosso lado", foi o que declarou Aécio.
Essas contradições e falta de clareza quantos aos seus objetivos certamente são a razão de continuar patinando nos números. Ainda mais quando o que diz, ou deixa de dizer, acontece num momento quase inteiramente contrário a ele. É que a Copa do Mundo mudou o humor geral dos brasileiros e parece estar influenciando a avaliação do governo, as expectativas econômicas e até a eleição presidencial.

Pesquisa Datafolha finalizada na quarta-feira, 2, mostra que a proporção de eleitores favoráveis à Copa no Brasil subiu de 51% para 63% em um mês e o orgulho com a realização do Mundial saltou de 45% para 60%. Aparentemente na carona dessa melhora do humor da população, as intenções de voto em Dilma avançaram de 34% para 38% e a aprovação do governo variou positivamente, de 33% para 35%.

No mesmo período, o senador Aécio Neves oscilou de 19% para 20% e Eduardo Campos foi de 7% para 9%, deixando assim a posição de empate técnico com o Pastor Everaldo (PSC), estacionado em 4%. José Maria (PSTU) tem 2%, e Eduardo Jorge (PV), 1%. Os outros presidenciáveis não chegaram a pontuar. Os votos nulos e brancos caíram de 17% para 13%.

Na pesquisa espontânea, em que o entrevistador pergunta pelo voto sem apresentar os nomes dos concorrentes, Dilma foi de 19% para 25%. Na economia, a reversão do humor aparece em relação à expectativa de inflação (recuo de 64% para 58%), desemprego (de 48% para 43%) e poder de compra do salário (avanço de 27% para 32% dos que esperam melhoria).

Agora, 30% acham que a economia do país irá melhorar. Eram 26% em julho. E 48% estão otimistas com a própria situação econômica. Eram 42% há um mês.

O Datafolha mostrou também que, para 76%, os torcedores que xingaram a presidenta no jogo de estreia da Copa, em São Paulo, agiram mal. Mesmo entre os eleitores de Aécio e Campos, a reprovação foi majoritária: 69% e 72%, respectivamente.

Se Dilma crescer mais um pouco, o que não parece impossível, aumenta a possibilidade de não haver segundo turno. Será um vexame para Aécio Neves.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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