Carta aberta aos amantes da literatura e à sociedade aracajuana

Há datas que nascem do tempo, e outras que nascem da luta.

Há datas que nascem do tempo, e outras que nascem da luta. O Dia Municipal da Literatura Aracajuana, celebrado agora em 7 de junho, pertence a este último grupo, fruto da semeadura paciente, do diálogo perseverante e da fé inabalável na potência transformadora da palavra.

Foi no ano de 2023, movida pelo compromisso de longa data com a valorização da literatura produzida em nossa capital, que procurei o então vereador Ricardo Marques, hoje vice-prefeito da cidade de Aracaju. Levei a ele um apelo que era, ao mesmo tempo, pessoal e coletivo: a necessidade urgente de instituirmos uma data oficial que celebrasse a produção literária aracajuana. Já contávamos com o Dia da Literatura Sergipana, mas faltava-nos um espaço simbólico e institucional que reconhecesse, com merecimento, o labor criativo dos escritores que fazem pulsar a alma da capital sergipana.

Expliquei-lhe que essa luta não era recente. Juntamente com o mestre Domingos Pascoal de Melo e tantos outros companheiros de ofício e sonho, vínhamos há mais de uma década promovendo ações voltadas à divulgação, renovação e legitimação da literatura produzida por autores aracajuanos. Precisávamos de uma validação pública e oficial que nos impulsionasse ainda mais. Ricardo Marques, demonstrando sensibilidade, espírito democrático e profundo respeito pela cultura, acolheu o pedido e apresentou o Projeto de Lei nº 5.738, de 14 de julho de 2023, instituindo assim o Dia Municipal da Literatura Aracajuana, inicialmente marcado para o dia 29 de outubro.

Contudo, mesmo diante desta conquista, compreendi, como educadora e articuladora cultural, que a data inicialmente fixada coincidia com um período letivo repleto de outras comemorações, o que, inevitavelmente, dificultaria sua devida valorização no ambiente escolar e nos calendários culturais. Retornei, então, ao diálogo com Ricardo Marques, solicitando a mudança da data para o dia 7 de junho, data de nascimento do nosso ilustre Tobias Barreto de Menezes, escritor, filósofo, jurista e patrono da Academia Sergipana de Letras, além de patrono da Cadeira nº 38 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de seu discípulo e amigo Sílvio Romero.

Mais uma vez, o vereador mostrou-se acessível, sensível e compromissado com a história e a cultura da nossa terra. Em 15 de fevereiro de 2024, encaminhou novo projeto de lei alterando a redação da lei anterior e consolidando o dia 7 de junho como data oficial e permanente do Dia Municipal da Literatura Aracajuana, um gesto que honra Tobias Barreto, cuja memória inspira a todos nós que militamos pelas letras com devoção.

Hoje, ao ver essa data florescer no calendário de nossa cidade, não posso deixar de testemunhar publicamente meu envolvimento, minha iniciativa e minha voz ativa neste processo. Sim, houve ali o meu pedido, a minha presença e o meu compromisso com a causa literária de Aracaju, em dois momentos decisivos. E houve, sobretudo, a nobreza de espírito de um agente público que escutou e fez acontecer.

Esta carta é, portanto, um registro de memória, uma prestação de contas afetiva e cultural, e uma declaração de honra a todos os que, como eu, acreditam na força das palavras, nas sementes lançadas pelo livro, e na urgência de celebrar os nossos autores, nossos leitores e nossa identidade literária.

Que este 7 de junho, agora imortalizado em nossa história, floresça ano após ano como o dia em que Aracaju reconheceu em seus escritores, poetas e cronistas, não apenas artistas, mas construtores da alma de um povo.

Com estima, gratidão e firmeza de propósito,

Cris Souza

Educadora, escritora, jornalista e militante da literatura.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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