A Selva de Sergipólis

A SELVA DE SERGIPOLIS: QUANDO OS BICHOS FAZEM POLÍTICA

Uma fábula de intrigas, alianças e um leão que ainda reina – mesmo doente.

Os fatos narrados a seguir, embora ambientados em uma floresta fictícia, podem ou não refletir situações da vida real. Qualquer semelhança com eventos políticos ou figuras públicas é mera coincidência – ou não. Em Sergipólis, reino onde bichos assumem comportamentos inusitadamente humanos, os debates, alianças e intrigas ganham vida em meio a muito humor e ironia. Aqui, a política, como na vida real, se mistura à natureza instintiva de cada personagem.

Acompanhe a assembleia e tire suas próprias conclusões sobre o que é real, o que é fábula… e o que é pura estratégia.

Era um dia quente e abafado na floresta de Sergipólis, mas os animais não tinham tempo para se abanar com folhas ou mergulhar em rios. O Leão Fábio, mesmo debilitado por uma misteriosa “gripe”, convocou uma reunião de emergência. “Quando o Leão chama, a floresta responde”, diziam os animais.

O primeiro a chegar foi o Rato André, que não caminhava, mas escorregava pelas bordas, sempre atento para não ser pisoteado. Ele espiava tudo com seus olhinhos rápidos, disse: “Se o Leão está doente, isso é bom ou ruim para mim?”, pensava, enquanto se acomodava em um buraco perto da clareira. “Tudo depende de quem deixa o queijo cair primeiro.”

Do alto de um galho, o Corvo Edvan grasnou: “Silêncio, Rato! Você sempre cochicha nos cantos, mas quem entende o jogo é quem voa alto e enxerga longe.” De pronto, rebateu o Rato: “Voar alto e enxergar longe é fácil quando ninguém te caça. Eu trabalho com agilidade. Você, Corvo, só cata o que sobra”.

O Galo Laércio apareceu pomposo, com sua crista brilhando como um troféu. Ele olhou para os dois com um ar diplomático, exclamando: “Senhores, cocóricó, poupem suas energias. Ainda temos um reino para discutir e sementes para plantar. Sem ordem, ninguém canta!”

Quando o Leão finalmente apareceu, triste pelo empate do Botafogo (seu time de coração) que não passou pelo “Galo”, todos se curvaram – alguns por respeito, outros por medo. Ele parecia mais magro, com a juba menos reluzente, mas seus olhos ainda brilhavam com a determinação de quem sabia que o trono era seu. Ele subiu em uma pedra e rugiu: “Eu ainda sou o rei desta floresta, doente ou não. Quem acha que pode mudar isso, que venha me desafiar agora!”

A Onça Emília, com sua elegância e ferocidade contida, deu um passo à frente e resmungou: “Majestade, ninguém aqui discute sua liderança… por enquanto. Mas há rumores de que você anda cedendo território para ratos e corvos. Será que o Leão está sendo rodeado por predadores menores?”

O Leão riu, uma risada seca que ecoou pela clareira e disse: “Você é rápida, Onça, mas não tão rápida quanto o poder. Enquanto você ruge sozinha, eu mantenho todos os bichos ao meu redor, cada um no seu lugar.”
O Pato Valmir chegou atrasado, batendo suas asas molhadas da lagoa Marcela, localizada em sua clareira (Itabaiana Grande) e olhando para os lados e logo “quaaaaac”: “Desculpem a demora, mas a lagoa estava turbulenta. E, falando nisso, majestade, ouvi dizer que o Corvo está querendo construir um ninho perto da minha água. Não vou aceitar invasões no meu território!”

O Corvo levantou voo de forma dramática e pousou em um galho próximo, e falou alto: “Invadir? Eu? Meu caro Pato, eu só observo. Mas se alguém quiser fazer negócios comigo, quem sou eu para recusar?”

Nesse momento, o Camaleão Ricardo apareceu, mudando de cor conforme se aproximava da discussão e fala: “Majestade, não se preocupe comigo. Estou aqui para apoiar o lado que mais beneficia a floresta… e talvez a mim mesmo.” Logo, o Sapo Isac, coaxando de um canto sombrio da clareira: “Camaleão, você muda de cor mais rápido do que o vento muda de direção!”, gritou. “Isso se chama flexibilidade, Sapo”, respondeu o Camaleão com um sorriso. “Você deveria experimentar.”

O Sabiá Alessandro começou a cantar em tom suave, tentando acalmar os ânimos e piou: “Amigos, não deveríamos discutir. A floresta precisa de união e de ética. Cantemos juntos pela paz!” A Onça não perdeu a chance. “União? Paz? Isso funciona nas árvores altas, Sabiá, mas no chão da floresta, é a força que governa.”

Então, o Urso Belivaldo, até então quieto, deu uma risada grave, falou: “A força governa, mas a paciência sustenta. Onça, você é rápida demais para perceber que, às vezes, é preciso esperar a presa cansar antes de atacar.”

O Leão interrompeu o debate com outro rugido: “Basta! Eu chamei vocês aqui para falar do futuro, não para brigarem como filhotes famintos.” Ele olhou diretamente para o Rato e disse: “O que foi aquele almoço com o Pato? Vocês acham que podem conspirar sob o meu nariz?”. O Rato tentou se explicar: “Majestade, foi só um encontro casual. Discutimos… questões alimentares e falamos que o Botafogo não vai ser campeão (ora o Rato é flamenguista)”.

O Pato, suando, balançou as asas: “Sim, claro! Nada político. Só conversas sobre… grãos, sementes, futebol e … para saber se o senhor já se recuperou da gripe!” O Corvo, divertido, grasnou alto: “Ah, claro, sementes, futebol, saúde do rei. Só rindo para vocês. E eu sou um vegetariano devoto, por favor Pato e Rato!”.

No final, o Leão ergueu a pata e decretou: “Ouçam bem: eu sou o rei desta floresta, e enquanto eu governar, não haverá intrigas que me derrubem. Corvo, volte aos seus galhos. Rato, cuide de seus buracos. Pato, fique na sua lagoa. E Onça, lembre-se: ninguém pode governar sozinho, nem mesmo você.” A Onça rosnou baixinho, mas manteve a compostura, surrando baixinho: “Por enquanto, majestade. Por enquanto.”

O Leão desceu da pedra lentamente, enquanto todos os animais saíam da clareira, cada um com seus próprios pensamentos e estratégias. Mas uma coisa era certa: o Leão, mesmo doente, ainda era o rei. E a floresta de Sergipólis, com toda sua confusão, continuava sendo um reino onde cada animal buscava seu lugar ao sol – ou nas sombras.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais