ECONOMIA CRIATIVA: por dentro da criatividade!
Em 1997 preocupado com o avanço da China no seu mercado com produtos e preços altamente competitivos o Reino Unido criou uma política de Estado, hoje disseminada por toda a Comunidade Europeia, que elegeu o setor das indústrias criativas como prioritário. O motivo era relativamente simples com o crescimento do mercado de indústria criativas da China muitas empresas em todo o mundo começaram a sucumbir; portanto o problema estava criado, logo, era preciso encontrar uma solução rápida.
A taxa de crescimento das chamadas indústrias criativas em todo o mundo no período de 2000 e 2005 foi de 8,7%, portanto, quatro vezes maior do que a indústria convencional. E as estimativas mais modestas calculam que as áreas criativas movimentam cerca de US$ 1,8 trilhão por ano1, portanto, mais do que a Espanha ou o Canadá.
Mas, o que significa indústria criativa? A economia criativa engloba setores que têm sua origem na criatividade, na perícia e nos talentos individuais; logo o potencial para gerar riqueza e empregos baseia-se na propriedade intelectual.
Os setores que estão sendo inseridas nas chamadas indústrias criativas são muitos e, percebe-se que todos eles estão diretamente ligados à geração de ideias, tais como: TV e Rádio, Design, Artes Cênicas, Artes Visuais, Mercado Editorial, Expressões Culturais, Arquitetura, Software, Filmes e Vídeos, Música, Publicidade, Moda, Turismo e Movelaria.
Considerando-se que as exportações de produtos e serviços criativos cresceram 76% em uma década, sendo que 79% são produtos e 21% são serviços. A China é o maior exportador de produtos ligados à economia criativa3 conforme pode ser visto na Fig. 1, de todo modo vale lembrar o seu regime de trabalho. Todavia, a Europa por ter se preparado para esse cenário já começa a colher os seus primeiros frutos, pois das dez maiores economias criativas do mundo detêm seis lugares. Isto pode ser um sinalizador de que as políticas adotadas pela Comunidade Econômica Europeia começam por surtir efeito.
Embora considerado uma país criativo o Brasil só começou a acordar para esse cenário em 2004, mesmo assim ainda não existem ainda políticas públicas que alavanquem o setor. Na realidade existem milhares de iniciativas isoladas, dentre as quais pode ser destacada o Porto Digital, instalado no centro histórico do Recife e que foi eleito pela revista Business Week como um dos dez locais do mundo onde o futuro do planeta é pensado e classificado como o maior e mais rentável parque tecnológico do Brasil, possui 135 empresas e movimenta cerca de R$ 500 milhões por ano.
Num mundo global, no qual o intangível cada vez se posiciona como um diferencial para as empresas, um novo desafio se descortina já que o pensamento lógico não surte efeito e há necessidade de combinar o pensamento criativo, o estratégico, o lógico e bem como muitas outras formas de pensar para que possamos obter resultados extraordinários num mundo de evolução tão rápida.
Cada vez mais o intangível como, por exemplo, uma marca ou um trabalho criativo vale muito mais do que o que é tangível como, por exemplo, uma fábrica ou uma máquina. Isto acontece porque o que pode ser previsto calculado ou medido, cada vez mais se torna um lugar comum, pode ser copiado, pode ser melhorado, mas não tem nada de novo na verdade. Cada vez mais se percebe que os setores ligados à economia criativa, especialmente à relacionada à experiência transformadora estão crescendo de forma impensável. E nesse cenário estão os grandes shows artísticos repletos de magia e encantamento, o turismo que cada vez mais busca lugares desconhecidos e o mundo da surpresa e do encantamento.
Segundo Lola Dehenzelin4 a economia criativa é estratégica não apenas para os negócios criativos, mas para todos aqueles que ganham competitividade através do que chamamos culturalização dos negócios: valor agregado a partir de elementos intangíveis e culturais para o crescimento dos negócios de forma sustentável.
Portanto, o papel da economia criativa é o de justamente oferecer instrumentos para transformar a criatividade em negócio, ou seja agrevar valor à criatividade; sendo que a economia criativa promove o desenvolvimento sustentável e humano e não apenas fica focada no crescimento econômico.
Acredito que um país dito criativo como é o caso do Brasil, precisa acordar rapidamente para definir políticas públicas que apoiem a economia criativa e consequentemente a inclusão social do pequeno empresário ou do pequeno empreendedor. Os exemplos mundiais estão ai e, certamente, aprender com eles é bastante sábio e inteligente.
Vamos dar viva à inovação sim; mas vamos sempre lembrar que sem criatividade – efetivamente – não teremos inovação!
Fernando Viana
www.fbcriativo.org.br
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1. Fonte Pricewaterhouse Coopers.
3. Fonte:Negócos Movidos a Ideias, Rafel Barifouse e Raquel Salgado, Revista Época Negócios, dez/2010.
4. Assessora do Programa de Economia da South Cooperation Unit/PND/ONU.