Falsa Gorda – Efeito Estufa

Algumas mulheres incham todos os meses, antes de menstruar. Outras, só de vez em quando, como uma reação alérgica ou efeito colateral de um remédio. Quase sempre o inchaço é desconfortável, mas não grave. Aqui, algumas pistas sobre as causas mais comuns.

– OS CULPADOS DE SEMPRE
 
VARIAÇÃO HORMONAL
O inchaço é um ingrediente comum da tensão pré-menstrual. Nessa fase, o aumento do nível de estrógeno no sangue provoca variações no organismo como um todo, influindo, inclusive, no funcionamento dos rins, que então filtram e eliminam menos líquido. Isso explica por que a um ou dois dias da menstruação muitas mulheres sentem o corpo inchado ou, o que é mais comum, as mamas muito sensíveis. Passados os dois primeiros dias do sangramento, esse acúmulo de líquidos recua e o corpo retoma a sua normalidade. Co­mo nem todos os especialistas concordam com o uso de diuréticos nesse período, a melhor alternativa para tentar controlar o problema é reduzir a quantidade de sal na alimentação, já que o sal propicia a retenção de líquidos e, conseqüentemente, o inchaço.

VARIZES
Quem passa muito tempo em pé normalmente termina o dia com as pernas inchadas, um problema que pode vir acompanhado pela sensação de peso e formigamento. Aqui a causa -genética- é a mesma das varizes. Existe um mecanismo de válvulas que precisa funcionar direito para que o sangue não fique parado nas veias das pernas – quando ocorre essa estagna­ção do fluxo, aumenta a pressão dentro do vaso sangüíneo e as pernas incham. As válvulas não têm conserto, mas o problema pode ser amenizado com simples mudanças de hábitos: ca­minhada e ginástica, por exemplo, ajudam a fortalecer a musculatura das pernas e essa massa muscular detém a dilatação das veias, além de impulsio­nar o sangue para cima. Pela mesma razão, é bom evitar o salto alto: quanto mais longe do chão, menos o pé exercita a musculatura. Outra alternativa é a meia elástica, que desempenha o mesmo papel da musculatura, pressionando as veias. Colocar as pernas para cima também alivia a sensação de peso: aqui, é a lei da gravidade que dá uma mãozinha ao fluxo do sangue.

VIAGEM DE AVIÃO
A falta de movi­mento e o efeito da gravidade ajudam a entender por que é tão difícil calçar o sapato depois de passar várias horas sentada dentro do avião. Com dificuldade de seguir seu fluxo, o sangue estaciona nas veias dos pés e das pernas e o excesso de líquido que se acumula entre os tecidos provoca inchaço. Não se sabe por que algumas pessoas têm pro­pensão a esse inchaço e outras não. Mas a situação sempre tende a se normalizar algumas horas depois do desembarque.

ALERGIA
Maquiagem, cremes ou mesmo um sabonete diferente podem desencadear um processo alérgico com um inchaço repentino, especial­mente no rosto, onde a pele é bastante sensível. Em outras partes do corpo, o mesmo produto muitas vezes só provoca uma reação de vermelhidão. Ca­sos desse gênero demonstram que o inchaço também pode funcionar como uma estratégia de defesa do organismo: agredido, o corpo reage liberando maiores quantidades de líquido da cor­rente sangüínea; esse fluxo extra tem a missão de conduzir até a região afeta­da substâncias que podem neutralizar o agente agressor. A mesma reação pode ser detonada por um alimento, inchando os lábios ou o interior da boca – nessa circunstância, o inchaço só cede quando a causa é controlada.

PÍLULA E REMÉDIOS
Se o problema se espalha pelo corpo ou fica concentrado nos pés pode existir uma relação com o uso de antiinflamatórios, corticóides ou pílulas anticoncepcio­nais. Como outros, esses medicamentos contêm substâncias que alteram o funcionamento dos rins. Na prática, os rins passam a reter mais água e sal, ocasionando o acúmulo de líquidos. Dependendo da intensidade desse tipo de efeito colateral, médico e paciente devem cogitar se tal medicamento deve ser suspenso ou substituído.

TRAUMAS
Depois de um tombo ou de uma pancada é normal que a região afetada inche. Nesse caso, o sintoma é o resultado de um mecanismo inflama­tório de autoproteção, que altera de propósito a permeabilidade dos vasos sangüíneos do local afetado. A idéia é propiciar o vazamento de líquidos ­fluidos corporais que circulam constantemente pela corrente sangüínea-,que, então, passam a funcionar como condutores de substâncias que o próprio organismo disponibiliza para re­parar o que foi danificado. Passado o trauma, o inchaço tende a recuar.

ALTAS TEMPERATURAS
No verão, é comum que o sapato aperte e o anel fique preso no meio do dedo. Quando a temperatura externa sobe o corpo reage produzindo uma dilatação dos vasos sangüíneos periféricos ­– uma operação que favorece a perda de calor. O resultado dessa reação é um. inchaço discreto, que acontece principalmente nos pés e nas mãos.

– AS CAUSAS MAIS GRAVES

DOENÇAS CARDÍACAS
Pés e pernas constantemente inchados podem estar sinalizados problemas de insuficiência cardíaca ou de outra disfunção no coração. Esse quadro, muitas vezes, começa do mesmo jeito que aquele inchaço provocado por varizes: aparece sempre no final do dia e principalmente nos pés e nas pernas. Mas, diferente das varizes, neste caso é o coração que não tem força para bombear o sangue de volta. Essa falha propicia um aumento da pressão e a maior concentração de sangue nas veias. Com o tempo, esse tipo de inchaço normalmente sobe, avançado para outras partes do corpo.

DOENÇAS RENAIS
Os rins precisam estar em ordem para que os líquidos sejam eliminados do organismo no volume certo. Se o inchaço é freqüente e a causa parece obscura, vale a pena investigar com um médico para descobrir o que sta comprometendo esses órgãos. Em geral, o líquido retido se acomoda nos tecidos mais flexíveis, que ficam bem debaixo da pele – por isso, é comum despertar com o rosto inchado (especialmente pálpebras) depois de uma longa noite de sono. No decorrer do dia, em função da postura, são os pés e as pernas que costumam inchar. Os rins podem não estar funcionando bem por causa de inflamações, infecções ou porque estão sendo afetados por problemas crônicos, como pressão alta ou diabetes.

DOENÇAS HEPÁTICAS
Se o fígado está debilitado, como nos casos de cirrose, pode ocorrer um inchaço típico na região do abdômen. Nessa situação, o organismo deixa de produzir uma proteína chamada albumina, substância essencial para a retenção dos fluidos corporais que estão dentro dos vãos sanguíneos. Se a retenção não acontece, essa massa líquida escapa para fora dos vasos e o resultado é o inchaço. Mas, atenção: é importante não confundir o inchaço crônico com o efeito de uma ou outra noite de exagero – todo mundo pode inchar depois de beber demais simplesmente porque, no dia seguinte, o organismo ainda não teve tempo de eliminar o excesso de líquido ingerido. De toda maneira, esse é discreto e desaparece em poucas horas.

TIREÓIDE
Se a glândula tireóide está funcionando em ritmo lento, como ocorre no hipotireoidismo, logo se nota um aumento no volume do rosto e do corpo em geral – a pessoa fica arredondada. Esse quadro, a rigor, não é considerado um inchaço, pois não há acúmulo de água; aqui, são outras substâncias (ligadas ao metabolismo das gorduras) que não estão circulando como deveriam. Mas raramente é essa alteração que leva a paciente ao médico, já que outros sintomas incômodos, como sonolência e aumento de peso, parecem antes. Uma vez tratado, o quadro, é rapidamente revestido e os sintomas desaparecem.     

Por Immaculada Lopez

FONTE: ARNALDO LICHTENSTEIN, CLÍNICO GERAL E PROFESSOR DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), E AGOSTINHO TAVARES, NEFROLOGISTA E PROFESSOR DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (UNIFESP).

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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