Entre ficção e História

Caroline de Alencar Barbosa
Graduanda em História na Universidade Federal de Sergipe
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
Bolsista PICVOL do projeto “Aracaju em tempos de conflito: Estudos dos espaços de lazer na Segunda Guerra”.
e-mail: caroline@getempo.org
Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard

Em 1997 a escritora britânica Joanne K. Rowling (1965-) lançou seu primeiro livro intitulado Harry Potter e a Pedra Filosofal.  Em seguida seis livros foram publicados dando continuidade à história de um menino bruxo (Harry Thiago Potter). Órfão, Potter teve seus pais Thiago e Lílian assassinados por Lord Voldemort, o vilão principal da série.

Porque comparar um personagem fictício de contos infanto-juvenis com um histórico como Hitler? Percebe-se nos citados características das práticas e ideologias fascistas no sentido de um controle de massas e uma autoridade única e nazista através da perseguição das minorias. Tanto na ficção como na realidade os considerados “impuros” foram discriminados, acossados e mortos, além disso, os meios de comunicação e divulgação foram fiscalizados durante o período de ascensão tanto de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial quanto de Voldemort ao ressurgir a partir do quarto livro da saga.

  Ambos possuíam extrema inteligência utilizada para fins tanto políticos, quanto ideológicos. Em Harry Potter o vilão Voldemort tem como objetivo principal controlar todo o mundo bruxo, inclusive o Ministério da Magia, centro de poder. Além disso, pregava a purificação da classe dos bruxos, ou seja, exterminar todos os que são considerados “sangues-ruins” nascidos em famílias onde os pais não são bruxos, ou até mesmo os filhos de mestiços, bruxos que se casam com “trouxas” (palavra designada para todos aqueles que não nasceram bruxos).

Nesse sentido podemos compará-lo a Adolf Hitler que com sua ideologia de “pureza da raça” perseguiu e exterminou todos os que eram considerados fora dessas normas (negros, mestiços, ciganos, judeus). O ponto essencial nessa comparação reside no fato de que ambos apesar de pregarem uma supremacia de determinada “raça” não eram puros, Voldemort era mestiço filho de uma bruxa com um trouxa e Hitler que pregava o ariano puro, alto, de olhos claros e cabelos loiros, no entanto era baixo, moreno e possuía olhos escuros.

Outro ponto reside no fato desses dois personagens (fictício e histórico) envergonharem-se de suas origens humildes e repudiarem a figura do pai. Ambos também possuíram a astúcia de reunir seguidores para sua causa e formar um verdadeiro exército de combate aos considerados fora dos padrões de suas sociedades.

Hitler não criou sua ideologia a partir do zero, sofrera influências da longa história de antissemitismo que era pregada na Alemanha, já Voldemort inspira-se na figura de Salazar Sonserina, fundador de uma das quatro casas da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e disseminador dos ideais contra os nascidos trouxas.

Segundo uma citação esclarecedora de uma professora da escola Minerva McGonagall em Harry Potter e a Câmara Secreta, a escola de Magia e Bruxaria Hogwarts fora fundada por quatro bruxos “Godric Grifinória, Rowena Corvinal, Helga Lufa-Lufa e Salazar Sonserina. Três dos fundadores conviviam em perfeita harmonia, mas um deles não. Salazar Sonserina queria ser mais seletivo com relação aos alunos admitidos em Hogwarts; ele achava que o ensino da magia devia ser somente para famílias inteiramente mágicas: em outras palavras sangues puros. Incapaz de persuadir os outros ele decidiu abandonar a escola e de acordo com a “lenda” ele teria escondido uma câmara na escola conhecida como a Câmara Secreta, logo antes de ir embora ele selou a câmara, até que seu legítimo herdeiro voltasse à escola. Somente o herdeiro seria capaz de abrir a câmara e libertar o horror que lá havia e ao fazer isso expurgar da escola todos aqueles, que segundo Sonserina não fossem dignos de estudar magia”, ou seja, quem nasceu trouxa. O herdeiro de Sonserina fora justamente Lorde Voldemort.

Os dois líderes possuíam um forte poder de argumentação e persuasão conseguindo vários adeptos: os membros da SS de Hitler e de outro lado os Comensais da morte de Voldemort. Ambos se consideravam pessoas “especiais” que salvariam seus mundos da praga impura que corrompia a sociedade (Alemã e Bruxa). Além disso, os dois adotaram suas próprias marcas de representação: a suástica de Hitler e a marca negra de Voldemort.

A noção de imortalidade poderia ser utilizada como um ponto em comum entre eles, Hitler com a expansão de seu “império” alemão puro queria ser imortalizado por sua política, suas ideias e ações. Já Voldemort adotou uma estratégia diferenciada ao guardar pedaços de sua alma em objetos, pois assim só poderia ser morto após a destruição dessas sete peças, chamadas de Horcruxes.

Portanto, cabe aos leitores que leram a obra de J.K perceber se realmente essas particularidades fazem algum sentido. Muitas comparações já foram feitas entre eles em diversos blogs que focam suas postagens em sagas e sites específicos sobre Harry Potter como, porém não se sabe se realmente a autora inspirou-se no líder alemão na criação de seu personagem. O que não podemos negar são as similaridades entre eles. Esta é uma particularidade que a literatura possui como instrumento relevante para abordagem de temas históricos, pois entre os jovens de todo o mundo Harry Potter é reconhecido, cabendo assim ao professor optar ou não por utilizar essas semelhanças para discutir o tema em sala.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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