Novo ano. Vida renovada.
2019; nunca almejei chegar aqui, em tantas décadas acumuladas de bênçãos de Deus, é verdade!
Tudo é dom de Deus, mesmo para quem crê pouco como eu.
Digo pouco, porque sou preso às amarras da racionalidade.
Teimo em pensar diferente do comum padrão que nos obriga a atitudes genuflexas.
E o homem não nasceu para restar de joelhos em submissão de quem rasteja em gatinhas, ou engatinhando como assim se faz enquanto a vida não conhece as primeiras quedas.
Porque quando se cai, por primeiro, o bebê-homem aprende a levantar-se e erguer-se em desafio permanente.
A vertebral coluna ensina-o a contorcer-se, equilibrar, realizar meneios de mesuras, excessos de desenvolturas, e daí por escolha do seu querer talante, em bom apuro ou deselegância, proceder com excesso de retidão ou exibir carências de compostura.
E porque é assim, os cerimoniais das solenidades existem para exercer a sua serventia; melhor infirmar comportamentos e consentia.
Porque os homens não sabem se comportar quando constituem massa reunida; há momentos de vaiar, aplaudir e bajular.
Em tempos idos tal consentimento exigia excedente sabujar por juras de fidelidade e suserania.
Hoje ninguém se curva em juramento eterno, firmando total fidelidade ao rei, à lei, à própria estirpe e até a uma eventual divindade.
Se os “heróis (de muitos) morreram de overdose”, no dizer do poeta falecido bem jovem, até os deuses da maioria restam esquecidos nos templos.
Os deuses e credos antigos não mais preenchem o coração do homem, quando o ecumenismo cedeu lugar ao relativismo inútil de todas as crenças.
E quem não pensa assim, já está sendo acusado de retrógrado, fundamentalista, preconceituoso, cultor de quimeras, que nem os racionalistas e enciclopedistas jamais pensariam em culto à des-razão, e excesso de racionalidade.
Hoje o culto exigente é o “globalismo”, esta nova moda que nivela todo estuário pensar numa espécie de lagoa de estabilização onde as enzimas degradam tudo.
Porque assim tudo resta melhor, em miasma palustre.
Algo que sólido ou líquido se desmancha no ar e pode bem alimentar uma pira sacrificial.
Tudo isso, todavia, é simples utopia alucinante, afinal “se os homens são iguais, há homens que são (e continuam) mais iguais que outros”, como dissera George Orwell no meu tempo de lactente e continua ainda.
E esta descaracterização do livre pensar; sem regra, sem rito, sem orações, antífonas jaculatórias, sem sacramentos e mandamentos, e, sobretudo, sem compromissos, me vem a cabeça neste ano novo, ano 2019, de Nosso Senhor Jesus Cristo, e também quando acontece a posse dos novos governantes.
Eis que 2019 chega com o deus Janus, olhando para frente e para traz, parecendo-me mirar bem mais para traz do que para frente, pelo menos no contexto da nossa Democracia e do Presidente Jair Bolsonaro recém-empossado.
O Presidente Jair Bolsonaro foi eleito, é bom repeti-lo, sem conchavos, sem dinheiro, surrado por toda imprensa nacional, execrado por todo universo formador de opinião, o pelotão puxado pelos grandes colunistas globo-paulistas, e todo seu longo cordão repentista, em mesmo eco, timbre e falsete, de amplo pensar corifeu, provinciano e paroquial. E tão pouco inspirador, por inseminado, sem pai ou encubação, que o fizesse diferente.
O diferente, todavia, fora o Capitão ter suas ideias, tão esdrúxulas, disformes e absurdas, no amplo bem pensar beletrista, serem bem aceitas em maioria.
Contemplou-se então aquilo sempre dito do eloquente discurso: o bom orador obtém seu aplauso quando consegue dizer aquilo que o auditório deseja ouvir.
E o auditório nacional estava farto de tantos formadores de opinião que se refestelavam com suas visões de mundo varridas desde o tempo da guerra fria, e que não foram recolhidas como cisco da história.
Porque nunca houve tantos seguidores de Lênin e Stalin, e seu antípoda Trotsky, de Castro e Guevara, para quem nunca valia perder a ternura, tantos adoradores de Mao, PolPot, terríveis ditadores marxistas, uma massa que era então rija, dura e perigosa por dogmática, alguns até pegando em arma de luta armada contra o Capital, e que lhe restou subserviente, após a anistia e queda do muro de Berlin, mas que conseguiu superar seu atraso e inconformismo numa amorfia tão insinuante que ninguém como estes conseguiram se infiltrar e preencher os meandros das engrenagens públicas, o poder para exercer o melhor compadrio e utilidade, a bom soldo, de que ou de quem, lhes garantisse melhor paga.
Pois bem! O resultado eleitoral, com a escolha de Presidente Bolsonaro, se não fez uma derrubada em regra no opinar dessa gente, deu-lhe uma pancada nunca vista a consignar rejeição
Como só se enxerga o que se quer, Janus começa o ano e o novo mandato presidencial com rosto mirando bem mais o ontem que o amanhã.
Vê-se logo que o Capitão Presidente tem todos e mais meio mundo de gente contra ele.
Pelo noticiário já se vê que o problema não será o PT, Lula e seus seguidores, nem os escassos defensores dos candidatos rejeitados no último pleito, que em tese deveriam exercer o papel fiscal no respeito à regra e a permanência das instituições
O problema residirá na grande imprensa: a rede Globo, por conter os maiores derrotados e seu naipe de ilustrados pensadores do mesmo lugar comum, os Jornalões Folha e Estadão, cujos articulistas amolam seus cutelos para fatiar os arroubos do Mito, e todos que os seguem e reverberam, em cacoete que até Hannah Arendt os inseriria em outra vertente boçal de “banalidade do mal”.
Porque no nosso meio nem a Democracia e com ela a escolha eleitoral plena, como ocorreu em fato inédito, por ausência de apoios partidários, tempo de televisão escasso, sem marketing e com pouco dinheiro envolvido, os discursos cerimoniais pronunciados por Rosa Weber na Diplomação dos eleitos, e Eunício Oliveira na entronização do novel Presidente revelam que tudo é mito; um mito boçal!
A nossa democracia é: para assim, também ser; boçal!
Tanto que a Ministra Weber entende que a Democracia requer que as maiorias se curvem às minorias.
Assim exige a Lei. Conclui a louríssima pouco weberiana. Algo bem consistente ao globalismo, enquanto ideal heresia dos tempos modernos.
“In-seminal” ou parecido, ao que disse o Eunício senador que não viu na sua derrota nas urnas um recado desaprovador, em ferro e fogo do seu eleitorado.
E assim eu volto a Janus como o seu olhar virado para frente: Vê-se logo que o novo Presidente será como no passado um refém do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Ministério Público em mansas falas femininas, todos reunidos para fazer do mito, um palito de espalitar dentes de seus refestelos e conveniências: uma espécie de Rainha da Inglaterra; portador de um diploma “mobral” em simbologia somena.
– “Mas, não foi assim que o povo firmou o seu recado!” – Grita para mim um incrédulo.
Que eu não esteja errado. Penso, que tudo vai restar assim, afinal por tradição e História, o povo brasileiro se reúne melhor seguindo o bloco e uma boa batucada.
E porque é assim, logo, logo virá fevereiro, empossa-se o novo Congresso e começa a esbórnia de Carnaval.
Feliz 2019 a todos!