A campanha de Marcelo Deda, José Eduardo Dutra e Lula em Sergipe, ganhou este ano um reforço substancial que mobilizou profissionais liberais, estudantes e militantes de vários partidos num movimento suprapartidário denominado Liberte-SE. O movimento foi iniciado através do pequeno empresário Jorge Moreira (idealizador do nome), do advogado Luiz Eduardo Oliva, do biólogo Genival Nunes, dos professores Alex Nascimento e Mascarenhas e o do jornalista Zoroastro Sant`Anna. Desta entrevista descontraída realizada na última sexta-feira no restaurante Teimonde, participaram Luiz Eduardo Oliva, Genival Nunes e Alex Nascimento. Além do papel do movimento Liberte-SE no processo eleitoral, eles falam também do futuro do movimento e do papel da imprensa no processo eleitoral deste ano. Cláudio Nunes – O que significou o movimento Liberte-SE na eleição deste ano em Sergipe? Genival Nunes – Na minha avaliação significou uma autêntica militância. Uma militância que viu um ponto de convergência de que o Liberte-SE não é um movimento partidário do PT, do PCdoB ou de outros partidos e por isso muita gente se aglutinou em torno da marca, da idéia e da filosofia do movimento. Embora não tivéssemos muito tempo para articular isso, porque foi algo em torno de um mês para montar toda estrutura do movimento, com suas atividades. Desde a primeira reunião no Teimonde, onde éramos seis e passamos a 300 em apenas 10 dias. A sociedade viu no Liberte-SE um ponto de aglutinação. A verdade é que o povo estava cansado de João Alves e procurava uma maneira de falar isso. A classe média foi o setor que nós mais atingimos, embora o opositor tenha vencido em algumas seções, nós conseguimos minar através de uma mobilização autentica, sem ser paga, onde um advogado, um jornalista ou um professor empunharam as bandeiras em pleno meio dia num sol quente de rachar. Isso só pode ocorrer através de um movimento que tem credibilidade, é autentico e com compromisso. Fizemos o nosso quartel general no Teimonde, embora esse movimento tenha uma cara mais anárquica, mas nós temos uma organização. E nós fizemos o qg no Teimonde porque acreditamos que fazer política não é ser sisudo e nós temos nosso momento de alegria, nosso ponto de fortalecimento das idéias. O nosso primeiro ato saiu do Teimonde, com cerca de 50 pessoas com bandeiras e saímos até o Coqueiral. Naquele momento vimos que tinha algumas falhas, como uma identificação mais objetiva do movimento e aí colocamos algumas bandeiras vermelhas com os nomes de Deda, Dutra e Lula, já que nas bandeiras e nos adesivos não tínhamos nada que identificasse o número 13. Depois acabou-se os adesivos e chegamos a vender camisas que também acabaram. Nossas atividades foram de uma política alegre e feliz, já que o povo precisa entender que felicidade é uma conquista e é uma libertação diária. CN – E qual o sentimento maior para o surgimento deste movimento? Luiz Eduardo Oliva – O movimento Liberte-Se se dá na verdade no anseio reprimido que estava da militância. A principio, do ponto de vista de militância especificamente a candidatura de Deda estava focada nas candidaturas majoritárias, Deda e Zé Eduardo e nas candidaturas proporcionais. Havia, no entanto muitos eleitores que estavam querendo aderir à campanha, mas não queria aderir especificamente a um candidato, queriam apoiar Deda e Zé. Por outro lado víamos o tal do movimento 25 nas ruas e do ponto de vista de uma militância livre de qualquer candidato proporcional não tínhamos isso. Daí recebi um telefonema de um amigo de longas datas, Jorge Moreira que diante dessa inquietude trouxe a idéia relativamente pronta. Depois liguei para Genival Nunes e outros amigos e senti que as pessoas queriam abraçar este movimento. Depois tivemos o apoio do Comitê Central e logo após já tínhamos 300 pessoas no lançamento. Temos a idéia de que o Liberte-SE não é um movimento estanque. O próprio nome já diz, é Liberte-SE em dois sentidos, o SE maiúsculo tem vários sentidos. Liberte-se Sergipe que não pode ser um feudo de João e Albano. Não é nenhum chavão, a geração de sergipanos de 30 anos não enxergou outros senão os Francos e João Alves. No intervalo teve Valadares, mas que não era o de hoje. O Valadares de hoje é o da esquerda, do PSB, que surpreendeu-me na medida em que ele saiu do PFL e veio apenas somar. Ele realmente é um exemplo da reciclagem de um homem que teve a visão do futuro. Então não posso comparar o Valadares governador com o Valadares de agora. Então essas gerações mais novas não tiveram a oportunidade de sentir as mudanças e o Liberte-SE chegou neste sentido de libertar Sergipe. E libertar numa posição livre de militância que foi para as ruas e continua agora pró- Lula. E tenho a impressão que este movimento não acaba com a campanha. É um movimento que vai para os bairros, fazer algo diferente, como por exemplo, a Ponta da Asa, no Japaozinho, onde há mais de 20 anos que você vê cartazes de João e Maria, onde o povo é sustentado com cestas básicas e sopão e ninguém teve atitude de libertar aquele povo. Isso é uma forma como era na escravatura de manter o povo nas suas próprias amarras. E o Liberte-SE pode ir para lá despertar esse povo. É um movimento libertário e por isso é anárquico na sua composição, mas não é solto, onde existe uma organização, onde futuramente pretende ter funções mais definidas para que tenha uma atuação em Aracaju e em Sergipe. Quiçá seja um movimento libertador não só para uma eleição, mas para uma nova forma de pensar Sergipe. ”Nossas atividades foram de uma política alegre e feliz, já que o povo precisa entender que felicidade é uma conquista e é uma libertação diária”. Biólogo, Genival Nunes. CN – Qual foi o momento que foi o ápice do Liberte-SE nesta campanha nas ruas de Aracaju? Alex Nascimento – Sem dúvida alguma, o 7 de setembro foi especial. Por uma série de razões porque era um teste para saber a receptividade popular em torno do movimento. Quando chegamos na avenida, em torno de 200 pessoas quase todas com bandeiras, a forma como as pessoas se manifestaram em torno do Liberte-SE foi algo extremamente estimulante. Tanto é verdade que o governador Deda entrou em contato conosco e pediu que nós o acompanhasse ao longo da avenida, porque o próprio comitê já havia informado da recepção calorosa em torno do Liberte-SE. Esse foi o momento mais bonito da campanha. Agora todas as atividades do movimento foram feitas com muita alegria e espontaneidade e isso não só foi um aspecto para contagiar a população, mas manteve a empolgação das próprias pessoas que estavam à frente do Liberte-SE. CN – É verdade o movimento não foi formado apenas por petistas e existem pessoas de vários outros segmentos políticos? Genival Nunes – Esse foi o lado mais interessante. Acho que a maioria dos militantes do Liberte-SE não tem partidos. Agora temos militantes de várias legendas, por exemplo, eu só petista, mas em nenhum momento tentamos capitalizar isso. Por exemplo, tem o médico Servulo e a esposa Sandra que são do PSB e várias pessoas do PMDB que também estão na linha de frente. É um movimento suprapartidário, um movimento pela liberdade de alegria em relação à política. Alex Nascimento – É extremamente curiosa a forma como se construiu um relacionamento de amizade. Entre todas as conquistas do movimento algo bastante positivo do Liberte-SE é essa relação de amizade, esse companheirismo e o desejo de contribuir não só com as candidaturas de Deda e Zé Eduardo e agora de Lula, mas o desejo do movimento de construir uma série de ações para a sociedade. “Entre todas as conquistas do movimento algo bastante positivo do Liberte-SE é essa relação de amizade, esse companheirismo e desejo de contribuir não só com as candidaturas de Deda e Zé Eduardo e agora de Lula, mas o desejo do movimento de construir uma série de ações para a sociedade”. Professor Alex Nascimento. CN – Como o movimento pretender abrir outras discussões com a sociedade sergipana? Luiz Eduardo Oliva – Vou lembrar até de uma frase do Genival Nunes, de que o Liberte-SE tem que ser também um movimento do pensar politicamente. Nós somos de classe média, que é pensante e formada por profissionais liberais e funcionários públicos. O movimento não tem amarras nenhuma. Nós queremos liberta-se partindo da idéia de que a liberdade parte do pensar livre, através da reflexão e do questionamento. E vamos questionar permanentemente. A gente não está apenas para apoiar, mas também para questionar e advertir. Dizendo que achamos que o libertar do sergipano pode ter essa condução, com todo respeito. Nós apoiamos porque acreditamos nas políticas de Deda, estamos engajados nela, pretendemos participar efetivamente desta ação, mas dentro de uma ação crítica e autocrítica. O Liberte-SE é um movimento ainda embrionário que deve partir para discutir o Estado, já temos um site e vamos abrir essa discussão, tendo reuniões pontuais em termos de pontos políticos. Sergipe não tem hoje infelizmente este pensar de grupos como teve no passado. Hoje tem um grupo do Conselho de Economia, mas pela massa crítica que o movimento possui com profissionais liberais de todas as áreas temos condições de dar essa contribuição ao novo momento de Sergipe e também do país, porque acreditamos na vitória de Lula, dentro da idéia do que é bom para o Brasil é melhor para Sergipe. Este é o momento fundamental para dizer a população e mesmo aqueles que votaram contra Deda que não podem deixar de lembrar que o alvo principal agora é o Estado de Sergipe, que pode ter um governador amigo do presidente com toda amizade e abertura, que pode significar a perspectiva de transformar Sergipe num Estado modelo para o país. Sergipe tem uma história importante nacionalmente, quando este pequeno Estado deu tantos nomes e cabeças fantásticas para que o Brasil pudesse pensar diferente como foi o caso da Escola do Recife, que mudou completamente o pensamento nacional através de nomes como Tobias Barreto, influenciado por outros sergipanos com Manoel Bomfim, Silvio Homero, João Ribeiro,Gumercindo Bessa, Manoel de Oliveira Teles e tantos outros que mostraram que este pequeno Estado tem uma energia fantástica de exportar talentos e quem sabe exportar modelos de gestão pública através de Marcelo Deda. “Tem um lado da imprensa que realmente se verga, outro lado que silencia porque não tem para onde correr precisa sobreviver, e alguns poucos que continuaram com o compromisso com a verdade e pode até pagar um preço caro. Infelizmente é um sistema de terrorismo só comparável a ditadura de 64”. Advogado, Luiz Eduardo Oliva. CN – Qual a analise sobre o papel da imprensa na eleição estadual deste ano? Luiz Eduardo Oliva – Lamento muito e compreendo também. Lamento que a imprensa esteja amordaçada literalmente. Ela está amordaçada de algumas formas. A primeira delas é ideológica, que passa pela cabeça de vários colegas que pensam de outra forma. Um exemplo foi no início da apuração, quando pessoas até da minha da amizade pessoal, como Carlos Magalhães e outros, entram numa esfera absurda e estúpida, parecendo àquela história do rei está nu, divulgando apenas onde João Alves estava vencendo. Que estupidez. Brecht numa peça chamada Galileu Galilei disse, aquele que não conhece a verdade é estúpido e só, mas aquele que a conhece e a renega é criminoso. Me desculpe os meus amigos da imprensa, mas aquela atitude foi criminosa e não posso pensar diferente, porque qual era a intenção por trás daquilo. Não posso estar dizendo uma coisa que está caminhando em outro sentido. Fui o primeiro repórter do Jornal da Cidade, sou filho de um velho jornalista da Academia Sergipana de Letras, e num momento da minha vida minha paixão era a imprensa e quem conhece a realidade local sabe como é difícil a situação financeira da maioria. No ano passado, o governo do Estado gastou R$ 30 milhões em publicidade, mas quanto ficou para quem faz de fato a imprensa?. Quase nada. Isso vai para os donos dos meios de comunicação e para uma elite. Tem um lado da imprensa que realmente se verga, outro lado que silencia porque não tem para onde correr precisa sobreviver, e alguns poucos que continuaram com o compromisso com a verdade e pode até pagar um preço caro. Infelizmente é um sistema de terrorismo só comparável a ditadura de 64. Existe uma ditadura real de força que coloca as pessoas na cadeia, mas existe outra ditadura, a psicológica que não sei qual é a pior das duas e infelizmente Sergipe vive sobre a égide desta última. Espero que a imprensa tome como lição. Fazer pesquisas, como o Cinform fez, peço desculpas até meu amigo Jozailto, e depois sai com um editorial, o último publicado, querendo explicar o inexplicável pensando que nós somos bobos. Ora Jozailto, ora Bomfim quem lê seu jornal são pessoas esclarecidas. A gente lê aquilo meio aborrecido como se tivesse pedindo arrego. E pergunto, como é que vai viver agora essa imprensa que depende do Estado. Não propomos a retaliação, mas se naquele momento a relação pareceu de grana, de quem pagava mais e agora como é que fica?. Se formos tratar com o mesmo padrão estamos achando que o governo Deda é a mesma coisa do governo João. Ou seja, não é que vá se beneficiar os demais, mas tem que ter um tratamento diferenciado com quem acredita e com quem não acredita. Porque se de repente a gente vê as pessoas que acreditaram serem tratadas igualmente com as que não acreditaram e trabalharam contra, nas próximas eleições vamos ficar todo mundo à vontade, ninguém vai pegar na massa. Mas temos a certeza que com Deda não será a mesma coisa é por isso que o momento é de liberdade e de libertação. Já disse a Deda no comício com Lula, sendo bíblico, esteja com a verdade e a verdade vos libertará. Genival Nunes – Tem um pensamento de Voltaire que diz posso não concordar com a sua opinião, mas vou defender até a morte o seu direito de expressá-la. Se tivesse uma ideologia, uma formatação política seria até viável, porque um meio de comunicação pode tomar partido. Porém foi notório que a imprensa foi manipulada. No dia da apuração, ainda às 5h15, as pessoas ainda votando e esse falso resultado saindo por conta da manipulação e nós estávamos na sede do Liberte-SE, onde passavam pessoas de João Alves tirando chacota. O comitê do Liberte-SE ficava relativamente próximo ao comitê do PT e um helicóptero da polícia passou bem baixo, por cinco vezes, entre o Liberte-SE e o PT. Ele estava tão baixo que um amigo nosso deu uma banana e o cara respondeu com outra. Juntando este fato com o resultado, qual a lógica disso tudo, até hoje não consegui entender. Estes fatos ficarão marcados na história de Sergipe. Alex Nascimento – A mudança será completa. O que os que fazem a imprensa podem ter tranqüilidade é que um novo tempo na comunicação de Sergipe será construído, onde os jornalistas terão liberdade para emitir suas opiniões e reflexões fazendo um jornalismo mais verdadeiro e o Liberte-SE quer ser parceiro da imprensa na construção desta verdade e desta mudança.
Da esquerda para direita: Genival Nunes, Alex Nascimento e Luiz Oliva, integrantes do movimento Liberta-SE.
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