Dois lançamentos de livros

Ainda em 2010, no apagar das luzes do ano, dois lançamentos editoriais contribuem para aumentar o acervo do interesse de Sergipe e dos sergipanos: Rio São Francisco, um ninho de cultura, dos professores alagoanos Douglas Aprato Tenório e Carmem Lúcia Dantas: (Maceió:EDUFAL, 2010) e Genealogia Sergipana, de Ricardo Teles Araújo (Aracaju: Gráfica Editora J. Andrade, 2010). O primeiro, chancelado pela Editora da Universidade Federal de Alagoas, confirma a ação cultural empreendida pela UFAL, prestando enorme serviço à cultura alagoana. Já o segundo, mesmo tendo sido aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura, saiu graças ao despreendimento do próprio autor, que além de pagar a edição, deu preferência a fazê-lo em Aracaju.

O livro sobre o São Francisco dá forma as pesquisas que, de algum tempo vem sendo feitas sobre a orientação de Douglas Aprato Tenório, um dos mais atuantes e brilhantes quadro das Alagoas, como intelectual da cátedra, do executivo e da promoção cultural. Graças a ele, as belas paisagens alagoanas correm mundo, em livros que põem a cartofilia em estado de graça. Os serviços prestados pelo professor e escritor Douglas Aprato Tenório de há muito romperam com a fronteira local e regional, difundidos em todo o País, debaixo dos aplausos merecidos, pela qualidade e oportunidade dos seus textos. Tendo como parceira, mais uma vez, a professora Carmem Lúcia Dantas, autora de outros trabalhos de pesquisa, desde que andou em Sergipe, conhecendo e registrando o universo das bordadeiras e de outros artesãos.

Douglas Aprato, Carmem Lúcia, Cícero Péricles, Simone Cavalcante, Ênio Lins e tantos outros de uma mesma geração, dão mostras de como a cultura local tem de riqueza, importância e atualidade,como um patrimônio social que deve ser sempre protegido, por falar de lugares e vidas, sentimentos e artes, na batalha incessante por adornar o mundo das suas próprias belezas. O grupo tem consciência de que o rio São Francisco, tão velho na história quanto o Brasil, diretamente da sua foz, dando certidão de nascimento a Sergipe e Alagoas, e abonando a combinação de raças que marcou os dois territórios, não é apenas um curso d’água, e já seria muito pela sua extensão e potência, mas é, e isto é muito relevante, um ninho de cultura, que não pode ser transposto pela vontade dos poderosos. A cultura, diferentemente do povo, que pode ser manipulado,  tem poder de reação.

Em Sergipe, um pequeno grupo tem conversado, permanentemente, com os atuais mestres das Alagoas, buscando quais os caminhos para o registro, a reflexão e o aproveitamento das heranças históricas, artísticas, sociais e culturais. Uma sintonia que avança com o lançamento do livro que a Editora da UFAL acaba de editar. O encontro das colônias e dos intelectuais dos dois Estados será no dia 7 de dezembro, no Palácio Museu Olímpio Campos, a partir das 18 horas.

Ricardo Teles Araujo, filho, neto, bisneto e mais da sua descendência de sergipanos, tem sido, nas últimas três décadas, o mais importante pesquisador das famílias sergipanas, a partir do cenário próspero de Laranjeiras, com seus canaviais, engenhos e usinas. Amigo e colaborador do saudoso Carlos Cabral, que deixou inédito o seu trabalho de muitos anos, sobre sergipanos, Ricardo Teles Araujo mostra-se vitorioso no seu projeto, reunindo um acervo fantástico de famílias sergipanas, ilustrando com velhos e novos retratos, para guardar, para o futuro, a sociedade que marcou o tempo. Pesquisador minuncioso, que não arrisca sua legitimação com informações avulsas, mas que remexe arquivos, desde os mais antigos, superando dificuldades para resguardar dados e nomes dos que fizeram a economia, a vida social e cultural de Sergipe.

Ninguém ignora que os acervos permanecem, há décadas, entregues a traça, ao abandono, sem recursos mínimos para preservar a carta de identidade que os sergipanos podem ir buscar nas páginas da história. As prioridades das administrações são outras, bem diversas daquelas que protegem as fontes e visitam as referências, no sentido de esclarecer, sem distorcer a história, o que foi a saga desse povo que habita o território brasileiro, compreendido entre os rios São Francisco e Real. Aquilo  que não teve curadoria, como a antiguidade indígena e a escravidão negra, tem sido, em certa medida, minimamente recuperado, como são exemplos o Museu de Xingó, em Canindé do São Francisco, e o Museu Afro Brasileiro de Sergipe, em Laranjeiras.

O esforço intelectual de Ricardo Teles Araújo é uma contribuição enriquecedora para a lista bibliográfica sergipana. Acolhê-lo com seu livro, que é promessa de outros trabalhos, é o mínimo que Sergipe de hoje presta de  homenagem ao seu passado. O lançamento será, também no Palácio Museu Olimpio Campos, às 18 horas do dia 17 de dezembro próximo.

Reparo: Graças a atenção do dr. Benedito Figueiredo corrijo informação sobre Passos Porto. Afirmei que ele encerrou sua participação política e eleitoral ao findar o mandato de senador, em 1987. Errei, Passos Porto foi candidato a vice-governador, em 1986, como companheiro de chapa de José Carlos Teixeira. Está, assim, feita a correção, feita, também, no texto do Arquivo permanente da Infonet.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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