Foi Dom Távora, com sua experiência de Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, quem deu vida à Província Eclesiástica de Sergipe, criada em 1960, que na prática transformou a Diocese de Aracaju em Arquidiocese, e criou duas Dioceses no interior, uma em Estância, confiada a Dom José Bezerra Coutinho (nascido no ceará em 7 de fevereiro de 1910 e falecido em 7 de novembro de 2008, em Fortaleza) e outra em Propriá, que trouxe a Sergipe o redentorista mineiro Dom José Brandão de Castro, também já falecido. Os três bispos, três José, deram à Igreja em Sergipe uma contribuição que ainda não foi devidamente estudada, em toda a sua extensão e grandeza. Situados em suas Dioceses e responsabilidades, cada bispo com suas virtudes e qualidades no contato com a realidade do povo, cumpriu com fidelidade o papel que a hierarquia do Catolicismo recomendava. Em Aracaju, Dom Távora tinha a imensa responsabilidade de substituir a um bispo que realizou muitas obras importantes, Dom Fernando Gomes dos Santos, que era substituto do venerando Dom José Tomás, que implantou a Diocese, criou o Seminário Sagrado Coração de Jesús e que teve longa e profícua presença entre os sergipanos. Preparado, experiente, Dom Távora exerceu, com visão de estadista da Igreja, um papel renovador, que o padre Isaias Nascimento destaca, com muita justiça, no seu livro biográfico. Mais do que avanços, Dom Távora deu exemplo de atitudes, gestos que marcaram as relações, muitas vezes tensas, entre o Arcebispo e o Poder sob a tutela militar deste 1964. Digno na sua autoridade, responsável em seu governo, progressista na sua visão do mundo, Dom Távora honrou o clero, resistindo até a morte ao patrulhamento e constrangimentos impostos pelos tempos duros do regime militar. Dom Coutinho teve um bispado mais tranqüilo, abarcando uma região onde os conflitos de terra eram raros e a distribuição da riqueza era menos concentrada. Dom Brandão, contudo, enfrentou um gueto de miséria, com poucos muito ricos e uma multidão de famintos, que precisam ser assistidos, antes que a adversidade e a injustiça os fizessem debandar do rebanho de Deus. A ação política de Dom Brandão libertou do obscurantismo as populações sanfranciscanas de Sergipe, que passaram a conquistar direitos com os quais sempre sonharam. Acostumado a pregação, nas Santas Missões de Minas Gerais e da Bahia, Dom Brandão fez do jornal da Diocese – A Defesa – porta-voz das comunidades, na luta contra a política dos mesmos chefes e seus prepostos. Tornou membro da Academia Sergipana de Letras e foi, até resignar-se e voltar a Minas Gerais, um sergipanizado com uma folha de serviços notáveis e inesquecíveis. Padre Isaias Nascimento trata de Dom José Vicente Távora, da sua chegada a Sergipe, como Bispo de Aracaju, sua promoção a Arcebispo, capitulando as ações pastorais que marcaram o arcebispado, em capítulos elucidativos, assim definidos: Dom José Vicente Távora, Bispo de Aracaju, cobrindo 13 anos de intensa atividade, A criação da Província Eclesiástica de Aracaju; A participação de Dom Távora no Concílio Vaticano II; Reações da Igreja contra a fome e a miséria em Sergipe, arrolando uma prática de grande apelo e repercussão social; Dom Távora e a noite escura de 1964; e Abril de 1970, data da morte do eminente prelado, vitimado pelas pressões que rebentaram seu coração doce de homem bom e justo. O livro tem, ainda, informações sobre as Paróquias criadas, os padres ordenados por Dom Távora e, ainda, sua Primeira Mensagem Pastoral. Padre Isaias Nascimento dá uma lição de como se pode e se deve escrever uma biografia, com seu contexto, dando à historiografia de Sergipe uma contribuição singular, tanto pela justeza e oportunidade de fazer o resgate de uma vida, como se colocar os fatos na ordem seqüencial de suas importâncias, situando um contexto que interessa a todos conhecê-lo. O livro não encerra tudo o que diz respeito a Dom Távora, mas permite um contato significativo das novas gerações com a obra pastoral do Bispo e Arcebispo de Aracaju, que morreu há 38 anos, mas que ficou na memória de todos os do seu tempo, pela lucidez, pela coragem, pelo destemor, pela responsabilidade e pelos serviços que prestou a Sergipe, através do Movimento de Educação de Base – MEB, da Rádio Cultura, do jornal A Cruzada, de obras criadas e mantidas pela Diocese/Arquidiocese, e principalmente pelas lições cívicas que honraram a história eclesiástica sergipana. Fiel aos fatos, criterioso no uso das fontes, elegante no texto, padre Isaias Nascimento expõe, nas 254 páginas do seu livro, um retrato muito bem feito do seu biografado, adornando-o de tudo aquilo que colheu, nas pesquisas, sobre aqueles tempos difíceis de luta e resistência, no qual aflora com grandeza o vulto de Dom José Vicente Távora, sublinhado com o título de O Bispo dos Operários. As Dioceses de Estância e Propriá e a Arquidiocese de Aracaju devem espalhar pelas mãos dos católicos de Sergipe, de todas as idades, o livro do padre Isaias Nascimento com a bela biografia de Dom José Vicente Távora.
O padre Isaias Nascimento, sergipano de Riachão do Dantas, conhecido em todo o sertão do baixo rio São Francisco pela sua atuação solidária com trabalhadores e populações marginalizadas, sendo um descendente direto da ação da Diocese de Propriá, na quadra de tempo dirigida por Dom José Brandão de Castro e agora retomada por Dom Mário Rino Sivieri, é autor do livro Dom Távora o bispo dos operários (São Paulo: Paulinas, 2008), uma correta e justa biografia, que recompõe, para a história política, religiosa e cultural de Sergipe a presença, entre 1957 e 1970, de Dom José Vicente Távora, como bispo e arcebispo de Aracaju.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários