Ensaio sobre o corpo envelhecido

É impressionante como depois dos 25, o corpo amanhece inchado. Um incômodo do inferno, porque é algo que ultrapassa a vontade pessoal e não temos como evitar a contenção de líquido. Vamos ao banheiro e nada de passar, a barriga fica grande, as pernas doendo e a cabeça noiada – efeito da idade.

Sei que este espaço, pra grande maioria, deveria ser preenchido de boas palavras, pelo menos bonitas palavras, mas cá entre nós, todo mundo é meio assim: inchado pós os 25. Até mesmo quem conheço e possui vida nada sedentária, tem seus dias de cansaço corporal. É uma máquina, já ouvimos isso um milhão de vezes, mas sentimos o efeito danoso, só depois de algum tempo.

Cuido da alimentação, bebo só nos finais de semana (e olhe lá, não gosto de cerveja), quase não como carne vermelha, tenho meses de vegetarianismo e ainda assim não me acostumo com o que vejo.

Outra pancada que venho levando do meu corpo diz respeito aos meus cabelos brancos. Os tais cismaram de nascer num único ponto (bem no meio da cabeça), e assim me deixa com um ar de Morticia Addams (me perdoe, mas não achei outra referência menos Pop pra ilustrar). Além dos fios que crescem desordenados numa cabeleira levemente ondulada, os brancos surgem do nada e começo a notá-los também ao redor de minha cabeça, numa espécie de coroa a me condecorar: velho!

Alguns amigos perderam cabelo, estão carecas; outros estão começando a sofrer de calvície e destes tenho maior pena. O meu problema (os brancos), ainda bem que resolvo cortando-os e não perdendo-os [risos]. Ah, já ia esquecendo, ainda tenho que justificar algo que até agora não fiz: pintar meu cabelo pra encobri-los. Meus fios brancos se destacam demais porque o resto do meu cabelo é preto à La Gretche (sei que teria inúmeras referências, mas é que acho esta ridiculamente engraçada pra citar aqui).

Homem tem problemas com pêlos encravados? Temmmmm! Existe alguma maneira de amenizar isso? Não sei, porque estou no processo de descobrir minhas falhas. Envelhecer é descobrir falhas que antes só constavam na teoria dos outros. Os manuais estão cheios de receitas, dicas e tratamentos que aparecem de forma milagrosa, com fórmulas milagrosas. Só que até encontrarmos o melhor caminho, o percurso é dolorido.

Você, senhor na faixa dos 30, com pêlos pelo corpo, compre agora mesmo nosso elixir da juventude. É barato, fácil de usar e sem efeitos colaterais. Nas feiras do interior são centenas de pomadas que prometem curas inexplicáveis, que vai do pêlo maldito ao vício do cigarro, só que no banheiro, enquanto aparamos nossos pêlos, ninguém vem para amenizar o choque de termos uma gilete raspando o excesso ou uma máquina cortando rente o que antes era visível.

Tudo fica irritado. Eu, tu, eles nos irritamos com tamanha violência, mas não só pela estética, mas pela higiene é preciso aparar o muito. O ritual do pêlo encravado não consta na cartilha de sobrevivência do formos, faz parte de forma grotesca, da realidade. E após o depilar/aparar começam os problemas.

Primeiro, um único fio inflama do nada, deve ser azar, e em seguida a região fica avermelhada, não tarda a começar se formar um círculo de pus, dolorido e que mesmo pequeno tira a paciência de quem o sente. Após a falha tentativa de que aquilo irá sarar do mesmo jeito que nasceu, começamos o tratamento que consiste em pomada típica pro ferimento. Em duas semanas, o caso está resolvido. Para acelerar o processo, sabonetes com esfoliantes e chá de malva, que a vovó aconselhou.

Tirando o fato que o corpo é composto por inúmeros pêlos, e que os encravados parecem guerreiros preparados pra uma batalha contra o belo, temos que ter os cuidados descritos acima em vários lugares, o que é por “demais simbolicamente forte pra eu não me abalar”.

Estou velho. Faço 30 no dia 14 de janeiro. Tenho manias (já descritas em outro texto), possuo problemas que me levaram brincando pra dentro do hospício do Alienista de Machado de Assis, brigo com quem amo, não perdôo com facilidade, tenho problemas intestinais, de pele (às vezes), boca seca, urticárias se estou próximo à grama, cabelos rebeldes, veias arrebentadas nas pernas, dores nas costas, coxas flácidas, uma barriga que me custa o sono, olheiras que me deixam triste, entre outras queixas, que não quero contar, mas ínsito, no alto de minha futilidade, que se Deus quiser acabar comigo de vez, no futuro, basta que eu envelheça e nasçam pêlos em minhas orelhas. Morreria se tivesse que depilar algo tão visível. Tenho pânico disso em meu corpo. Deus não seria capaz de ira tão longe assim!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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