O resultado do vestibular da Universidade Federal de Sergipe, divulgado na última sexta-feira (11), causou rebuliço nas redes sociais e em veículos da imprensa local. O principal motivo das diversas manifestações foi a queda no número de estudantes sergipanos aprovados no processo seletivo.
Se comparada ao ano anterior, a proporção de estudantes sergipanos aprovados na UFS teve uma queda de 18,9%. Em 2012, 89,4% dos aprovados tinham o RG de Sergipe, já este ano a média foi de 70,5%.
Muito do que foi divulgado sobre o tema direcionava a crítica à entrada de estudantes de outros estados como uma espécie de “invasão” à UFS, algo que beira o “bairrismo”, como se as vagas fossem exclusivas de sergipanos.
É fato que a dimuição no número de sergipanos aprovados na UFS deve gerar preocupação, mas não pela entrada de estudantes de outros locais. A ausência de uma política séria e efetiva de investimentos na educação pública sergipana, principalmente nos ensinos fundamental e médio, é que deve ser questionada e criticada.
Dados não faltam para ilustrar a necessidade de ampliação dos investimentos na educação pública em Sergipe. No último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, por exemplo, Sergipe não atingiu a meta proposta e ficou abaixo da média do Nordeste e do Brasil. Dos estados nordestinos, apenas Alagoas teve rendimento inferior.
É fato também que a universidade pública deve ter compromisso com o desenvolvimento local e regional. Mas o modelo de desenvolvimento não, necessariamente, tem relação com o local de nascimento ou residência das pessoas, mas, sim, com que padrões de desenvolvimento se deseja.
Por isso, acredito que o debate sobre acesso à universidade pública deve ser de classe e não sobre qual estado o estudante é oriundo. A reivindicação deve ser para que, cada vez mais, filhos da classe trabalhadora brasileira, independente do seu estado, possam estudar em universidades públicas.
Neste sentido, a política de cotas sócio-raciais é um importante passo, já que proporciona o acesso de estudantes pobres ao universo acadêmico, espaço de disputa ideológica, até então, majoritariamente ocupado pela elite. Por este motivo a implementação das cotas foi, e continua sendo, bastante criticada pela elite brasileira, que vê ameaçada a sua hegemonia intelectual e cultural. Elite que engorda os bolsos da educação privada ao matricular os seus filhos nos ensinos fundamental e médio, mas que, na hora do vestibular opta que o filho estude na universidade pública, dada a sua qualidade incontestável frente ao ensino superior privado.
Mas cotas de acesso não bastam. Aliada à adoção das cotas devem vir medidas efetivas de permanência dos estudantes pobres nas universidades públicas, como residências estudantis dignas; restaurantes universitários de qualidade e com preços acessíveis, quando não gratuitos; bolsas de estudo e pesquisa; auxílio-transporte…
Só com uma educação pública de qualidade e referenciada na sociedade, estudantes pobres, de quaisquer lugares do país, poderão pesquisar, estudar, acessar o mundo do conhecimento e, assim, construir as bases para disputar em pé de igualdade os rumos da política, da economia e da cultura do país.
NOTAS
1. O que está em jogo é a Liberdade de Expressão
Na próxima quarta-feira (23), acontece a audiência com o jornalista Cristian Góes, que está sendo processado cível e criminalmente pelo Desembargador Edson Ulisses, por ter escrito um texto ficcional, em que não há qualquer citação a fatos, pessoas, lugares e tempos. A audiência será no Juizado Especial Criminal de Aracaju, a partir das 10h.
O autor desta coluna se solidariza ao jornalista Cristian Góes, por entender que os processos movidos contra ele ferem não somente a sua liberdade individual, mas a de todos os que defendem a verdadeira liberdade de expressão e o direito à comunicação.
2. Conhecer e valorizar a música sergipana
Também no dia 23, às 19h, acontece o III Seminário Economia Política da Música, com uma palestra do professor César Bolaño, sobre “Desenvolvimento, Cultura e Criatividade”.
Na oportunidade, será lançada a versão online do Catálogo da Música de Sergipe, espaço na internet que dará visibilidade à produção musical e aos artistas locais.
A atividade acontecerá no Auditório da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe.
3. Ódio ao diferente
Levantamento divulgado pelo Grupo Gay da Bahia revelou que a cada 26 horas um homossexual é assassinado no Brasil. Apenas em 2012, foram mortos 338 gays, lésbicas ou travestis. Em Sergipe, apenas no ano passado, foram nove homossexuais assassinados.
A cada ano, o número de assassinatos de homossexuais só aumenta, principalmente pelo alto índice de impunidade, já que em 73% dos crimes não há informações sobre qualquer punição aos autores dos crimes.
Os assassinatos de homossexuais desvelam uma face de parte considerável da sociedade brasileira que tem ódio ao diferente e não respeita o direito e a dignidade de cada indivíduo.