“Duas coisas, sobretudo impedem que o homem saiba ao certo o que deve fazer: uma é a vergonha, que cega a inteligência e arrefece a coragem; a outra é o medo, que indicando o perigo, obriga a preferir a inércia à ação”. Erasmo de Rotterdam, filósofo holandês. O radialista e secretário de Comunicação Social da Prefeitura de Itabaiana, Marcos Aurélio foi vitima na última quinta-feira à tarde, de uma agressão física por parte de três homens dentro do Hospital João Alves Filho. Infelizmente por conta do período eleitoral, parte da imprensa além de não divulgar a agressão, tentou desvirtuar o caso. Em nome da liberdade de expressão, em nome do respeito ao ser humano, que independente de sua profissão, credo e cor nunca deve ser agredido, já que o caminho dos homens de bem é a justiça, esta coluna abre espaço para Marcos Aurélio. Aqui não se trata de ouvir as duas partes, até porque a outra parte ninguém sabe quem foi. O bom profissional de imprensa neste momento esquece os problemas pessoais, as paixões políticas e tudo mais. Nada justifica uma agressão seguida de roubo (filmadora) a nenhum ser humano. Defender isso é a pura degradação, é a subserviência total é esquecer que amanhã o agredido pode ser você. Pessoas inteligentes discutem idéias, pessoas comuns discutem coisas e pessoas incapazes discutem pessoas. Quando alguns colegas se alertarem para isso, pode ser tarde demais. Por fim, por principio de vida e de educação, jamais este jornalista vai defender agressão a quem quer que seja. Leia, a seguir a entrevista com Marcos Aurélio: Cláudio Nunes – Você trabalha na cidade de Itabaiana, tida como violenta, onde no passado ocorreram alguns crimes políticos, mas o espancamento e o roubo da filmadora ocorreu na capital do Estado em pleno século XXI, dentro de um hospital público. Qual a sua avaliação? Marcos Aurélio – Sobre a informação de que itabaiana é uma cidade violenta, gostaria de registrar que a violência é uma constante em todas as cidades sergipanas, basta acompanharmos o noticiário policial e vamos constatar o que estou dizendo. No que diz respeito aos crimes políticos, não tenho lembrança de nenhum nos últimos anos. Quanto ao espancamento que sofri, só tenho a lamentar, isso mostra o grau de insegurança que o cidadão sergipano está exposto. Dessa vez fui eu a vítima, mas na minha profissão já noticiei inúmeros espancamentos sofridos por lavradores, pedreiros, comerciantes, donas de casa, professoras, enfim, com a certeza da impunidade, pessoas agridem os outros indistintamente, e hoje os motivos são os mais banais. CN – Como foi a solidariedade dos colegas de imprensa e do sindicato? MA– Quanto ao sindicato, após o episódio eu liguei para o presidente e comuniquei o fato ao mesmo. No que diz respeito aos colegas de imprensa, eu gostaria de agradecer àqueles que manifestaram solidariedade, inclusive aos que não conseguiram falar comigo. Quanto àqueles que preferiram apoiar a farsa de que eu teria forjado toda a situação, eu de forma sincera, espero que Jesus Cristo ilumine os seus caminhos, afinal sei que estes têm esposas, filhos e pais, que num momento como este, sofrem junto com a gente. Mas cada um só pode oferecer o que tem. CN – Não é lamentável alguns colegas tentarem distorcer o fato e acharem normal um espancamento, esquecendo que nada justifica uma agressão e que o caminho dos homens de bem, quando ofendidos é a justiça? Marcos Aurélio – Engraçado! Recentemente ocorreu um episódio envolvendo o também radialista Alex Carvalho, e o que ouvi e li foi um batalhão de jornalistas e radialistas esbravejando solidariedade ao radialista, no meu caso, como a minha preferência política não é a que está no poder, fica mais fácil me acusar de ter forjado a situação. Alguns chegaram a afirmar que fui eu o culpado, o jornalista Giovanni Alievvi chegou a dizer que os tapas que recebi foram cinematográficos. E porque que ele escreveu isso? Confesso que enquanto profissional da imprensa, fico muito triste, porque sei quais os interesses que estas pessoas defendem. CN – Está claro que grande parte da imprensa sergipana está amordaçada neste pleito. A maior parte não é culpa dos profissionais, mas de quem comanda os meios de comunicação. Você avalia que falta respeito aos jornalistas e radialistas em Sergipe? MA – O nosso problema é que como somos um Estado em que a principal fonte financeira é o dinheiro público, principalmente os recursos do Governo do Estado. Desta forma, os meios de comunicação que não estiverem aliados ao gosto do governante de plantão, fica completamente alijado do processo, e não recebe um centavo para divulgar as ações governamentais. Veja o exemplo da emissoras Rádio Xingo, de Canindé do São Francisco e o da Rádio Capital do Agreste, de Itabaiana, cuja ordem é não enviar um centavo sequer de publicidade, e porque? Porque os proprietários destas emissoras não estão alinhados politicamente ao grupo que governa o Estado atualmente. Quanto os profissionais, sabemos que existem aqueles que estão revoltados com esta situação, e que gostariam de viver em um cenário diferente, onde o governante respeitasse a sua opinião. Aqui eu gostaria de fazer uma referência ao ex-governador Albano Franco, que nunca, nem ele, nem nenhum assessor seu, invadiu a redação de um veiculo de comunicação e exigiu que a manchete fosse essa ou aquela, ou ligasse para um dono de emissora e pedisse a demissão de um radialista porque este lhe fez uma crítica. O que estamos vivendo hoje é algo que ultrapassou a linha do imaginário, estamos vivendo num Estado onde foi decretado um AI-6. CN- Os três homens que lhe agrediram, você não acha que pela forma de espancar, através de tapas para não deixar marcas, o carro sem placa não fazem parte de alguma segurança especial? MA – Confesso que não consegui, naquele instante, assimilar nada. Quando eu os ouvi lá no corredor do Hospital, gritando “Cadê ele?”, “Onde ele está?”, eu não imaginei que estariam ali para fazer o que fizeram comigo. Pensei inclusive que fossem familiares de algum paciente e que estavam procurando pelo mesmo. Lá dentro é muito complicado, as pessoas o tempo todo estão sob tensão, afinal ali é o lugar onde a morte está presente de forma real, os profissionais que ali trabalham precisariam receber um tratamento muito especial, eu fico imaginando como é que eles chegam em casa depois de um dia de trabalho. Mas enfim, quando eu os vi não pensei que estivessem à minha procura. Quando eles se aproximaram de mim, um deles me deu um tapa na cara e disse: “É você mesmo cabra safado”, neste momento, perplexo eu disse: “O que foi? Qual o problema?”, e a partir daí só me lembro que levei muitos tapas, todos na cara, eles me arrastaram pelo corredor até a recepção, quando lá chegamos eles me jogaram no chão e começaram a me chutar, foi que eu consegui me levantar. Eles então correram e depois eu descobrir que os mesmos foram até o carro onde estava a equipe e pegaram a câmera, fugindo em seguida num carro sem as placas policiais. Qualquer informação que eu passar será mera especulação e não serei irresponsável em suspeitar de “A”, ou de “B”. Quanto as três pessoas que fizeram isso comigo, eu peço a Jesus Cristo que ilumine a cabeça deles, e consiga dar a paz às suas vidas. CN- Qual o recado que você deixa para os colegas de imprensa que num momento destes preferem ficar do lado do agressor ou até mesmo se omitem, esquecendo que amanhã pode acontecer o mesmo com eles? MA – Eu falei anteriormente que cada um oferece aquilo que tem. Se um profissional de imprensa, acha normal emitir um comentário, levantando suspeitas sobre aquele que foi barbaramente agredido na presença de muita gente, que ali estava e presenciou tudo, pessoas inclusive que ouvem os programas de rádio, pessoas que lêem os jornais onde eles escrevem, e não se preocupam em estarem ferindo a verdade, apenas para atender aos interesses da fatura no final do mês, é um problema de cada um. Eu teria vergonha de olhar para os meus filhos, principalmente as duas adolescentes, que já fazem o seus próprios juízo de valores e ter que baixar a cabeça, com vergonha. Imagine eu ter que olhar no espelho pela manhã e encarar a minha consciência me torturando, me chamando o tempo todo de hipócrita, mercenário, mentiroso e o que é pior, ao fazer uma reflexão, ter a certeza que estou fazendo parte de uma coisa monstruosa, apenas para desqualificar alguém que o sistema não está satisfeito. Quanto ao amanhã, o amanhã a Deus pertence (me lembrei agora de Betão, um ouvinte do Radialista Fábio Henrique), que usa essa expressão, tão verdadeira. Mas é importante frisar que, apesar de pertencer a Deus, o amanhã a gente constrói, com nossos atos e nossas ações. Para finalizar, gostaria de citar um ensinamento bíblico: “A semeadura é livre, quanto a colheita, ah, a colheita é obrigatória”, ou seja, nós somente podemos colher amanhã, o que estamos plantando hoje. Obrigado de coração pelo espaço concedido. Frase do Dia “A imprensa brasileira tem sido vítima de violência de toda ordem: agressões, ameaças, e a mais cruel de todas elas, a que sentencia com a morte profissionais que apenas estão no exercício da atividade profissional do jornalismo, que é livre porque a sociedade exige e a Constituição Federal consagra”.De Mário Gusmão, vice-presidente da Associação Nacional de Jornais – ANJ.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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