FAMÍLIAS DESGARRADAS

Visconde de Maracaju
Foram muitas as famílias sergipanas que deixaram o Estado e cresceram em outros pontos do Brasil, perdendo, em certa medida, os laços com as origens. Muitos descendentes têm voltado, em viagens sentimentais, em busca de informações sobre seus antepassados. Esse patrimônio social de Sergipe, também pouco conhecido aqui, amplia a importância da terra sergipana como útero fértil, pátria de filósofos, cedendo ao Brasil uma contribuição qualificada, intelectualmente, sobre a qual o Brasil alicerçou sua cultura. O que tem faltado é uma ponte de interesses, capaz de localizar e de contatar com tais famílias, numa viagem que vai além do sentimento.

 

Tobias Barreto, o gênio do direito e da filosofia, deixou família numerosa, projetando em alguns dos seus filhos o compromisso com a arte e com a cultura. Targélia, uma das mulheres, foi poetisa consagrada no Recife, colaborando nos suplementos dos jornais pernambucanos. João, que trabalhou na célebre Faculdade de Direito e foi membro da Academia Pernambucana de Letras, deixou vasta obra publicada. Francisco, militar, reformado como general, também publicou um livro de poemas. Tobias Barreto Neto e Píndaro Barreto, netos de Tobias, foram conhecidos no Recife e em Olinda pelos livros que publicaram.

 

Silvio Romero, pai de 19 filhos, deixou para o Brasil descendentes ilustres, como Nelson Romero, Silvio Romero Filho, que em tudo seguiram as pegadas do pai, no ambiente acadêmico. Nelson chegou a estudar em Roma, e Silvio Filho foi diplomata. Amabos têm vários escritos. Outros filhos e netos de Silvio Romero construíram biografias vitoriosas no Rio de Janeiro. Nem a família de Tobias, nem a de Silvio Romero, no entanto voltaram a Sergipe. De Tobias, apenas a filha Calíope andou por aqui, pedindo ajuda para viver, e o neto homônimo trabalhou nos Correios, como funcionário público. De Silvio ninguém voltou. A descendência de Manoel Bonfim, João Ribeiro, Jackson de Figueiredo, Justiniano de Melo e Silva e de muitos outros luminares sergipanos também não manteve, como ainda hoje não mantém, vínculos próximos com os conterrâneos.

 

Há, contudo, um interesse que vai tomando corpo e que começa a repercutir. A família do Visconde de Maracaju, (Rufino Enéas Gustavo Galvão) que mora no Rio de Janeiro, e que tem site na internet para contatos, faz questão de expor os nomes dos descendentes do velho militar sergipano.  A família do Barão do Rio Apa, (Antonio Enéas Gustavo Galvão) irmão do Visconde, que adotou a honraria como sobrenome, vive em Curtiba, no Paraná, e dentre os seus membros alguns são escritores, como Wilson Rio Apa, autor, dentre outros, de Os Vivos e os Mortos. O terceiro irmão, o desembargador Manoel do Nascimento da Fonseca Galvão, que viveu entre Santa Catarina e Pernambuco, aposentando-se como desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, e que deixou um ensaio histórico e geográfico sobre a cidade de Laguna, morreu no Recife e alí recebeu as mais efusivas homenagens. Marília Rio Apa, bisneta do Barão, cuida de reunir material sobre a família Galvão.

 

A família Vieira, que tem ligações com a família Vampré, espalhada pelo Estado de São Paulo, está igualmente interessada em retomar os vínculos com a terra berço dos seus pais e avós, e já conheceram Laranjeiras, Estancia, além de Aracaju. Recentemente esteve em Aracaju o ex-deputado federal Luiz Felippe de Oliveira Penna, que é de Minas Gerais, neto do historiador Camilo de Oliveira Penna, mas mora no Rio de Janeiro, procurando pelos seus parentes, como Serapião de Carvalho. Descendentes do médico, homeopata, Olinto Dantas, que deixou Sergipe e foi viver em Santos, São Paulo, também estiveram por aqui, na busca de dados sobre seus familiares. Yemna Chadud, filha do comerciante sírio Jamil Chadud, fez contato eletrônico, feliz da vida pelas notícias que teve do pai, quando ele viveu em Sergipe, membro da Maçonaria e alfabetizador da Liga Sergipense contra o Analfabetismo.



 

O engenheiro mecânico Miguel Jamil Chadud, também filho (são 8 ao todo) manifestou-se feliz por saber notícia do pai. Outro que mantém relação próxima com Sergipe é o advogado francês Felipe Aragonez de Faria, neto do artista plástico Cândido Faria, nascido em Laranjeiras, um dos maiores nomes da arte na virada do século XIX para o século XX, autor de mais de trezentos cartazes de filmes produzidos pela Casa Pathé,  e que viveu e morreu em Paris, coberto de glória, depois de editar e colaborar em jornais do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Buenos Aires. Já os descendentes de Adolfo Faria, fotógrafo com atelier no Rio de Janeiro, nas últimas décadas do século XIX, irmão do pintor, não são conhecidos.

 

Pena que outros patrícios que deixaram a terra sergipana vivam sem receber justas homenagens, como é o caso de Guaraci Leite França, cantora que marcou a vida artística de Aracaju nos anos de 1940, ao lado de João Melo, Carnera, Pinduca e outros, e que morreu, há poucos dias, em Salvador, na Bahia, onde vivia.

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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