Samuel Mudd ( foto ) foi um afamado clínico do Estado de Maryland, Estados Unidos, que entrou para a história em razão de uma situação inusitada: sua ligação com o episódio que envolveu o assassinato do presidente norte-americano Abraham Lincoln, em 1865. Mudd possuía uma clínica abastada e era festejado pela população como um médico humanitária e extremamente generoso. Quis o destino, entretanto, que ele fosse envolvido num episódio que ainda nos dias de hoje suscita questionamentos. Teria ele participado da conspiração para o assassinato do presidente ou foi o destino que fez chegar a sua porta, em plena madrugada, John Wilkes Booth, que havia percorrido em fuga, quase 50 km apeado num cavalo, com a perna fraturada, na companhia do seu cúmplice, David Herold?
Horas antes, no Teatro Ford, em Washington, o ator John Wilkes Booth havia assassinado Lincoln com um tiro pelas costas, no camarote em que se encontrava. Na fuga, ao pular do camarote presidencial para o palco, quebrou a perna. Mesmo ferido, conseguiu fugir na escuridão da noite, montado num cavalo e, ao amanhecer, bateu na porta do Dr.Mudd. O médico atendeu-lhe, fez curativos e em seguida ele continuou em sua fuga alucinada, conseguindo penetrar no Estado de Virgínia. Ao tomar conhecimento do assassinato, Mudd desconfiou dos fugitivos e denunciou o ocorrido à polícia.
O que ele não imaginava, aconteceu. O clima de revolta que tomou conta da população e a forte repercussão do crime exigiam das autoridades providências urgentes no sentido de prender o assassino. Mesmo tendo informado à polícia sobre a sua suspeita, ele passou a ser alvo do ódio e dos clamores de vingança da nação. Terminou sendo preso e condenado, por um tribunal militar, à prisão perpétua no Forte Jefferson, na Flórida. O Dr. Mudd terminou sendo o bode expiatório, condenado por ter atendido o assassino e supostamente haver facilitado a sua fuga. Na prisão, isolado do mundo junto aos outros presos, viu se alastrar, dois anos após, uma pavorosa epidemia de febre amarela, que dizimou quase todos os habitantes do presídio. Temerosos pela propagação da doença, o governo manteve-os encarcerados, largados à própria sorte e foi aí que a atuação do Dr. Mudd mudou outra vez o rumo da história. Livre de suas amarras pelos guardas, ele pôs-se a trabalhar sem tréguas no exercício de sua profissão, minorando o sofrimento seus companheiros de cela e de presídio. Pela abnegação e dedicação no trato com os enfermos recebeu do presidente Andrew Johnson o perdão, saindo da prisão em 1869. Morreu em 1876, aos 49 anos.
Tempos depois, surgiram indícios que evidenciavam que o encontro do Dr.Mudd com John Wilkes Booth não havia sido fortuito.
Dados posteriormente descobertos revelaram que ele já conhecia o assassino de Lincoln e juntos tinham participado de movimentos de protesto contra a política abolicionista dos Estados Unidos. O Dr.Mudd, além de tratar o paciente ferido, teria também facilitado a sua fuga ao providenciar muletas e permitir que o ator raspasse o bigode em sua casa. No seu depoimento, ele negou peremptoriamente o fato. Muitas questões ficaram em aberto e o tempo se encarregou de esquecê-las.
Teria sido o Dr.Mudd uma vítima do destino ou foi de fato um conspirador?