A Fábula do Esquilo Rodopiante e a Onça Destemida

Na floresta animada e cheia de intrigas chamada Aracajupóplis, os animais viviam sob a sombra de um drama político que parecia ter saído de um roteiro de novela das nove. E no centro de toda essa agitação estava Edvaldo, o Esquilo Zabumbeiro, um mestre em armazenar nozes e balançar o rabo nos eventos mais badalados da mata. Mas desta vez, nem toda sua habilidade contábil e seu rodopio no trio elétrico de bel Marques conseguiram salvar sua liderança.

O Esquilo, era conhecido por sua dedicação metódica à floresta. Ele construía pontes sobre os riachos, organizava as tocas e mantinha as árvores bem cuidadas. Mas havia um problema: o Esquilo falava mais em números do que em bichos. “Minha gestão alcançou 70% de aprovação!”, ele dizia, empoleirado em um galho. Porém, os outros animais reviravam os olhos. “E daí?”, perguntou a coruja Danielle Garcia, ajeitando os óculos: “Minha toca ainda tem buracos!”

O Esquilo, porém, não se abalava. Quando chegou o momento de passar a tocha da liderança, ele escolheu Luiz Roberto, a Formiga. Trabalhador incansável e excelente técnico, Luiz era o tipo de animal que sabia como organizar até as folhas caídas. Só havia um pequeno problema: ele tinha o carisma de uma pedra beje. “Eles vão entender minha escolha!”, disse o Esquilo, confiante. “Afinal, números não mentem!” Mas os outros bichos queriam algo mais do que tabelas. Queriam emoção, conexão e promessas de mudança.

E foi aí que surgiu Emília, a Onça Destemida. Com um salto ágil e um rugido potente, ela conquistou a capital da floresta prometendo acabar com o tal “Sistemão” — um monstro nebuloso que, segundo ela, controlava tudo na mata, das bananas nas árvores aos cantos dos passarinhos.

“Chega de opressão! Vamos derrubar o Sistemão!”, rugia a Onça, enquanto os animais menores, como os tatus e os sapos, batiam palmas entusiasmados. “Mas o que é o Sistemão?”, cochichava a Gavião Moana para o seu marido, o Gavião Rodrigo Valadares, que balançava o bico de um lado para o outro sem paciência com a neófita vereadora eleita, disse secamente: “Ninguém sabe, mas parece ruim.”

Entretanto a campanha da Onça foi tão cativante que nem o Esquilo, com todos os seus gráficos coloridos, conseguiu competir. Luiz, a Formiga, tentou explicar seus planos detalhados, mas ninguém o ouvia. No dia da eleição, a Onça Emília foi coroada com rugidos de aprovação.

Nos bastidores, dois animais observavam tudo com atenção. O Corvo Edvan Amorim, um estrategista astuto, voava de galho em galho, cochichando ideias e alimentando rumores: “Derrubar o Sistemão, hein?”, ele ria consigo mesmo. “Boa sorte, Onça. Mal sabem eles que eu ajudei a costurar essas raízes.”

Já o Onço Itamar, marido da Onça Emília, agia como seu conselheiro silencioso. “Amor, cuidado com o Corvo”, alertava ele, enquanto afiava as garras em uma rocha. “Ele enxerga tudo de cima e tem a língua afiada. Não subestime sua influência.” A Onça, porém, estava confiante. “Eu sou a Onça!”, ela respondeu. “Não preciso de ajuda para governar. Mandarei eu em Aracajupólis.”

Certa manhã, enquanto Onça analisava os nomes para compor sua equipe, o Corvo pousou em um galho próximo: “Onça”, começou ele, com sua voz rouca e irônica, “você sabe que quem vai realmente governar essa floresta sou eu, não é? Afinal, boa parte dos secretários importantes… bem, digamos que são minhas crias.”

A Onça levantou a cabeça, com os olhos semicerrados: “Não se engane, Corvo. Eu sei quem você é e o que você faz. Mas, desta vez, quem manda sou eu.” O Corvo gargalhou: “Ah, querida Onça, na política da floresta, quem manda de verdade nunca aparece. Enquanto você ruge, eu cochicho. E, confie em mim, meus cochichos alcançam mais ouvidos do que seus rugidos.”

Com a vitória da Onça, começou a transição de poder. O Esquilo Edvaldo, desanimado, juntou seus papéis e desceu de sua árvore. Ele ainda tentou convencer os outros de que seu legado era sólido. “Eu fiz tanto por vocês!”, ele disse, carregando sua pilha de nozes. “Fez mesmo, mas e daí?”, respondeu a Coruja, ainda sem aceitar a derrota das urnas que sequer a levou para o segundo turno.

Enquanto isso, a Onça começava a montar sua equipe. “Preciso de especialistas”, dizia ela, enquanto olhava a lista de nomes. “Mas também preciso agradar aos bichos que acreditaram em mim.”

O Sabiá Rogério, ainda amargando a derrota acachapante de sua companheira, a Sabiá Candice de Lula, voava apressado até a toca do Leão Mitidieri: “Majestoso Leão! Como torci ontem pelo Botofago. Até comprei uma camisa nova para usar no sábado”, começou o Sabiá, com um canto melancólico, triste pelo empate do Flamengo, seu time de coração. “Venho em paz e humildade. Vamos selar uma aliança! A Onça não pode crescer demais, e juntos podemos derrotá-la em 2026. Talvez, quem sabe, até possamos compor uma chapa… com este humilde pássaro como candidato ao Senado.”

O Leão, pragmático como sempre, coçou a juba. “Interessante, Sabiá. Mas cuidado para não cantar alto demais. Lembre-se: na política da floresta, quem dá o primeiro voo nem sempre chega ao final.” O Sabiá baixou a cabeça, entoando um canto de submissão. “Aceito, majestade. Tudo para garantir um ninho seguro.”

Em um canto mais discreto da floresta, Valmir, o Pato de Itabaiana, fazia uma ligação urgente para André Moura, o Rato. “Rato!”, grasnou o Pato. “O Leão ficou furioso com aquele almoço no restaurante O Miguel. Deu um carão em nós dois… kkkkk…” O Rato suspirou, já acostumado às broncas do Leão. “E agora, Pato? O que vamos fazer?” “Calma, Rato, calma. O Leão está de bom humor esta semana. Sabe por quê? O Botafogo ganhou do Palmeiras e está a um passo de ser campeão. Por enquanto, nossas penas estão a salvo.” Do outro lado da linha, o Rato deu uma risada nervosa. “Então é melhor enviarmos nossos parabéns ao time dele. Nunca se sabe quando precisaremos de um favor.”

Entre tramas e cochichos, o Guaxinim José Hunaldo, advogado da Onça, foi chamado para investigar as tocas deixadas pelo Esquilo. “Vou farejar tudo”, prometeu, com um brilho travesso nos olhos. “Se houver algo podre, eu encontrarei.”

Logo veio o momento mais aguardado: o encontro da Onça Emília com o Leão Mitidieri, governador da floresta. O Leão era majestoso, mas também pragmático. Ele sabia que precisaria lidar com a Onça, mesmo com o rugido dela contra ele durante a campanha.

“Onça, parabéns pela vitória”, disse o Leão, com um tom quase paternal. “Mas lembre-se: a floresta é interdependente. Se você mexer demais nas raízes, pode derrubar as árvores.” A Onça respondeu com firmeza: “Leão, respeito sua posição, mas eu prometi mudanças. E vou cumpri-las.” O Corvo, que observava tudo de um galho alto, soltou um riso baixo. “Promessas, promessas…”, ele murmurou. “Vamos ver como isso termina.”

Na Floresta de Aracajupólis, aprendemos que política é um jogo complexo de rugidos, cochichos e voos rasantes. O Esquilo descobriu que números não bastam; a Onça percebeu que derrubar um sistema é muito mais complicado do que prometer; o Corvo ensinou que o verdadeiro poder está nas sombras; e o Leão lembrou a todos que, mesmo sem rugir, sua presença sempre será a mais imponente.

E o Sistemão? Bem, esse continua firme e forte, como as raízes invisíveis que sustentam a floresta, alimentando intrigas e mantendo o jogo em movimento. E assim, a vida segue na Floresta de Aracajupólis, onde cada animal desempenha seu papel em um espetáculo que nunca tem fim.

Fato da Semana

Na vasta floresta de Sergipólis, onde rumores correm mais rápidos que o riacho da Serra de Itabaiana, um vento frio desceu dos altos penhascos trazendo um sussurro peculiar. Era o Pato Valmir, conhecido por seus passos desajeitados e sua habilidade de nadar contra a corrente, tentando se defender de um novo enredo que circulava pelos cantos sombrios da mata.

O vento, sempre travesso e cheio de histórias para contar, sussurrava baixinho:
“Oh, grande fabulista, ouça bem! A Foca — aquela dançarina graciosa das águas — está por aí, aplaudindo o Leão com entusiasmo, enquanto espalha rumores para arranhar a reputação do Pato. E por quê? Quaquaquaqua … 22…22…22.. “

O vento, claro, não se responsabilizava pela veracidade dos rumores, mas adorava ser o mensageiro das intrigas da floresta, jogando uma pitada de dúvida nos galhos mais altos e nas águas mais calmas. Afinal, onde há um Leão, uma Foca e um Pato, sempre há espaço para um bom enredo.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais