Ensaio sobre a sutileza que conquista o coração

Não. Eu não morri. Se não, não existiriam essas palavras que aqui agora discorrem em uma folha-digital-branca. Tudo se modifica com o tempo vindo do ócio e nos faz crê que ainda vale muito apena brigar por aquilo que consideramos certo, no sentido justo da palavra. Um tempo fora de órbita nos faz perder os rumos antigos e nos direciona ao que há de novo por aí pelo mundo.

O mundo é grande e é pequeno ao mesmo tempo. [constatação comum]. O mundo que vem de mim, se divide em angústia e certeza. Cada um é unicamente responsável pelo seu próprio eu. Depois de desejar que me amassem desmedidamente percebi que o legal é que me amem e me deixem ser eu mesmo, na mesma balança.

A gente vai se desenvolvendo enquanto ficamos velhos, alguns apenas envelhecem e param de se preocupar com o futuro. Não, não quero isso pra mim, nem pra quem estou circulando. Meus amigos-amores servem de sol pra mim, circulo-os e usufruo de suas vidas como lentes de contato para meu destino e me direciono numa orbita ensolarada pela lua, gosto mais da noite.

Na verdade estava pensando sobre o quanto nos modificamos no decorrer da escrita. Destino nada mais é que um dia na frente do outro correndo entre abismos, amores e arrotos. Pensei que minha fonte de inspiração tinha secado no último janeiro, quando quase não produzir nada de construtivo.

Pensei que não existiam mais motivos para escrever sobre as coisas. O tempo tinha cessado para mim, enquanto ensaísta, escritor e homem. Foi surpreendente descobrir que a dor de não saber como andar mais é muito maior do que a dor de quem nunca andou. Não se sabe sentir o que nunca experimentou. Estava estático mentalmente e do nada nasceu este texto sobre o parir as palavras.

Na verdade, estou enganando você leitor. Hárárá! O que quero aqui é começar um novo tempo sem sombra de dor, porém sei que às vezes sentirei pontadas que me farão sangrar um sumo dolorido de bala-perdida. Um grosso líquido de verdades e sentimentos dúbios. Sempre fui serei assim: dois em um. Um mais triste que alegre. O problema é balancear as incertezas para sobreviver aos idiotas.

Hoje dedico o pensamento constante ao que fazemos de nossas vidas. Não existe mais a palavra que toque, nem um livro que nos faça sorrir por novidade. Se um gênio me oferecesse um pedido apenas, desejaria que todas as pessoas fossem tocadas pelas palavras. Mas os gênios não existem mais. Todos morrem um dia, né Salinger?

A morte da palavra que poderia tocar o coração é mais dolorosa que a destruição do Haiti. Na verdade, as desgraças vêm sempre procedidas das palavras e antecedem as mesmas. As pessoas não ouvem mais nada, estamos cada dia mais surdo do que atentos. Palavras são jogadas de forma tristemente abstratas para àqueles que conseguem enxergar a sutileza da vida. Mas nem todos são educados para isso, e assim não sofrem tanto com as coisas, o que pode ser bom no fundo, no fundo!

Sofrerei sempre por amar demais, de menos, por não amar e ainda assim saber que para cada sentimento meu existem mil possibilidades de escrita e grafismo.

Descobri que a sutileza está em abrir os olhos e alcançar a nuca com gana e certeza, sendo humilde e humano ao mesmo tempo. Se não fossem os remédios, hoje tomaria três cervejas para comemorar a palavra que não cala e me faz continuar vivo.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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