Por Domingos Pascoal
No mês de julho de 2025, na UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, o ambiente acadêmico foi palco de muito mais que defesas de dissertações: foi um tempo de resgate de memórias, de reconhecimento de trajetórias e de comoventes reencontros com o passado. Duas pesquisadoras da linha de História da Educação, vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED/UFS), lançaram luz sobre capítulos até então esquecidos da história educacional de Sergipe, com especial ênfase no município de Maruim, reconhecido polo de cultura, história e memória no Vale do Cotinguiba. Com apurado rigor metodológico e profunda sensibilidade social, seus trabalhos revelaram o percurso de meninas do interior sergipano que, mesmo diante de desafios estruturais e culturais, buscaram na educação um caminho de dignidade e emancipação. O que se viu e ouviu na UFS foram mais que apresentações acadêmicas: foram ecos de um passado silenciado que agora reencontra seu lugar no tecido da memória coletiva. Foram mais que pesquisas: foram gestos de reparação. Foram mais que defesas: foram verdadeiros atos de homenagem.
Na manhã do dia 11 de julho de 2025, a pesquisadora MARÍLIA MARQUES CRUZ E SILVA ACCIOLY apresentou e defendeu sua dissertação intitulada “Itinerários de alunas do interior para a capital: entre o Grupo Escolar Padre Dantas, o Ginásio Maruinense e o Atheneu Sergipense (1956-1972)”. Orientada pelo Prof. Dr. João Paulo Gama Oliveira, a investigação recupera os passos de jovens oriundas de Maruim, que entre travessias de rios, malas de couro e sonhos costurados a lápis e caderno, buscaram educação em Aracaju. A banca, formada por Prof. Dr. Magno Francisco de Jesus Santos (UFRN), Prof. Dr. Norberto Dallabrida (UDESC/UFS) e Profa. Dra. Simone Paixão Rodrigues (DEDI/UFS), reconheceu na pesquisa o valor de uma história que é, ao mesmo tempo, individual e coletiva, feita de gestos simples, como o ato de acordar com o som do rádio para ir ao colégio, e de lutas invisíveis para permanecer nos estudos. A defesa, realizada na sala 402 do prédio de Didática VII, foi acompanhada com emoção por sua filha, Marina Marques Accioly, seu esposo, Romeu Accioly, e por sua mãe, a professora Me. Maria Lúcia Marques Cruz e Silva, presidente da Academia Maruinense de Letras e Artes (AMLA). Estiveram presentes também o Presidente de honra e a vice-presidente da AMLA, Domingos Pascoal de Melo e Janyne Rossana Barbosa Pereira, além de quatro mulheres que personificam o tema da dissertação: as ex-alunas Maria Inácia dos Santos, Maria Raimunda dos Santos, Neilde Lemos e Maria Lúcia Marques Cruz e Silva, cujas memórias cruzam as páginas do texto com rara autenticidade. Acompanharam com entusiasmo os colegas do Grupo de Pesquisa História da Educação: sujeitos, patrimônio e práticas educativas (Hescolar/UFS/CNPq): Luana de Jesus, Vitória Lídia, Ruy Moisés, Douglas Lima da Costa, Carla Santos e Ana Márcia Barbosa dos Santos Santana. Juntaram-se aos presentes: Jadi Rosa, Anne Emilie Cabral, Patrícia Brunet e Adriana Oliveira.
Dia 21 de julho de 2025, a pesquisadora JANYNE ROSSANA BARBOSA PEREIRA apresentou sua dissertação “Entrelaçando caminhos: ações educativas da Associação de Proteção a Menores Abandonados São José (1949-1973)”. Numa narrativa construída com documentos, entrevistas e afeto, Janyne lançou luz sobre uma instituição esquecida pela história oficial, mas decisiva na vida de muitas meninas do interior sergipano. A Associação de Proteção aos Menores Abandonados São José, com duas ações direcionadas para a escola primária e o curso preparação em economia doméstica rural, aparece na pesquisa não apenas como abrigo, mas como espaço que ofereceu acesso à escolarização e chances de inclusão social, ainda que dentro dos limites impostos à época.
Orientada pelo Prof. Dr. Joaquim Tavares da Conceição, a autora enfrentou, com leveza e firmeza, as questões colocadas por uma banca composta por nomes de referência no campo: Profa. Dra. Alessandra Barbosa Bispo, Profa. Dra. Aristela Aristides Lima, Profa. Dra. Cynthia Greive Veiga e Prof. Dr. Jorge Luiz Zaluski. Na plateia, a história viva estava presente: Neilde Lemos, ex-aluna da instituição estudada e hoje professora, emocionou-se ao ver seu passado ser transformado em objeto de pesquisa e dignidade acadêmica. Com ela, estavam os alicerces da autora: sua mãe, Rita Ferreira Barbosa Pereira, suas filhas, Júlya Rossana Barbosa Feitosa Costa e Joanna Rossana Barbosa Feitosa Costa, seu irmão, Prof. Me. João Barbosa Pereira Júnior, e seu sobrinho, João Barbosa Pereira Neto. A sessão foi acompanhada também por membros da Academia Maruinense de Letras e Artes (AMLA), entre eles Prof. Me. Maria Lúcia Marques Cruz e Silva, Domingos Pascoal de Melo, Inácia Dória e Prof. Me. Marília Marques Cruz Silva Accioly, agora em outra posição: como ouvinte e personagem. O Grupo de Pesquisa em História da Educação: memórias, sujeitos, saberes e práticas educativas (GEPGHED/UFS) esteve presente com força: Profa. Dra. Andreza Cristina da Silva Andrade, Profa. Dra. Walna Patrícia de Oliveira Andrade, Profa. Me. Thalya Emanuelle da Rocha Antão, Prof. Me. Paulo Mateus Silva Vieira, Profa. Me. Juselice Alencar, Prof. Me. Alfredo Bezerra e Profa. Jeane Gabriely dividiram o momento com entusiasmo. Do campo das tradições e simbolismos, estiveram presentes representantes do Grande Oriente do Brasil-Sergipe: Wolney de Melo Dias (Eminente Grão-Mestre), Renato Maciel Andrade Filho (Presidente da Assembleia Estadual Legislativa Maçônica) acompanhado de sua esposa, Maria de Fátima Lessa M. Andrade, Osman Vieira Oliveira (Venerável Juiz de Direito Maçônico) e Dr. João Barbosa Pereira, Presidente do Tribunal de Justiça Maçônico. O evento ainda foi prestigiado pelos representantes do Instituto Estação Maruim: Ermeson Porto Santos (presidente), Juscelene Porto Santos e Débora Porto. E, entre os afetos que se mantêm nas bordas dos caminhos, estiveram as amigas Profa. Me. Patrícia Brunett e Profa. Me. Júlia Duarte, companheiras de jornada.
As defesas de Marília e Janyne não apenas concluíram dois percursos acadêmicos, mas também honraram vidas, tempos, espaços e pessoas que, com seus passos e silêncios, contribuíram para formar a história da educação sergipana. Em tempos em que a escuta é um gesto político, suas dissertações representam um compromisso com o cuidado, a memória e a justiça narrativa. Ambas nos lembram que o passado não é feito apenas de grandes feitos ou nomes célebres, mas de meninas que sonharam com a escola, mulheres que educaram entre linhas e agulhas, famílias que apostaram na formação, mesmo quando tudo parecia faltar. E é por isso que, nas defesas de 11 e 21 de julho, bordou-se algo maior que texto acadêmico: bordou-se pertencimento, história e futuro.