E D’Alema não fala!

O Ministro da Justiça Tarso Genro publicou o artigo “Fala, D’Alema” no Jornal Folha de São Paulo, edição de domingo 4 de janeiro, discorrendo sobre as inquietações da esquerda diante do atual momento econômico em cenário de crise financeira mundial.

 

O mote do artigo é a cena retirada do filme italiano “Aprile” dirigido e estrelado por Nanni Morettti, em que o personagem de Moretti assiste a um debate na televisão entre o Ex – Primeiro Ministro italiano (1998-2000) Massimo D’Alema, presidente do PDS, agremiação de centro esquerda e o seu oponente Silvio Berlusconi da Força Itália, o partido da direita italiana.

 

No filme, citado agora por Genro, Moretti imprecava nervoso diante das investidas de Berlusconi fustigando as teses de esquerda de seu oponente D’Alema. “Parla, D’Alema! Per Carità rispondi!”

 

E ‘o querido mestre da centro-esquerda italiana “non rispondeva”’.

 

Relembrando o artigo, o ministro Tarso Genro explicita suas perplexidades diante do atual momento mundial em que as democracias ocidentais norteadas no pensamento liberal de Estado enxuto e mínimo, se vêem agora na necessidade de sanear este mesmo mercado, que era tão perfeito e sem defeitos, utilizando os recursos públicos socializando os prejuízos.

Filme de Nani Moretti citado em um belo artigo do Ministro Tarso Genro no Jornal Folha de São Paulo de 04/01/2009.

 

A perplexidade acontece, porque há uma leitura rápida da realidade, sobretudo porque a queda do muro de Berlim ainda não foi suficientemente apreendida e nunca o será, afinal o que é norteado pela crença, pela idiossincrasia pura de gostos e de fé, entranha-se como nódoa nos neurônios, que é muito fácil em seu nome erguer fogueiras e suscitar mentiras. Esta nódoa impede a visão da luz e a oxigenação do ser, que continua a pensar em círculos sem mudanças em espiral.

 

A espiral é o progresso, o crescimento, a produção ampliada para promover o consumo e a geração de empregos, afinal, a despeito da crise atual, é ainda a iniciativa privada quem gera o emprego e não o estado provedor, como fora e ainda é, o único alucinógeno da esquerda.

 

“Parla, D’Alema! Per Carità rispondi”, grita agora Tarso Genro em seu artigo-catarse de impotente utopia: ‘Fala, esquerda! Fala fora da ortodoxia pré-Muro! Caiu o Muro de Berlim das agências de risco e nós dissemos muito pouco! Ou só obviedades. Caiu o socialismo burocrático, ruiu a social democracia, adoeceu o financeirismo neoliberal e nós estamos incrivelmente quietos’.

 

Na verdade a angústia de Genro é a mesma da nossa esquerda que já está no comando do país por décadas, só para aplicar em gestão, o que vem condenando como dogma.

 

Graças a Deus que foi assim! E Lula é o grande exemplo! Pacificou a canalha intelectual que crê no Estado onipotente para sanear todos os males e até a metralha que se aloja no serviço público ineficiente, que todos contemplamos. Lula pacificou a todos, apagando todos os fogos de sedição e desordem, que, diga-se de passagem, o seu discurso prometia.

 

Lula é o único a ter um discurso otimista no contexto de descrenças atuais.

 

Lula, o que soube dar purgativo até em cobras, lagartos e jacarés, aí incluídos os agressivos sem-terras, os sindicalista do serviço público, que continuam a lastimar o salário e a prestar um serviço ordinário, e os perdulários por beneficiários das grandes negociatas sempre bem havidas por escondidas, Lula é o único a dar respostas conseqüentes em meio a excedente e inconseqüente perplexidade.

 

E a esquerda que a isso não vê, como D’Alema e agora Genro, olham para si e o seu rastro, para imprecar contra o caminho que o mundo tomou e lhe foi diferente, mas que como fruto do inconseqüente lhe foi benéfico, dando-lhe o poder de nada poder fazer e responder.

 

E assim, quem deveria falar e esclarecer as incertezas se volta como um Moretti angustiado “Parla, D’Alema! Per Carità rispondi”.

 

E D’Alema não responde, porque a resposta jamais virá das teses de Genro e seus iguais. Suas teses vinham de uma pregação similar à do manipulador da fé dos néscios, que prometendo os céus inalcançáveis, acrescentam ao próprio bolso as delícias terrenas inenarráveis.

 

Sim, por que não me venham dizer que suas pregações eram idealistas? Não me venham com cantos sublimes de canduras e santidades. O mercado é o mercado, para todos! Sobretudo para os sabidos, ditos mais capazes, quando em verdade são mais capazes porque são mais sabidos e conseguem empalmar o poder. O resto é conversa de surdos, só para enganar os Moretti da vida, que teimam em querer as respostas que não vêm.

 

O Muro caiu, e ainda hoje há os que pensam em recompor as suas pedras espalhadas como totens. E assim retornam sempre os ilusionistas que o rabiscam como inolvidável sonho, sobretudo agora quando há uma crise que encrespa o mercado.

 

Quanto aos imorríveis inimigos do livre comércio sem entraves, há sempre a solução do problema, uns pedindo a injeção da poupança pública para sanear o desmando privado, revitalizando a eterna mamata dos que sugam o erário, e os outros, por vício, de caprichos e ranços hidrófobos, mordendo o mercado como cão raivoso, deitando sua baba visguenta agora, pregando esta tal mamação, só para afirmar que as suas teses dinossáurias de estado empresário são verdadeiras e merecem infelicitar a vida do povo bobo de novo.

 

E a vida não muda! Quem não tem competência não se estabelece! Quem não faz poeira, leva! Dirá o mercado e suas regras jamais apreendidas nos discursos de Moretti, de seu filme inquieto com D’Alema, e agora de Tarso Genro que se finge também inquieto e em expectativas, clamando etereamente aos céus uma resposta da esquerda que não se renova nem ilumina.

 

E só Lula se renova e ilumina! E o falar de Lula perante a tanta treva é simples: é um descortinar de aulas de sabedoria a tantos letrados e bacharelados descabeçados, repetindo à exaustão: Vá às compras! Não entesoure o seu dinheiro na poupança ou no colchão! É preciso mais do que nunca acreditar no saneamento do mercado! É preciso consumir!

 

Respostas que nem D’Alema nem Tarso Genro diriam. Afinal, D’Alema não fala!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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