Dilma, quem diria, tem ajuda da economia

Dos últimos cinco governos do Brasil, dois de FHC, dois de Lula e este primeiro de Dilma, foi neste que a economia menos cresceu. Mesmo na comparação com o segundo governo tucano, até então o mais fraco nesse aspecto, o governo da petista fica em desvantagem. De 1999 a 2002, o Brasil cresceu 8,6% — média de 2,1% ao ano. Considerando a projeção de crescimento feita pelo Banco Central para este ano, de 0,2%, o primeiro quadriênio de Dilma, 2011 a 2014, terá crescido 6,4% — média de 1,6% ao ano. Nos oito anos de FHC, o crescimento foi de 18,7%. Nos oito de Lula, crescimento de 28,8%.

O fraco crescimento agora, que o governo aponta ainda como reflexo da retração da economia mundial, principalmente da Europa e Estados Unidos, seria o obstáculo decisivo no caminho da reeleição da presidenta. Mas a campanha eleitoral reverteu essa expectativa, o otimismo com a economia voltou a crescer e esse dado, comprovado estatisticamente, alavancou Dilma na disputa eleitoral, especialmente no segundo turno.

Os brasileiros em geral estão na contramão do sentimento do mercado financeiro, de muitos  economistas e alguns organismos internacionais. Veja o exemplo do que acham uns e outros sobre a inflação. A pesquisa Datafolha de terça-feira, 21, mostra que a expectativa de aumento dos preços desmoronou para o patamar mais baixo da série do instituto, iniciada em 2007.

Em abril, no momento de maior pessimismo, 64% achavam que a inflação iria aumentar. No fim de setembro, 50% continuavam esperando o pior. No começo da semana, apenas 31% acreditavam nisso. No sentido oposto, a esperança de queda da inflação também é recorde. Para 21%, o índice irá diminuir.

Ao opinar sobre desemprego, poder de compra, situação econômica do país e a própria situação, a tendência é a mesma: otimismo crescente, pessimismo declinante.

A explicação para o aumento do otimismo pode ser a própria campanha eleitoral. Principalmente a de Dilma, mas também a de Aécio.

Isso porque tanto a maioria dos eleitores da petista quanto a maioria dos adeptos do tucano apostavam que seus respectivos candidatos iriam vencer. E quase todos tendem a crer que o próximo presidente terá condições de promover melhorias.

Mas a exposição das diferenças fundamentais entre os modelos econômicos apresentados pelos candidatos permite que o eleitor saiba diferenciá-los, mesmo que não entenda a raiz do problema.

Na questão da inflação, por exemplo, o brasileiro sai de um debate tão intenso sabendo (ou lembrado) que, no governo FHC, o PSDB conseguiu reduzir a inflação às custas de juros altos e muito arrocho para o trabalhador. Mesmo assim não conseguiu mantê-la neste patamar. Quando ele deixou a presidência, a inflação batia a casa dos 12%, quase o dobro dos 6,5% que temos hoje com Dilma, que a manteve sempre dentro das metas aumentando os salários e garantindo mais direitos aos trabalhadores.

Quanto ao desemprego, no governo FHC, a orientação da política econômica foi a da estabilização da moeda. No governo Lula, o crescimento econômico simultâneo à distribuição de renda. No governo Dilma, é a manutenção do emprego combinada com baixa taxa de juros. Não por acaso, em quatro anos, Dilma criou mais postos de trabalho do que FHC em oito: uma média de 1,79 milhão ao ano, nos governos petistas, contra a média de 627 mil ao ano, na era tucana. O Brasil de Dilma tem as menores taxas de desemprego da sua história: 5,4% em 2013, contra 12,2% em 2002.

As diferenças entre as políticas públicas tucanas e petistas para o salário mínimo ficam ainda mais claras com os números. Em 2002, o mínimo era de R$ 200, o equivalente a 1,42 cesta básica. Hoje, é de R$ 724, o que permite comprar 2,24 cestas básicas. Uma mudança no poder de compra do trabalhador, que, combinada com programas sociais, ajudou mais de 50 milhões de brasileiros a saírem da pobreza.

Juros: no auge da crise de 1998, a maior enfrentada pelo governo do PSDB, a Taxa Selic chegou a 45%. Ou seja, o grande investidor que tinha R$ 1 milhão em aplicações ganhava R$ 450 mil só deixando o dinheiro no banco. O presidente do Banco Central, à época, era o mesmo Armínio Fraga, responsável pela elaboração do programa econômico de Aécio e cotado por ele para reassumir o órgão. Já nos governos do PT, os juros sempre registraram patamares inferiores. A presidenta Dilma mudou as regras da poupança e usou os bancos públicos para pressionar os privados a baixarem os juros. Com a posterior mudança do cenário internacional pós-crise, acabou tendo que ceder e elevar as taxas, que hoje estão na casa dos 11% ao ano, ainda bem distantes dos 45% do governo FHC.

O perfil da dívida brasileira mudou muito do governo do PSDB para o do PT. Na era tucana, a divida era externa, cobrada em dólar. E FHC fazia qualquer coisa para perseguir o superávit primário destinado a pagar seus altos juros: ajustes fiscais, demissões, reduções de direitos. O país era subjugando às exigências do FMI. O governo Lula saldou os débitos do país com o FMI. Agora, a dívida é interna. Pode ser rolada e controlada com a emissão de mais títulos e até mais moeda. Além disso, vem diminuindo significativamente seu peso no orçamento.

A desindustrialização atingiu quase todo o mundo no pós-crise econômica mundial de 2008. Os Estados Unidos, só agora, conseguiram retomar o nível de industrialização de 2006. A Itália apresenta um índice 20 pontos menor. O Brasil, no entanto, cresceu 11%, um dos maiores patamares conforme a OCDE, ao contrário do que martela a grande imprensa.
No modelo do PSDB – centrado no estado mínimo, privatizações e controle privado da economia – a taxa de investimentos chegou a atingir 15,1%. Mas nos governos do PT, com o Estado mais forte, ela subiu e hoje já registra 19,5%. O modelo de crescimento petista também é baseado na ampliação do mercado interno, mas ao contrário do que dizem os críticos, pelo menos desde 2007, com a criação do PAC, o investimento passou a ter maior participação no crescimento do que o consumo.

O foco da política externa durante o governo do PSDB era o relacionamento diplomático e econômico com os países desenvolvidos, onde o Brasil era sempre a parte mais fraca e sem grandes poderes de barganha. Já os governos petistas fortaleceram as relações Sul-Sul, com o Mercosul, Brics e Unasul, que o deixaram menos suscetível às exigências dos grandes. Essa política externa vem dando certo, permitindo acertos como a criação do Banco dos Brics e a maior independência em relação aos desenvolvidos.

Por fim, no governo do PSDB, a principal missão do BNDES era sanear as empresas públicas destinadas à privatização e financiar os investidores que iriam adquiri-las, no chamado Programa Nacional de Desestatização. Em 2002, seu lucro foi de R$ 550 milhões. A partir do governo Lula, a missão do BNDES é incentivar o crescimento investindo nas empresas brasileiras de todas as áreas. No governo Dilma, 93 das 100 maiores empresas brasileiras receberam recursos do BNDES. Das 500 maiores, 480 foram contempladas. Em 2013, seu lucro foi de R$ 8,15 bilhões.

Mesmo que os brasileiros não compreendam exatamente os meandros da economia, eles têm certeza de que a vida melhorou e uma percepção muito forte de que o país se move no caminho certo, mesmo num ano de baixo crescimento como o atual. Esse é um argumento difícil de ser batido numa campanha eleitoral.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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