Funcionário público não gosta de trabalhar. A UFS ficou mais de três meses em greve e não conseguiu quase nada. Quando você vai ao INSS do Siqueira Campos não dá para acreditar. Acabou a senha. E pode acabar a senha? Dos mais de 20 computadores, só 10 funcionam. E tem casos que o atendente fica duas horas com uma mesma pessoa. Como dá para administrar este caos? É degradante depender do Estado em fim de carreira. Os velhinhos ficam quase canonizados na fila e tem também um tal de atendimento priorizado – estas aberrações que se criam para enganar o povo e ele se sentir gente. Balela. Tem deficiente que chegou as sete da manhã e ainda ao meio dia está esperando a tal da sua senha ser chamada. Aquilo ali é um flagrante à nossa falta de vergonha na cara. A União, como Estado, faliu e ainda quer a CPMF mais três anos, com aquele ministro do cabelo liso, dizendo que estamos arrumando a casa. Vai arrumar durante quanto tempo ainda? A Previdência Pública neste país é um caso de polícia, de insanidade coletiva. São tantas formas de negar a aposentadoria, o auxílio doença,- são tantas formas de humilhar a população e o Ministério Público que não se apresenta para visitar estes pontos de atendimento – quando não – nem o funcionário sabe dar a informação – o pobre do velhinho vai e volta várias vezes – cheio de carnê, cheio de mágoas com o que o país faz com ele. É um descalabro. Os bancos são todos cretinos, – os planos de aposentadoria são caríssimos – irreais para um país terceiro mundista com salário de 380 reais. A vida não vale nada quando não se pode morrer com dignidade. Mesmo assim – dizem – que a Previdência evoluiu, informatizou, ficou toda no mármore e ora bolas! tem até água mineral para os aposentados. Ufa! Ser brasileiro em fim de carreira é um pesadelo desigual. Não há como depender de uma Previdência falida – cujo dinheiro nem sempre chega ao fim real – é uma balela. Sem falar de seus prédios pelo Brasil inteiro – verdadeiros elefantes brancos desativados – alguns, invadidos por sem-moradia, sem-teto, sem terra. Se for visitar o prédio do INSS em Aracaju – em local nobre, onde o vento faz a curva, os banheiros têm fios expostos, a maioria das salas são desocupadas, tudo – quase tudo – é terceirizado e mais uma vez não se faz concurso público, o sistema ainda é primitivo, as telas de computador do tempo do ronco e o telefone toca, toca e nunca atende. Ninguém atende. Mas tem sempre uma agência do Banco do Brasil dentro desses prédios fantasmas. Parece que a Previdência só serve para isso. Alguns funcionários carregam outros nas costas, fazem o serviço do outro, enquanto o colega lê a Caras, toma café e até dorme. Mas são todos cheios de ética – das Secretarias do governo à Prefeitura – com raras exceções – e quando vamos para o plano Federal é calamidade. Parecem robôs, máquinas esperando o dia do saque na agência do banco do Brasil que é quase sempre no prédio, com um cash à disposição e área vip para funcionários federais. E a gente? O povo? Nada. Humanismo nenhum no atendimento – raros são os casos. Dá para chorar. Fazer um filme. Um documentário. Um vídeo de horror. Professores aproveitam a greve da Universidade para viajar – dá para entender? Quando voltar me ligue. Durma com uma visão dessas. E os ladrões do Inss somos nós, brasileiros degolados por uma miséria de salário, recadastrados a cada seis meses para ver se você já morreu e seu neto está recebendo os 380 ri. E que você devolva o dinheiro que foi usado para comprar o caixão da vovozinha. A ética da estupidez, da mentira e da farsa. E quando você liga para o 0800? Não. É mentira. Eu vou ver. E sempre você fica com cara de otário sem a informação. Há uma ética do consentimento. E se você for dar uma volta pelo Centro Administrativo de Aracaju, você tem um infarto – fica frustrado, humilhado. Comece pelo Sesi – aquele lugar da Indústria – o que é mesmo aquilo ali – onde até a Revista do Sesi tem a foto do Presidente na capa? Depois você segue pelo Tribunal Regional do Trabalho – entre processados, advogados e funcionários o estacionamento super-lotado. Informam-me que todos são concursados – menos mal. Mas é gente. Muita gente! Depois você passa pela Justiça Federal – tudo em mármore – um acinte à miséria em volta, em cima, em todas as partes – um contraste digno de Copolla – mas lá tem concurso – menos mal. Depois passa por mais alguns buracos e buracos arriscado a ser assaltado – porque tudo é portentoso mas a via de acesso é criminosa. A vida é absurda, raquítica, pálida como um quadro de Portinari. A vida chega a doer, a ranger, a dar vontade de dar voltas. Padecemos da ausência de fiscalização. Cada órgão deveria informar ao Ministério Público quantos parentes estão em cargos em comissão, distribuídos em que gabinetes de amigos e ser proibido veementemente empregar parentes em qualquer lugar da administração pública. Proibido e punido. E estabilidade no emprego acabar. Esta gente não está nem aí pra ninguém. Direitos adquiridos que nos fizeram ainda mais escravos e reféns dos donos da caneta. Enquanto isso, fazemos figa, rangemos os dentes, batemos na madeira. Pra nunca precisar de ninguém que esteja à frente de um bureau.
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