A Biblioteca Nacional de Lisboa guarda dois textos curiosos, ligados a Sergipe. O primeiro é de uma peça teatral, de autoria de José Alexandrino de Avelar e tem por título O amor pelo medo (Indicação de Catálogo COD 11849). É um texto de 1854, adaptado por Eduardo Antunes Martinho, que foi levado à cena, pela primeira vez, em Faro, Portugal, pelo ator Antonio Augusto Xavier de Macedo, em 26 de agosto daquele mesmo ano e depois itinerou por algumas Províncias brasileiras. A peça recebeu visto da Secretaria de Polícia de Sergipe e foi um primeiros textos a ser encenado em Aracaju, que começava sua história de capital. O segundo texto – Os crimes do bandido Lampeão – 2 volumes, (Indicação de Catálogo L 24210 P e L 24211 P), tem como subtítulo Aventuras e vida do famigerado bandoleiro, de autoria de Floriano Sergipe, escrito em Belém do Pará, em 1931, e editado em Lisboa, por Henrique Torres Editor, no mesmo ano. Os dois pequenos volumes, são ilustrados com fotos e desenhos, como o do Dr. Eurico de Souza Leão, Chefe de Polícia que comandou, em 1926, tropas contra Lampeão, de cangaceiros, como Beija-Flor, inclusive um retrato “atualizado” do capitão Virgulino Ferreira da Silva. Ao que parece, o texto de Floriano Sergipe foi adaptado, por A. Victor Machado, para o teatro, contando as razões amorosas de Lampeão para entrar no cangaço. O autor afirma que compôs sua obra a partir dos fatos verdadeiros, que colheu nas suas andanças pelo nordeste brasileiro. O primeiro texto atesta o esforço sergipano em manter sintonia com artistas e grupos teatrais, que andavam pelo Brasil em temporadas marcantes, como as que ocorreram no célebre Teatro Santa Isabel, no Recife, contando com a presença poética de Tobias Barreto e Castro Alves. São Cristóvão, enquanto capital da Província, atraía artistas e grupos para apresentações freqüentes. Aracaju, a partir de 1855, seguiu no mesmo caminho e fez das suas casas de espetáculos espaços especiais de arte, como o pequeno Teatro São José e, no começo do século XX, o Teatro Carlos Gomes, casa também dos cinematógrafos, e a partir de 1913 convertido em Cine Teatro Rio Branco. O texto sobre Lampeão demonstra o interesse do ciclo do cangaço, em outras partes do mundo. O caso de Lisboa, que editou os dois volumes de Floriano Sergipe, não é único. Na imprensa francesa, por exemplo, as notícias sobre Lampeão exploravam um certo romantismo, aureolando a figura do cangaceiro como a de um cavalheiro que sabia tocar e dançar muito bem, conciliando a sua luta no sertão nordestino com as aventuras românticas, conquistando corações. Não há indicação sobre o autor Floriano Sergipe, seu local de nascimento, profissão, e outras coisas. Numa das capas ele indica ter escrito o texto em Belém, capital do Pará. Não se sabe, então, porque a edição foi feita em Lisboa, por um editor conceituado em livros populares como era Henrique Torres. A prosa, em capítulos, conta aventuras e desventuras amorosas de Virgulino Ferreira da Silva, fugindo dos chavões de embates travados entre os cangaceiros e seus desafetos, inimigos e volantes. Mesmo prevenindo que o texto era fiel a verdade dos fatos, colhida diretamente pelo autor nas fontes, trata-se de uma ficção, com o objetivo claro de tentar fixar um personagem marcado pela tragédia pessoal, e que não teve alternativa a não ser ser convertido em um bandido. Lamentavelmente, a Biblioteca Nacional de Lisboa não permite a cópia, integral, dos textos, mas no máximo dois terços das publicações. De qualquer modo valerá o esforço local de ir buscar, em Portugal e no Rio de Janeiro, textos manuscritos e impressos, que ajudam a compreender melhor a história e a cultura de Sergipe.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários