E dessa vez, João será candidato?

Às vésperas de nova eleição municipal, a pergunta que o mundo político volta a fazer é: João Alves Filho será candidato de Aracaju? Torcendo a favor ou contra, do DEM ao PSTU o que todos querem saber é se o ex-governador por três vezes terá mesmo coragem, disposição ou interesse de se lançar candidato ao cargo onde debutou na política em 1974, como prefeito biônico.
A questão crucial é a sobrevivência política. O que é melhor para João, que duas vezes seguidas saiu de uma derrota para Marcelo Déda: é não correr risco e permanecer quieto, preservando-se para a eleição de 2014, quando poderia postular mais uma vez o obsessivamente sonhado governo do Estado; ou atirar-se na disputa para tentar conquistar parcela do poder perdido desde a eleição de 2006?
Mais uma vez empurrado pelos aliados, que não têm possibilidade de vitória senão com ele, João não dá pista de que será mesmo candidato. Tem ponderado muito por todos os motivos, mas, principalmente, porque sabe que o risco é grande: se for derrotado – como seria derrotado para Edvaldo Nogueira em 2008 – poderá despedir-se da vida política.
João Alves ainda é dono de um poderoso eleitorado na capital, que, proporcionalmente, já foi maior, mas voltou a crescer, animando a sua claque. Das seis eleições que disputou para governador, somente na primeira e na última ele venceu em Aracaju.
Em 1982, obteve a expressiva maioria correspondente a 57,97% dos votos, derrotando o ex-senador Gilvan Rocha. Em 1990, quando foi eleito governador de novo, ele obteve 31,06% dos votos, perdendo a eleição na capital para o “forasteiro” José Eduardo Dutra, que ficou com 34,91% dos votos.
Em 1998, quando foi derrotado para o senador Albano Franco, João teve o seu pior desempenho em Aracaju, conquistando no primeiro turno somente 23,94% dos votos, contra 29,33% do vencedor e 22,18% do terceiro colocado, o senador Antônio Carlos Valadares.
Em 2002, João Alves voltou a se eleger governador, mas foi mais uma vez batido em Aracaju por José Eduardo Dutra, que obteve 40,04% dos votos. João obteve 29%. Nessa eleição havia outro candidato forte, Francisco Guimarães Rollemberg, que conquistou 17,32% dos votos na capital.
Em 2006, quando a disputa ficou polarizada entre ele e o “menino” Marcelo Déda, o então governador João Alves obteve até então a sua melhor votação, em termos absolutos, na capital: conquistou 114.655 votos, ou 38,10%. Mas Déda arrebatou a eleição logo no primeiro turno, com 50,46%, ou 151.875 votos.
E em 2010, no acirramento da polarização entre os dois, deu João em Aracaju, que surpreendentemente venceu com mais de 48% dos votos válidos, contra 46,5% do governador que disputava a reeleição, Marcelo Déda, que obteve 133.611 votos nominais.

VOTAÇÕES DE JOÃO ALVES EM ARACAJU

Eleição

Total de votos

Porcentagem votos válidos

1982

57.187

57,97%

1990

59.805

31,06%

1998*

54.204

23,94%

2002*

75.768

29,00%

2006

114.655

38,10%

2010*

139.147

48,43%

* 1º Turno – Fonte: TRE

Como tem um eleitorado consolidado, em toda véspera de eleição João aparece nas pesquisas com 30% a 40% das intenções de votos, a depender do momento e das circunstâncias. Entrar numa disputa com teóricos 35% do eleitorado não é de se desprezar, mas há que se considerar que o mundo é redondo e dá voltas, como bem diz o espirituoso Albano Franco. E nesse lapso de cinco anos que está fora do poder, muita coisa aconteceu. E muita coisa negativa ocorreu na vida de João Alves Filho.
Primeiro, foi a própria derrota eleitoral quando ele mesmo era o governador, comandando com a autoridade reconhecida uma gigantesca máquina estadual.
Depois, em maio de 2007, estourou a Operação Navalha, com as consequências já conhecidas. Além de o escândalo envolver diretamente o seu governo, pois tinha como protagonistas pessoas ligadas a ele, inclusive ex-secretários, como Flávio Conceição de Oliveira Neto, João sofreu muito com a humilhação da prisão do filho.
Aí veio o problema de saúde da senadora Maria do Carmo. E, como se não bastasse, ele próprio acabou sendo denunciado pelo Ministério Público Federal, acusado de envolvimento com o esquema montado pelo corrupto Zuleido Veras, da Construtora Gautama.
E, depois, mais uma derrota para Marcelo Déda no primeiro turno, em 2010.
Terá João forças para superar tantos percalços e se lançar numa disputa tão acirrada e de êxito difícil de prever? Alguns fatores o ajudam. Um deles é que o grupo de Déda, Edvaldo, Jackson e Valadares dessa vez não tem um candidato natural – como Déda aparecia nessa condição em 2000 e 2004 (e também em 2006 e 2010) e Edvaldo, em 2008.
Outro fator pró-João é que o aracajuano não gosta muito de votar na situação, que hoje, por essas voltas que o mundo dá, é representada pelo governador Marcelo Déda e pelo próprio Edvaldo Nogueira. E há o fator imponderável, mas que sempre pesa nas eleições sergipanas: o povo é sentimental e gosta de compensar aqueles que estão sofrendo.
Outro ainda certamente será a inexperiência eleitoral menor do adversário, seja ele qual for, se Rogério Carvalho, Silvio Santos, Valadares Filho ou outro alguém que encorpe até o pleito.
Mas essa aparente inexperiência do adversário pode se reverter contra João, um septuagenário que pode não ter mais fôlego e resistência para subir ao ringue contra um jovem atilado e disposto a desferir duros golpes. Aliás, ele deve se lembrar da eleição para o Senado de 1974, quando o jovem médico Gilvan Rocha nocauteou o mítico Leandro Maciel.
E seu adversário deverá estar apoiado pelos governos municipal, estadual e federal, e pela histórica preferência do eleitorado aracajuano pelo candidato mais identificado com a esquerda. Eleitorado, aliás, muito singular e crítico esse aracajuano.
O dia 5 de julho é a data-limite para que os candidatos possam requerer seus registros perante os cartórios eleitorais. Até lá, o suspense continua.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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