Enoch Santiago – Jornalista, magistrado, professor

Enoch Matusalém
Enoch Matusalém Santiago, filho de pais humildes, feirantes – Ivo de Santiago Matusalém e Maria Benvinda – nasceu em Lagarto, em 10 de novembro de 1892. Ainda criança foi estudar na Escola Agrícola Salesiana, no povoado Tebáida, município de São Cristóvão, como interno. Aos 14 anos, incompletos, em 1906, passou a morar em Aracaju, para trabalhar como Contínuo da Inspetoria de Higiene. No ano seguinte trocou de emprego, passando a ser Contínuo da Recebedoria Estadual, permanecendo na função até 1911, quando passou a ser Grande Conferente da Recebedoria Estadual, sendo transferido para Maroim, onde além de empregado dedicou-se ao jornalismo, editando O Ganhamoroba (1913) e O Paladino, semanário, (1914), e ao Gabinete de Leitura, como sócio e como Orador. De volta a Aracaju colabora com O Comércio (1916), enquanto se dedica aos estudos, primeiro com o professor Hemetério de Gouveia e Silva, depois com o professor Manoel Cândido dos Santos Pereira, fazendo exames preparatórios no Ateneu Sergipense. É promovido a 3º Escriturário da Recebedoria Estadual, em 1918. Colabora freqüentemente nos jornais Diário da Manhã, O Estado de Sergipe e Jornal do Povo. Foi, também, Orador da Liga Sergipense contra o Analfabetismo. Já casado, com a professora de Canto Ofeônico da Escola Normal, Adélia Rocha Santiago, resolve estudar Direito, matriculando-se na Faculdade de Direito da Bahia, onde bacharelou-se em 8 de dezembro de 1925.

 

 

Em 1926 (16 de outubro) inicia sua atuação no âmbito do Direito, como Promotor da 3ª Vara Cível, de Aracaju, seguindo-se como integrante da Comissão encarregada de proceder a revisão geral dos Contratos feitos pelo Estado e pelos municípios com empresas ou particulares (4 de maio de 1931) e, depois, Procurador dos Feitos da Fazenda (1932), mudado para Procurador Fiscal do Estado (fevereiro de 1935), Juiz de Direito, concursado, titular da Comarca de Vila Nova, atual Neópolis (2 de março de 1935), removido para Maroim, em 1937, provocando uma crise no Governo do Interventor Eronides Carvalho, que através do Decreto de 8 de janeiro de 1938 aposenta-o, a bem do serviço público, por ter o magistrado recusado retornar para a Comarca de Vila Nova.

 

 

Fora da Justiça, transfere residência para o sul da Bahia, alternando trabalho como advogado em Ilhéus e em Itabuna. Dos anos que passou no sul da Bahia organizou uma antologia de textos jurídicos e de textos poéticos, chegando a publicar alguns deles. Em 1942 reintegra-se na vida sergipana, sendo nomeado membro do Conselho Regional de Trânsito, sendo no mesmo ano, em 1º de abril, nomeado Chefe de Polícia, da Interventoria de Augusto Maynard Gomes, que em 18 de fevereiro do mesmo ano revoga a aposentadoria, revertendo ao serviço ativo o Juiz de Direito Enoch Santiago. Desdobra-se a carreira jurídica, que o levou a ser, a partir de 2 de julho de 1945, desembargador do Tribunal de Apelação, empossado no dia 6 do mesmo mês, e nesta condição presidir o Poder Judiciário, de 8 de novembro de 1945 a 1º de abril de 1946, período em que o titular Hunald Cardoso afastou-se da presidência para assumir a Interventoria do Estado. Solidário com seus colegas magistrados, emcabeçou o Memorial dos desembargadores e juizes de Direito ao Interventor Federal, reclamando melhores salários e condições de vida. Ainda como desembargador, Enoch Santiago foi duas vezes presidente e três vezes vice presidente do Tribunal Regional Eleitoral e Corregedor do próprio Tribunal.

A partir de 1951 passa a lecionar na Faculdade de Direito de Sergipe, na cátedra de Direito Judiciário Civil, e é escolhido vice diretor daquela escola. Casado com a professora Adélia Rocha Santiago, de quem anos depois se desquitou, e com ela teve três filhos: Cândida Maria, Maria da Conceição, casadas com Orlando Imbassahy e com Carlos Linhares, e Enoch Santiago Filho, poeta, falecido em 1945, aos 25 anos, quando terminava o curso jurídico na Bahia. Do casamento de uma das suas filhas, como o engenheiro Orlando Imbassahy tem o neto Antonio Imbassahy, político baiano, ex prefeito de Salvador.

 

Membro destacado do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, conferencista, colaborador da sua Revista, presidiu a chamada “Casa de Sergipe”, de 1953 a 1955. Pertenceu, ainda, ao Instituto dos Advogados

 

 

O desembargador Enoch Santiago faleceu de repente, de derrame cerebral, nas primeiras horas do dia 16 de fevereiro de 1957. Os jornais, a Academia Sergipana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e a Faculdade de Direito de Sergipe prestaram-lhe grandes homenagens, pranteando a sua ausência. O Tribunal de Justiça, presidido à época pelo desembargador Otávio Teles de Almeida, não mandou representante ao enterro, e nem prestou homenagem pública ao desembargador morto.

        

 

Enoch Santiago deixou poucas publicações, mas nos jornais de Maroim, de Aracaju e de Itabuna, na Bahia, ficaram artigos, poemas, crônicas, discursos transcritos, que atestam a grande contribuição dada pelo intelectual lagartense a Sergipe e aos sergipanos. Deixou inédito e inacabado um livro com escrita de si, intitulado Memórias de um juiz aposentado. Ao ser empossado como desembargador do Tribunal de Justiça disse estas palavras:

 

                   “Estou chegando ao ponto culminante da minha vida pública,  em

                   um momento em que, pela sua singularidade crucial, ocorreu bem

                   próximo às amarguras de um grande desalento.”

 

Referia-se, com certeza, aos dissabores enfrentados com sua aposentadoria injusta, mas e principalmente com a morte prematura do filho querido, de quem esperava continuar na mesma luta.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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