Ensaio sobre o acaso

O acaso é não passa de pura diversão do destino. Resolvemos problemas, criamos problemas, mas nunca deixamos de pontuar cada peça que o acaso nos prega. Não sei muito a respeito do inconsciente coletivo ou sobre astrologia, porque talvez assim conseguisse responder de forma mais clara sobre esse assunto, se é que tem relação. O que sei é que o acaso nos coloca numa fornalha e quando menos pensamos, pois ele precisa de um tempo pra acontecer, a roda do destino gira e encontramos nossas respostas numa “esquina, num lugar comum”.

 

Uma parte de mim acredita no acaso. Outra parte, sábia, acredita na programação dos fatos com o propósito de conseguirmos as vantagens. Na maioria das vezes, acreditamos sem acreditar, porque se tem alguma coisa quer o ser adulto não gosta, é de se sentir contrariado perante suas escolhas e assim enxergar-se infantil. O acaso faz isso com a gente: coloca-nos num lugar inseguro. Porém sempre causando frisson e nos deixando com uma baba espumosa na boca. É o alívio amparado pelo desespero do “e agora?”.

Uma parte fortíssima minha acredita no encontro das situações organizado por algo divino. A parte racional acha que isso é de uma idiotice sem precedentes e que se existe mesmo a tal força divina, ela estaria mais empenhada em resolver a cura pras mazelas do mundo e do que fazer com que pessoas se cruzem num beco qualquer pra concretizarem seus destinos. Fico pensando e me sinto de libra, nesse quesito. Dividido.

 

O acaso pode servir como a pedra para dividir o mar, a cor que clareia a mente ou ainda como o choro descontrolado que vem do nada, quando não pensávamos em chorar. Ele muda seus contaminados. Acho que o acaso precisa daquele ar de leve suspiro, pois tem sabor de menta e fica por um tempo estagnado nos lábios de quem o toma em suas mãos. Quase sempre relacionamos o acaso ao encontro amoroso, mas, essa ligação vem de querermos encontrar explicações para tudo, então quando não as achamos dizemos que foi o acaso que quis assim. Será mesmo? As histórias de amor ganham um tom meio que de sonho quando os atores envolvidos se esbarram por e no acaso. A tal explicação para enredos fantasiosos só precisa de um empurrãozinho de seus envolvidos para que tudo seja resolvido em nome do acaso.

 

Ao levantar a bola sobre esse tema, meus pensamentos me deixaram com aquele rastro de desgraça por não trazer luz a coisa alguma. Se existe um assunto que comova e ao mesmo tempo promova repugnância, certamente é o acaso. Ele pode ser mágico para alguns ou idiotice para todos, mas sempre permeia o caminho de quem se habilita a observar a vida por um ângulo mais sereno. Identificar o acaso das coisas exige um momento de profundo silêncio e acima de tudo respeito pelo instante em que ele possivelmente aconteceu.

 

O amor à primeira vista é irmão do acaso, na maioria das famílias. Falar sobre amor já é por demais complicado, e envolver o acaso em suas teias, torna a situação um tanto perigosa porque sairíamos do conforto do filosofar para o sentimentalismo, de forma fácil e rápida. O acaso merece lugar naquilo que ainda não sabemos como construir. Mesmo percebendo relances de acasos em meu cotidiano, prefiro acreditar que construo de forma inconsciente (ou não), o desenrolar dos fatos. Sabe quando fazemos algo que certamente não dará em bons frutos, mas ainda assim permanecemos no (reconhecido) erro? Não posso dizer que é culpa do acaso, certas feridas que se formaram em meu coração, por exemplo? Se é para existir acaso, que este esteja coligado com as coisas boas e não com as ruins. Porque se tem algo que aprendi é que as minhas “bad trips” são culpas exclusivamente minhas. Conheço pessoas que culpam o acaso por seus problemas e isso é tolice, pra não dizer idiotice (existe grande diferença entre essas duas palavras). Não posso jogar a culpa pelos meus descontroles sentimentais nos braços do acaso. Ele não aguentaria. Nem eu, às vezes!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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