Ana Beatriz Santana Andrade
Secretária Executiva da Universidade Federal de Sergipe
Graduada em Letras Português/Inglês
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente
Nos Estados Unidos, a década de 1950 foi de grandes transformações econômicas, culturais e, consequentemente, sociais. O período que sucedeu o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ficou conhecido como “anos dourados” devido à sua prosperidade econômica. Com o advento da televisão e as condições de progresso nos EUA, inicia-se um processo de internacionalização de um jeito de ser jovem; seja através da vestimenta, o blue jeans, e na música, o rock, que acabaram como marcas da juventude “moderna”. Um estilo musical que iria transformar a vida dos jovens e os teria como seus maiores adeptos, numa verdadeira revolução cultural, com fortes impactos econômicos e no estilo de vida da juventude. Nessa época, o público jovem norte-americano consolida-se como um novo mercado consumidor, até então não explorado. O cinema de Hollywood, com suas representações de comportamento, foi de indiscutível importância para a disseminação do american way of life, ou seja, do estilo de vida americano.
Também nessa década, Elvis Aaron Presley (1935-1977), um jovem branco norte-americano, cujas primeiras influências musicais foram canções gospel da igreja que frequentava, representou a imagem ideal para aceitação do rock na sociedade conservadora americana, fazendo com que um ritmo que, até aquele momento, tinha como adeptos os negros pobres dos EUA, se tornasse a linguagem universal dos jovens brancos. Até então com apresentações musicais modestas, em 1954, Elvis grava o seu primeiro disco e faz sua primeira apresentação de destaque, abrindo o show de Slim Whitman, um cantor estadunidense de música country, no Overton Park Shell, em Memphis. Encantou não só com sua voz, mas também com as performances que fazia no palco e passou a aparecer em programas de TV, ultrapassando as fronteiras de Memphis. Em 1955, ao fazer os shows de abertura do cantor canadense Hank Snow que, assim como Slim Whitman, cantava música country, o estilo de Elvis e a reação do público não deixaram dúvidas de que ele, muito em breve, ele seria a atração principal dos shows.
Cada vez mais em ascensão, Elvis teve seu estilo de roupa e penteado copiados pelos rapazes que, não sem razão, sentiam-se incomodados com o frenesi provocado por ele nas adolescentes da época. Começava, em 1956, mesmo ano em que fez sua estreia nacional na tv, a presleymania. Nascia, de fato, o rei do rock’n’roll. Enquanto os rapazes sentiam um certo “ciúme” de Elvis, muitas famílias conservadoras eram absolutamente contra seus filhos (tanto homens quanto mulheres) assistirem a apresentações do astro. Ele era o símbolo da rebeldia jovem e seu jeito de dançar, um tanto quanto ousado, feria a “moral e bons costumes” das famílias conservadoras da época. Em suas apresentações na TV, por diversas vezes, era permitido apenas que ele fosse filmado da cintura pra cima.
Eis que, em 1956, o rei do rock se consolida como astro de Hollywood e estrela o primeiro dos seus 31 filmes (1956-1969), Ama-me com ternura (Love me Tender,1956, EUA), título de uma de suas canções. Os três filmes seguintes, ainda na década de 50, fizeram parte da sua trilogia rebelde. Em A mulher que eu amo (Loving You, EUA,1957), O Prisioneiro do Rock (Jailhouse Rock, EUA, 1957) e Balada Sangrenta (King Creole, EUA, 1958), Elvis atua em papeis que trazem representações da juventude rebelde e, como não poderia deixar de ser, canta canções de seus álbuns. Um aspecto a se observar nesses três longas-metragens é que seus personagens sempre são rapazes de origem humilde que gostam de cantar, e assim o fazem bem, chamam atenção por seus estilos e chegam a alcançar o sucesso; numa relação direta com sua própria história. Tanto sua profissão quando era jovem, de motorista de caminhão, como o fato de ir morar num subúrbio, por conta de dificuldades financeiras da família, estão presentes nos filmes.
Sua morte precoce, aos 42 anos, em 1977, deixou uma lacuna que, ao longo desses anos, foi preenchida com a sensação de que “Elvis não morreu”. Ele influenciou não só o comportamento da sua geração, mas, com o protagonismo que deu ao rock, foi a grande influência musical de um grupo de quatro rapazes de Liverpool que também se tornariam mundialmente conhecidos na década de 1960. Mas isso é assunto para um outro texto.