Temos uma cultura voltada para o medo, o que nos estimula a busca incessante da segurança, do conforto, da desobrigação.
Queremos sempre ter mais, porém, em contrapartida, nem sempre estamos dispostos a assumir a responsabilidade por esse mais que temos. A nossa busca é a tranqüilidade, é a paz, é a comodidade. Somos educados, e estimulados para o emprego, pois trabalhar para os outros afasta-nos da responsabilidade e nos fornece a falsa impressão de segurança: o salário é pouco, mas é seguro do risco do negócio, e, às vezes, para a vida toda, pensamos.
E, aí, pensando assim, aonde vamos encontrar, então, os empreendedores? Por que nos preocupamos tanto em formar dirigidos? Será que não estamos criando gerações e mais gerações de dependentes?
E os empregadores, os patrões, os donos dos negócios? Por que em vez de priorizarmos o empreendedorismo, estamos nos ocupando mais daquele que é apenas a peça que faz a máquina da economia e do desenvolvimento girar: o empregado, que embora muito importante, queiramos ou não, ainda é o elo fraco da corrente que forma riqueza?
No geral, nos preocupamos mais em incentivar os nossos filhos para que estudem e consigam um bom emprego que lhes dê segurança e uma remuneração, um salário. Em vez de estimulá-los a enveredar pelo caminho do empreendedorismo, do negócio, para que em vez de salário tenham renda.
Será que já não é bastante que o nosso país seja o maior fornecedor de matéria prima para o mundo e, em contrapartida, também o maior consumidor de produtos manufaturados, fabricados, exatamente com aquele material bruto que daqui saiu quase de graça e que retorna, depois de beneficiado, para nós, a preço de ouro?
Será que é certo e necessário perdermos tanto? Todo esse material, que foi extraído do nosso solo, viaja até outro país, recebe um beneficiamento, passa por uma transformação, e, depois, volta em forma acabada e com um estúpido valor agregado, para nós mesmos, gerando, naturalmente, emprego, renda, imposto e riqueza lá fora. Isso não poderia ser feito aqui, pelos nossos empreendedores, se os tivéssemos?
Por que pensamos tão pequeno? Por que nos preocupamos tão somente em formar empregados e pouco, muito pouco mesmo, nos ocupamos em formar empregadores, geradores de desenvolvimento, provedores de nossa riqueza e nacionalidade?
Sem xenofobia, no entanto, o capital estrangeiro, os empresários alienígenas deverão ser muito bem tratados, muito bem recebidos. Pois se eles estão aportando em nossas cidades e florestas, comprando tudo e ocupando os nossos espaços é, exatamente, por não termos aqui pessoas que vejam estes nichos que eles, lá de fora, estão vendo e se atrevem a arriscar seus capitais. Têm a audácia e o conhecimento que nós, infelizmente, não temos, ou não estamos querendo ter.
Portanto, o problema é nosso e não deles. Eles estão fazendo o seu melhor. O melhor, que nós não estamos vendo, e nem fazendo muitos esforços para ver, pois somente quem enxerga isso são aqueles estimulados para os riscos do negócio, para o arrojo do empreender.
Repito: eles estão certos e nós errados. Dito isso, fica explicado o porquê de eles virem para cá. E, convenhamos, nesse caso, é bom que continuem. Eles deverão ser saudados por nós com respeito, pois trazem dinheiro, que gera emprego, imposto, desenvolvimento e renda. Mas, sobretudo, porque, com as suas ações, poderão nos acordar desta letargia conformista para que saiamos desta zona de conforto e aprendamos a nos arriscar mais e a esperar menos.
O meu questionamento cinge-se na falta de inteligência de nós outros em não perceber o elementar. Em não constatar que ainda é muito tênue a nossa educação para o empreendedorismo; toda a nossa formação e educação são, a princípio, focada no emprego.
O pai diz para o filho: cresça, estude para se formar e arranjar um bom emprego. A escola, de igual forma, como auxiliar e preparatória para a vida, também incentiva para que se aprenda para passar num concurso ou instrui nesse sentido.
Atenção! Tenho absoluta certeza de que estas recomendações dos pais e as orientações escolares estão carregadas da mais perfeita razão, afinal é esta a nossa cultura. E, quando um pai ou um professor fala isso, eles estão mais do que corretos em seus raciocínios e também não tenho a pretensão de desvalorizar tais idéias, ou demonizar o emprego e divinizar o empreendedorismo. Não. O empregado é essencial. Como, não tenho, também, a intenção de profetizar que o empreendedorismo, por si só, seja a salvação de tudo, o que ouso afirmar, com uma certa margem de segurança, é que empreender é muito melhor, mais sensato e rentável do que ser empregado. Mesmo que seja muito bem empregado.
Explico: quando estamos empregados nos sentimos seguros, pois, no final do mês, recebemos um salário que, às vezes, dá para cobrir as despesas das dívidas contraídas naquele período de trinta dias e, se formos dispensados daquele emprego, teremos ainda as verbas rescisórias, suficientes para nos garantir a sobrevivência por mais algum tempo, até arranjar outro emprego.
Assim, indeterminadamente, vamos sobrevivendo, até que enfim atingimos uma aposentadoria para, aí sim, pensamos nós: fazer alguma coisa para complementar o minguado salário de aposentação que se recebe. Mas, porém, não prevemos que a aposentadoria é um prêmio; lamentavelmente, um presente de grego. Pois, com raríssimas exceções, o que se recebe é suficiente para viver um restinho de vida com dignidade, em que as condições do corpo não nos permitem fazer muitas coisas, além de que o mercado, saturado, não quer nada com os maiores de quarenta.
Ou seja, somente nesse momento é que entendemos, tarde demais, que durante muito tempo, vendemos muito barato a mercadoria mais nobre que temos: a nossa força de trabalho, a nossa juventude e a nossa vida produtiva. Nada mais pode ser feito.
O salário, talvez por gerar essa ilusão confortável, cria, em nós, uma coisa que a meu ver é a mais deletéria das ocorrências da vida de uma pessoa: o conformismo.
O salário, todos nós sabemos: é uma solução de curto prazo, (trinta dias) para um problema de longuíssimo prazo que é uma vida toda.
É, também, às vezes, uma solução singular, – somente um trabalha e ganha, – para resolver um problema plural, de uma família: cônjuge, filhos parentes e aderentes.
O salário difere da renda. Enquanto o salário tem um só objetivo que é garantir a estabilidade, a renda tem muitos outros, e o principal e mais importante é que a renda é para ser reinvestida e não consumida, como sói acontecer com o salário. O negócio gera negócios e, por conseguinte, provoca desenvolvimento que atrai mais riqueza.
Fico feliz quando leio algo que demonstra que os bons empreendedores brasileiros vão muito bem, chegando, inclusive a fazerem a declaração que se encontra na capa da Revista Exame, edição 979, deste mês, de setembro de 2010, diz a matéria: “Aqui vai um recado para o próximo presidente do Brasil: é o setor privado, não o governo, o motor da prosperidade.”
A notícia diz exatamente o que tento explicar neste artigo: o valor e importância que têm aqueles que empreendem. É claro que ainda dependem do empregado para mover a roda dessa prosperidade. A questão é escolher em qual lado cada um de nós vai querer estar.
PENSEMOS NISSO.