Voltando ao assunto educação que parece ter virado moda novamente. O que pode e deve ser feito para mudar o modelo educacional vigente? Uma coisa é certa os resultados não são legais. Mas, como as escolas, faculdades, universidades poderão mudar o processo se as regras são muito rígidas?
A Revista Veja[1] publicou recentemente uma entrevista com James Heckman, economista americano, que recebeu o prêmio Nobel de Economia no ano 2000 por ter criado uma série de métodos que avaliam os programas sociais e de educação. Nessa entrevista o mesmo fala do quanto o sistema educacional brasileiro está desvinculado da realidade, pois deixa de investir na base, ou seja, no ensino fundamental e investe maciçamente no ensino superior. Todavia, como a maioria da população brasileira é de baixa renda, os jovens oriundos das escolas públicas ao chegarem à Universidade encontram muita dificuldade. Ainda, segundo Heckman, os investimentos em educação são 60% mais elevados do que seriam se fosse preparada a base verdadeiramente. A metáfora utilizada por ele é bem simples: “Como vamos construir uma monumental edifício se não prepararmos bem as fundações?”
Lembro que quando dava aulas sobre Pensamento Criativo no curso de Administração da Faculdade São Luis de França que foi grande a dificuldade que, a então Coordenadora do Curso de Administração Samira Yssa, teve para justificar a equipe do MEC, que analisava a Faculdade, sobre a importância de se trabalhar a criatividade dos alunos da área de administração.
Mesmo considerando o investimento no ensino superior, a quebra dos modelos mentais formais da educação ainda são muito difícil e as fontes são muitas:
1º – As regras oficiais que escolas, faculdades e universidades têm que seguir são rígidas: as muitas caixas de conhecimento: português, matemática, inglês, história e por aí vai, tudo entregue como se o conhecimento estivesse pronto e disponibilizado em pacotes.
2º – Os pais, em sua grande maioria teem o chamado “complexo de mãe de miss”, ou seja, em outras palavras sejam tudo aquilo que eles desejariam ser e por algum motivo não foram. Em parte, essa preocupação é porque eles acreditam que uma vez feito o vestibular, o futuro do filho estará assegurado e garantido.
3º – Os professores são pressionados por tudo que é lado. Alunos complicados e irreverentes, modelo de ensino superado, cargas de aulas teóricas e cansativas. Salários baixos, pouco reconhecimento sobre a importância do seu papel transformador na sociedade.
4º – Finalmente, os alunos… Os clientes que não querem as aulas maçantes que na maioria das vezes recebem. Isso porque a juventude atual está ligada ao mundo global – via internet – onde tudo é rápido e pronto. Daí, o enfado e muitas vezes o cansaço e a falta de paciência.
Por outro lado, como poderemos fazer com que as pessoas entendam que o ensino não deve ter o foco de apenas preparar alunos apenas para o vestibular? A questão do ensino é ampla e complexa. No entanto o que percebemos é que a juventude vem sendo preparada para um emprego e não para a vida. E, quando esses jovens terminam suas faculdades buscam um emprego não encontram. Daí, muitos perdem as esperanças e saem à procura de um subemprego ou passam o resto da vida “estudando para concurso”.
Como o ensino fundamental é uma preparação para a universidade e a universidade uma preparação para o emprego percebemos que os talentos das pessoas não são explorados verdadeiramente, nem muito menos valorizados. Lembro de uma senhora de Salvador, BA que estava participando de um dos nossos fóruns muitos anos atrás. E ao terminar uma genial palestra sobre aprendizagem acelerada que deixou a platéia embevecida, ela veio falar comigo num intervalo. Daí me disse que o seu filho mais jovem detestava estudar, mas, adorava música, todavia, a sua casa vivia em pé de guerra, pois tinha um filho terminando engenharia, outro que era médico e o mais jovem vivia em brigas constantes com o pai por não gostar de estudar e o pai queria que ele seguisse o exemplo dos irmãos.
Daí ela me disse que o rapaz tinha uma pequena banda, mas o pai não queira nem pensar em ajudar a banda, pois achava perda de tempo. Continuamos conversando e percebi que se tratava de uma pessoa de poder aquisitivo alto e lhe perguntei: “Porque a senhora ao voltar para Salvador não conversa com o seu marido sobre o que presenciou aqui?” Ela me respondeu: “Mas, vou fazer isto! Meu marido tem que compreender que todo mundo não nasceu para ser engenheiro ou médico.”
Os anos passaram e uns dois ou três anos depois essa senhora veio falar comigo noutro fórum. Daí me perguntou se eu lembrada dela e eu lhe respondi que não. Ela começou a rir e disse: “Mas da minha história vai se lembrar. Lembra que eu lhe falei que tinha três filhos: um médico, um engenheiro e um que queria ser músico?” Respondi: “Sim. E que a senhora ia falar com o seu marido sobre o que tinha ouvido falar aqui. E ai falou?” Ela respondeu muito feliz: “Sim falei e o senhor na sabe o resultado? O meu marido disse que se meu filho gostava assim de música ele teria que ir fazer uma faculdade de música e ele então ajudaria. Então meu filho fez vestibular, passou e ganhou todos os equipamentos de uma banda de presente e hoje já ganha muito mais do que o meu filho médico e o engenheiro juntos. Já comprou até um pequeno apartamento.” Não lembro o nome da senhora, não sei quem é seu filho. Hoje, certamente ao ouvir uma história genial destas iria registrar, anotar e pedir um depoimento. Mas, alguns anos atrás não fazia isto.
Acredito que este fato serve para esclarecer o quanto deixamos de aproveitar os talentos dos jovens e ajudar a encaminhá-los para o rumo certo. Tem coisa mais triste do que a pessoa ter uma profissão da qual não gosta e que fez uma faculdade apenas pensando em um bom salário no futuro?
Este é mais um dos maiores problemas da atualidade. Milhares de pessoas que vão às universidades não à busca de um sonho, mas buscando um emprego seguro no futuro. Esse, lamentavelmente, ou até felizmente, está cada vez mais difícil.
(*) Fernando Viana
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[1] Revista Veja, 09/06/2009.