Estado acusa o golpe

Críticos do Banco do Estado de Sergipe argumentam que a instituição financeira sergipana vai perder a conta salário da Prefeitura de Aracaju porque não está preparado para atuar no cada vez mais concorrido mercado financeiro. Pode ser. Os argumentos em defesa do Banese, por outro lado, tem sido mais bairristas do que técnicos. Mas isso não diminui o efeito do duro golpe que o banco recebeu. Golpe já acusado, embora ainda não assimilado, como se diz no jargão do boxe. "Não vai levar o banco a nocaute, mas o atinge duramente, porque se trata da segunda maior clientela que o banco possui, somente inferior ao funcionalismo estadual", observa um analista, que prefere não ser citado por razões de mercado.

O secretário municipal da Fazenda, Nilson Lima, defende a venda da folha, como previsto no Edital de Pregão Presencial Nº 006/2013, como uma necessidade da Prefeitura de Aracaju de arrecadar, pelo menos, R$ 40 milhões, a título de compensação financeira, mas também como uma "adequação à lei federal que assegura o direito à portabilidade aos servidores para escolha do banco pelo qual recebem seus salários".

Ele lembra que iniciativa semelhante já vem sendo adotada, "há vários anos, sem oposição de resistência significativa, por quase todos os Estados e capitais, além de vários municípios sergipanos, a exemplo de Nossa Senhora do Socorro, Propriá e Lagarto". E considera equivocados os questionamentos apontando "suposto enfraquecimento" do Banese por conta da operação.

Nilson assegura que, consumada a nova relação contratual, "a Prefeitura manterá os mesmos procedimentos atuais, no tocante ao depósito de suas disponibilidades de caixa, ou seja: recursos originários do Governo Federal, serão depositados no Banco do Brasil ou na Caixa; os originários do Governo do Estado, no Banese, que também continuará recebendo o depósito das disponibilidades de caixa obtidas pela própria Prefeitura de Aracaju".

Quando, nos anos noventa, os bancos estaduais foram privatizados, o principal ativo na valorização dos preços de vendas era a folha de pagamento do funcionalismo, mais até do que as contas que os governos mantinham com recursos por eles depositados, oriundos de operações de crédito e de arrecadação tributária. Nos contratos de venda dos bancos, inclusive, vinculava-se a manutenção da folha de pagamentos por alguns anos.

Passados esses prazos, alguns governos estaduais voltavam a vender periodicamente a folha de pagamento por meio de editais. Em 2010, por exemplo, o Bradesco adquiriu a folha de pagamento dos funcionários do Estado de Pernambuco por R$ 700 milhões. E, em 2012, o mesmo bancão paulista adquiriu o Banco do Estado do Rio de Janeiro, pagando R$ 1,8 bilhão pelo extinto Banerj e pelo direito de gerir a folha estadual por três anos.

Depois que os lucros fáceis do período inflacionário cessaram, levando inclusive muitos bancos privados à quebradeira, a exemplo do Bamerindus e do Banco Nacional,  sobraram poucos bancos estaduais da onda de privatização dos anos noventa. Com as dificuldades financeiras que enfrentavam, os bancos estaduais passaram a ser uma opção muito oportuna dos Estados fazerem caixa.

Restaram, então, apenas cinco bancos estaduais e, no Nordeste, só o Banese sobreviveu à tempestade e à fúria privatizante. O banco sergipano passou por dificuldades, recuperou-se e hoje é um banco viável, com ações que remuneram muitíssimo bem seus acionistas, como publicado neste caderno no domingo passado. Graças às "boas práticas de governança corporativa".

Em estado saudável, o banco desperta mais cobiça. O analista citado acha que, na visão imediatista de alguns prefeitos, o Banese é apenas uma fonte para patrocinar alguns eventos culturalmente duvidosos. "E os prefeitos ficam insatisfeitos porque não recebem tudo o que pleiteiam, nessa fome insaciável de recursos para promover os ditos eventos culturais".

Mas a principal função que o banco cumpre, lembra ele, é levar crédito e promover a bancarização da população, principalmente no interior, graças à capilaridade que possui em todo o território sergipano. Embora também desenvolva atividades de alto valor cultural, a exemplo do Museu da Gente Sergipana, cartão postal de Aracaju, mantido pelo Instituto Banese.

Em janeiro de 2012, foi introduzida a portabilidade de conta, que permite aos funcionários escolherem em que instituição bancária desejam manter a conta salário. Passados quase dois anos, por questão de fidelização, a maior parte dos funcionários estaduais e municipais mantém a conta salário no Banese, ainda que uma parcela deles a tenha  transferido para outros bancos, principalmente para o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Essa clientela é uma fonte importante de rendimentos para o Banco, porque uma parcela expressiva dos clientes mantém cartões de crédito e utiliza com frequência o crédito disponível na conta corrente. Mas a exemplo de experiências de outros estados, quando um novo banco adquire a gestão da folha de pagamento de uma prefeitura e de um estado, uma parcela muito significativa transfere a conta salário para a outra instituição, em função de vantagens ofertadas por esse novo banco, como crédito automático, cartões de crédito em condições especiais etc.
"O Banese vai ter que suar para não perder muitos clientes", prevê o analista, acreditando, no entanto, que uma parcela grande dos funcionários deve permanecer no Banese, em função da relação estabelecida com os clientes ao longo dos anos e em razão da capilaridade de sua rede de agências e correspondentes bancários.

Saneado financeiramente e apresentando uma expansão vigorosa no financiamento às famílias e às empresas de Sergipe, o Banese voltou a gerar lucros expressivos, o que ajuda nas finanças do Estado, seu principal acionista. Isso é uma coisa. Vender a gestão da folha de pagamento e das contas municipais para levantar recursos que viabilizem seus investimentos é outra coisa, é uma escolha da Prefeitura. "Mas é uma escolha contra o Banese e contra Sergipe", finaliza o analista.

Ela adverte que a discussão que brotou após o anúncio da venda potencializou o golpe, porque atingiu a imagem do banco. E, para uma instituição financeira, que vive de credibilidade, atacar a sua imagem é mais grave do que retirar as contas do município.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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