Um Debate Cheio de Zumbidos e Farpas
Num dia ensolarado, os animais de Sergipólis, carregados de expectativas e uma dose saudável de implicâncias mútuas, partiram rumo à grande floresta de Brasília. Lá, seriam recebidos por outros bichos do reino para a tão esperada Assembleia dos Animais. A missão era clara: convencer os guardiões dos recursos a abrir as portas do banquete para o Estado.
À frente da delegação, marchava o Leão Fábio que dizia: “Eu sei o que estou fazendo.” Logo atrás, o Mosquito Jorginho zumbia incessantemente, como sempre. “Não adianta só rugir bonito, Leão. Se não agirmos rápido, voltamos de mãos e barrigas vazias!”, alertava ele, enquanto tentava pousar no ombro do Leão. “Jorginho, se você não parar de zumbir no meu ouvido, vou decretar feriado para sapos em Sergipólis!”, ameaçou o Leão, lançando um olhar fulminante.
Entre um rosnado e outro surgiram rumores que alguns animais, movidos por interesses próprios, espalharam a notícia de que o Leão Fábio se ausentara de Sergipólis para terras distantes, deixando suas responsabilidades de lado. “Viram o Leão no meio da festa da Libertadores?”, cochichava Rogério, a Serpente da intriga, enrolada nas sombras.
Mas o Leão, ciente da verdade, não perdeu o foco. Ele havia cumprido todas as normas do reino: seu afastamento foi comunicado com antecedência à Assembleia dos Animais, e a viagem fora feita com recursos próprios e com autorização médica. Ainda assim, os críticos insistiram em explorar o episódio politicamente. “Podem rugir contra mim o quanto quiserem,” disse o Leão, com um sorriso seguro. “Enquanto falam, eu trabalho por Sergipólis. Que usem suas línguas bifurcadas; minha missão continua.”
Enquanto a delegação descansava sob a sombra de uma grande árvore na clareira de Brasília, o Rato André, fanático Flamenguista, e o irônico Corvo Amorim não perdiam a oportunidade de provocar o Leão Fábio sobre o episódio que gerou burburinho no reino. “Ora, ora, Leão Fábio,” começou o Corvo, pousando em um galho acima. “Dizem por aí que você rugiu tão alto quando o Botafogo levantou a taça que até assustou os guardiões da Libertadores. É verdade ou é fake news?”
O Rato André, mordiscando uma migalha de pão, entrou na conversa. “Ah, Corvo, o mais engraçado é que o Leão se afastou por ‘motivos de saúde’, mas foi visto comemorando como se tivesse acabado de sair de uma clínica de rejuvenescimento!” O rato gargalhava, já antecipando uma resposta cortante.
O Leão Fábio, que observava com um ar sereno – mas já afiando as garras da ironia –, finalmente decidiu entrar na brincadeira. “Ah, André, não é minha culpa que o Flamengo tenha saído da competição mais cedo que um rato fugindo de um gato, né? E você, Corvo, está falando tanto porque seu timeco nem viu a cor da taça este ano!” Os outros animais começaram a rir.
O Rato André, fingindo indignação, cruzou os braços. “Tá bom, Leão, aproveite enquanto pode. Mas lembra que na próxima Libertadores a gente volta para te ensinar o que é ser time grande!”
O Mosquito Jorginho, que até então apenas observava a conversa, resolveu entrar na resenha e zumbiu: “Ei, vocês três, menos papo e mais trabalho! Ainda temos sementes para garantir, ou vão querer fazer churrasco com as provocações?”
O Leão Fábio, que já estava de bom humor com as provocações futebolísticas, ergueu uma sobrancelha e respondeu: “Churrasco, Jorginho? Só se for de urubu ou galo assado. Então cuidado com esse zumbido perto da fogueira, ou você acaba virando o prato principal.”
Os outros animais caíram na gargalhada, e o Mosquito Jorginho, visivelmente encabulado, afastou-se um pouco. O Leão, satisfeito com o impacto do seu comentário, deu um rugido leve e completou: “Agora vamos trabalhar, porque o Estado não vive só de resenha… Mas confesso que de vez em quando é bom botar alguns mosquitos no lugar.” E assim, a resenha continuou animada, mas o Mosquito pensou duas vezes antes de voltar a zumbir na direção do Leão.
Perto dali, o Pato Ícaro trotava ao redor do grupo, espalhando entusiasmo… e confusão. “Eu estou pronto! Vamos voar, nadar, correr, o que for preciso! Aliás, será que eu devia começar a falar agora? Ou espero chegar lá? Não importa, eu já tenho um discurso na cabeça: ‘Amigos, patos e compatriotas’…”, grasnou ele, até ser interrompido pela Serpente Rogério, que deslizou silenciosamente até o Pato. “Ícaro, se você der mais uma volta em círculos, vai acabar cavando sua própria lagoa”, sibilou a Serpente, com um olhar que congelou o Pato no lugar.
Neste momento, o Sabiá Alessandro ensaiava suas melodias inspiradoras. Ele subiu em um galho alto e, com sua voz melodiosa, proclamou: “Meus amigos, temos uma missão grandiosa. Nosso canto deve ser de união e progresso. Devemos construir um Sergipólis fértil e cheio de vida!”. “Isso é lindo, Alessandro,” interrompeu o Lobo Gustinho, sem levantar os olhos do mapa que analisava, “mas, talvez, desta vez, menos poesia e mais estratégias claras. Se não conseguirmos recursos, teremos que cantar sobre a falta d’água e fome.” “Ah, Gustinho, sempre tão prático! Mas não se esqueça de que é com música que acalmamos até as feras mais bravas!”, retrucou o Sabiá, alçando voo para reforçar seu ponto.
Já o Lobo Gustinho, sempre atento, olhava para os arredores como quem mede forças e fraquezas. “Não subestimem os outros animais da floresta. Aqui, quem hesita, perde. Vamos entrar, mostrar nossos dentes – figurativamente, claro – e sair de lá com o que viemos buscar”, disse ele, com um meio sorriso que fez o Leão balançar a juba em aprovação.
A comitiva finalmente chegou à clareira em Brasília, onde a Assembleia dos Animais já estava em andamento. O Leão rugiu para abrir os trabalhos, mas foi imediatamente interrompido pelo Mosquito Jorginho. “Antes de qualquer coisa, temos que garantir que ninguém pegue nossa ideia de alocar recursos de Sergipólis primeiro. Eles adoram prometer tudo e não entregar nada!”, zumbia ele, enquanto os outros animais trocavam olhares exasperados.
“Jorginho, por favor!”, reclamou a Leoparda Katarina, que até então permanecia quieta, observando tudo com elegância. “Se você continuar desse jeito, vou ter que vigiar você, e não os recursos.” Mesmo com os zumbidos, as estratégias de Gustinho, o canto de Alessandro, a determinação do Pato e a liderança do Leão, a apresentação foi um sucesso. Os guardiões concordaram em enviar recursos para o Sergipólis, impressionados com a energia.
De volta ao Sergipólis, o Leão declarou: “Vocês são a equipe mais louca, mas também a mais eficiente que já vi. Agora, mãos à obra”. E assim, com rugidos, zumbidos, cantos e alguns resmungos pelo caminho, o sertão mostrou que, mesmo com personalidades tão diferentes, é possível trabalhar junto para um bem maior – e com boas doses de humor, claro.