Elóida Ferraz |
Sergipe, que deu ao Brasil algumas gerações de intelectuais, médicos, militares, bacharéis e juristas, filósofos e artistas, também é pátria de mulheres ativas, que conquistaram espaços generosos com seus fazeres e pensares, suas criações e suas participações na militância possível da sociedade. Etelvina Amália de Siqueira, professora da Escola Normal, jornalista, poeta, engajou-se na campanha abolicionista, integrando a Sociedade Libertadora Sergipana, liderada por Francisco José Alves, participou da Hora Literária, que antecedeu a Academia Sergipana de Letras, escreveu e publicou poemas e livros, podendo ser, simbolicamente, a representante feminina no século XIX e primeiras décadas do século XX, sem demérito de outras tantas mulheres engajadas nas lutas culturais, como Ítala de Oliveira, médica, Maria Rita Soares, magistrada, Quintina Diniz, professora, Deputada Estadual Constituinte, em 1935. Outros nomes, apanhados na prática dos seus fazeres por Lígia Pina ( A Mulher na História), podem ser referenciados nas pessoas de Ofenísia Soares Freire, de Estancia, e Maria Thetis Nunes, de Aracaju, vocacionadas para o magistério e para as lides culturais, ambas da Academia Sergipana de Letras, ambas falecidas.
Duas mulheres nascidas em Aracaju – HELENA ABUD e ELÓIDA FERRAZ – atuaram no Rio de Janeiro e construíram suas biografias com o selo do trabalho intelectual e da fibra inquebrantável, levada de Sergipe para ganhar o mundo com suas artes. Além de bem sucedidas na arte musical, elas cumpriram outros caminhos e construíram biografias que merecem o destaque do reconhecimento, como a imposição justa das homenagens de que são credoras.
Helena Abud |
HELENA ABUD, de família de comerciantes estrangeiros, cursou a Escola Normal de Aracaju e antes mesmo de concluir o curso liderou uma campanha pela criação do Jardim de Infância, levando ao Interventor Augusto Maynard, além da idéia, um montante de dinheiro, arrecadado de subscrições voluntárias, produto do esforço de algumas normalistas, empolgadas com a idéia de uma casa de ensino para as crianças menores de 6 anos. O resultado foi a instalação, em prédio especialmente construído segundo projeto de engenharia, que levava em conta preceitos pedagógicos, assinado pelo engenheiro Leandro Maciel, que mais tarde faria carreira política e governaria o Estado.
Além de ver sua idéia vitoriosa, HELENA ABUD ajudou no funcionamento do Jardim, como professora, com seu piano e seu talento. O piano foi instrumento comum nas casas de família e era vendido em casas comerciais, ensinado por vários mestres, como José Sanz, e HELENA ABUD se tornou exímia pianista e abriu curso de piano em Aracaju. Depois foi para o Rio de Janeiro, casou, em 1942, com o maestro Lorenzo Fernandes, que tinha sido seu professor no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, dirigido por Villa- Lobos passando a assinar HELENA LORENZO FERNANDES, e tornando-se valorizada como solista de muitos concertos, sendo designada Embaixadora da Música brasileira nas Américas. Nos anos de vida conjugal, até 1948 quando perdeu o marido, o piano e a sensibilidade de HELENA ABUD ganharam destaque no Brasil e muitos países do mundo. Autora de vários trabalhos, traça o itinerário de sua carreira artística em Caminhos por onde andei (Rio de Janeiro: Gráfica Vitória, 1985). HELENA ABUD morreu no Rio de Janeiro.
ELÓDIA FERRAZ, nascida em Aracaju, cresceu no Rio de Janeiro e tornou-se, desde muito cedo, aluna de piano, canto, harmonia e contraponto, regência e composição, dos quais serviram em sua carreira Filha de Lizipo Ferraz, neta de José Augusto Ferraz e sobrinha do grande empresário e benemérito Thales Ferraz, célebre Diretor da Fábrica Sergipe Industrial. Artista plástica premiada em várias exposições, mantém-se, ainda, em atividade, conciliando o canto lírico e as artes plásticas. A idade não tem impedido a sua participação em exposições nacionais e no exterior, onde dá mostra do seu reconhecido talento artístico.
Além do canto lírico e das artes plásticas ELÓDIA FERRAZ faz poesias, escreve livros, como Testemunhos do Inconsciente, Encontro e Sublimação e Saltérius da Lua Nova. Em 2010 publicou O Som nos Domínios Físicos e Extrafísicos (Rio de Janeiro: CCAA Editora), o que atesta a sua vitalidade e o seu compromisso com a arte musical e a cultura brasileira. Apesar do peso do tempo, ELÓIDA FERRAZ, que passou a assinar-se ELÓIDA FERRAZ MACEDO, em razão do casamento, evoca Aracaju e sua família, como patrimônios que conserva carinhosamente, juntando papéis, recortes de jornais e organizando uma informação sobre os FERRAZ, principalmente o tio Thales Ferraz, falecido no já distante 1927.