A brisa que refresca os banhistas nas praias do Nordeste tem um potencial econômico ainda maior do que o de atrair turistas para a região. A velocidade dos ventos que sopram por ali tem a capacidade de gerar energia elétrica suficiente para atender mais da metade da necessidade energética do Brasil.
Essa é a conclusão de um estudo conduzido por pesquisadores do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), órgão ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgado
A maior parte dessa área fica no litoral nordestino, em especial nos Estados voltados para o Hemisfério Norte, como Ceará e Rio Grande do Norte, mas há também pontos com bom vento no interior da Bahia e nas Regiões Sul e Sudeste.
Segundo o físico Fernando Barros Martins, que coordenou o trabalho publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física, se todo esse potencial fosse convertido, seria possível gerar cerca de 272 terawatts/hora (TWh) por ano de energia elétrica. Atualmente o consumo brasileiro está em cerca de 424 TWh/ano (dados referentes a 2006), a maior parte suprida por hidrelétricas. A energia gerada por vento responde por menos de 1 %.
Essa capacidade pode ser ainda maior, porque os cálculos levaram em consideração o uso de aerogeradores que captam o vento a
O uso modesto chama a atenção em um momento em que o Brasil enfrenta aumento da demanda por eletricidade e tende a “sujar” sua matriz. Por ser quase toda baseada em água, uma fonte renovável, a matriz brasileira é considerada limpa, pouco emissora de gases que provocam efeito estufa, como o C02 eliminado pelos combustíveis fósseis, principais vilões do aquecimento global.
Ocorre que, diante de uma maior necessidade, o País tem feito cada vez mais uso de
termelétricas movidas a gás natural, que, apesar de menos poluente que o carvão mineral ou o diesel, ainda é um grande emissor de gás carbônico.
O investimento em energia eólica, afirma Martins, seria particularmente interessante para diminuir a pressão pela construção de mais hidrelétricas (limpas, porém impactantes para o ambiente) ou mesmo termelétricas. “No Nordeste, isso é um problema nos períodos de seca prolongada. E justamente no período de menor chuva, durante o inverno e a primavera, é quando mais venta”, explica.
Ele defende que o momento de investir é agora, tanto por questões de segurança energética quanto por causa do aquecimento global. “Algumas estimativas falam em aumento de 3,5% por ano do consumo de energia no Brasil nos próximos anos. E em vários lugares o potencial hídrico já está quase esgotado. “
Vento contra estufa – Desde o início da década de 1990, o setor de energia eólica cresce em todo o mundo, com impulso maior nos últimos cinco anos, a partir do momento em que países desenvolvidos se comprometeram a reduzir emissões de gases-estufa. No final de
Os países europeus são os mais entusiastas desse tipo de energia, com destaque para Alemanha, Inglaterra, Holanda, Noruega e Dinamarca, tradicionalmente movidos a termelétricas. Em dezembro, a União Européia se comprometeu a reduzir, até 2020, 20% de suas emissões – na comparação com valores de 1990. Para atingir isso, deve, entre outras coisas, ter 20% de sua energia proveniente de fontes renováveis, o que deve aumentar ainda mais o investimento
O grupo de Martins agora estuda quais serão os impactos das mudanças climáticas para a geração de energia eólica no Brasil. Ele afirma que os primeiros resultados já projetam um aumento da quantidade de ventos nas próximas décadas, mas essa é uma notícia a ser vista com cuidado. “Para as novas instalações será importante ter esses dados em mãos, porque se forem construídas para trabalhar com uma intensidade menor de ventos, o aumento pode prejudicar o investimento. ” (Ambientebrasil).