Se política fosse um ringue de boxe, haveria aqueles que entram apenas para trocar socos e os que sabem a hora exata de estender a mão ao adversário, reconhecer o esforço mútuo e trabalhar juntos. Fábio Mitidieri não só entendeu essa dinâmica, como decidiu inovar: em vez de seguir a cartilha tradicional da rivalidade perpétua, ele está transformando seus ex-oponentes em aliados estratégicos. E isso, sejamos francos, não é algo comum na política brasileira.
O que se vê hoje em Sergipe é um governador que entende que governar é muito mais do que vencer uma eleição. É saber que, depois da disputa, vem a responsabilidade. Mitidieri está provando que um bom gestor não se limita a reinar sobre seu próprio grupo político, mas sim a expandir pontes, ouvir diferentes lados e, se preciso, tomar café com adversários de ontem para garantir que a população não seja prejudicada pela eterna guerrilha partidária.
E o mais interessante? Ele está fazendo isso com naturalidade. Sem aquele tom forçado de quem apenas posa para fotos e some depois da cerimônia oficial. Ele liga, se encontra, conversa e propõe soluções. Na prática, isso significa que Sergipe ganha um governador que age como um verdadeiro estadista e não como um mero chefe de partido.
Em uma sequência impressionante de encontros políticos, Fábio tem surpreendido até os mais céticos. A política tradicional nos ensinou a desconfiar de gestos conciliadores. Afinal, em um país acostumado ao “nós contra eles”, quando um político decide dialogar com o adversário, geralmente há algo suspeito nos bastidores. Mas com Mitidieri, a história parece diferente.
Em um único mês, o governador se reuniu com Rogério Carvalho, Emília Corrêa, Valmir de Francisquinho e toda a bancada federal sergipana. Se isso não é um esforço hercúleo de conciliação, não sei o que é. Para qualquer analista político minimamente atento, a mensagem que Mitidieri está passando é clara: não há tempo para brigas mesquinhas quando há um estado inteiro para administrar.
A reunião com a bancada federal foi um marco desse novo ciclo. Estavam lá senadores e deputados federais de todas as cores partidárias, sentados à mesma mesa, discutindo algo que realmente importa: dinheiro para Sergipe.
O objetivo? Garantir que as emendas parlamentares de 2025 sejam bem direcionadas, fortalecendo áreas cruciais como saúde, infraestrutura e segurança pública. O que poderia ser apenas mais uma formalidade burocrática acabou se tornando um momento de alinhamento estratégico entre o Executivo e o Legislativo estadual.
Mitidieri não parou por aí. Foi além da formalidade política e mostrou que sua disposição de diálogo não tem barreiras ao sentar-se com Emília Corrêa, a prefeita eleita de Aracaju e, até pouco tempo, uma das suas principais críticas. E o encontro não foi uma mera troca de gentilezas institucionais. Eles discutiram transporte público, educação, saúde e emprego, deixando claro que os desafios da capital sergipana exigem esforços conjuntos.
Mitidieri resumiu bem a situação: “O momento da política se encerrou, agora é o momento da gestão.” Um recado direto para aqueles que insistem em manter a campanha eleitoral eterna, como se governar fosse apenas um prolongamento do palanque.
Mas se havia alguma dúvida de que Mitidieri está jogando xadrez enquanto outros ainda estão brigando no tabuleiro de damas, sua ida a Itabaiana foi a prova definitiva.
Se alguém dissesse, um ano atrás, que o governador visitaria Valmir de Francisquinho – seu ex-rival ferrenho na eleição de 2022 e 2024 – e seria recebido de braços abertos, diriam que era piada. Mas aconteceu. E aconteceu porque Mitidieri teve a iniciativa.
Sim, foi ele quem pegou o telefone, ligou diretamente para Valmir e pediu para ser recebido. Nada de intermediários ou recados. A pauta do encontro? Ajudar Itabaiana a lidar com os estragos das chuvas que atingiram o município.
Agora, sejamos realistas: as chuvas não causaram um colapso na cidade. Algumas casas sofreram danos, mas nada comparado a tragédias maiores. Mesmo assim, Mitidieri fez questão de ir até lá pessoalmente. E não apenas para um protocolo vazio, mas para oferecer apoio do estado.
O mais curioso? O encontro ocorreu no gabinete de Valmir na prefeitura. Isso mesmo. O governador sentou-se na cadeira de seu ex-rival, diante de seus secretários e assessores, e conversou como se fossem velhos parceiros de longa data. Se essa cena não simboliza uma nova fase na política sergipana, difícil dizer o que simboliza.
E, claro, o próprio Valmir não ficou atrás. Ao invés de manter a guarda levantada, ele também adotou o tom republicano. Disse que a política partidária tem seu momento e que, depois da eleição, é preciso desarmar os espíritos e pensar na população. Algo raro de se ouvir, ainda mais em tempos tão inflamados.
O resultado do encontro? Ficou acertado que a prefeitura de Itabaiana será recebida no Palácio do Governo para apresentar suas demandas diretamente. Ou seja, a conversa não ficou só na retórica: já gerou ações concretas.
Esse movimento político de Mitidieri não apenas reforça sua imagem de estadista, como também muda radicalmente o cenário para 2026.
Até pouco tempo, sua reeleição era vista como uma batalha difícil. Hoje, depois de conquistar a confiança de aliados e até de adversários, a narrativa mudou. Mitidieri não apenas consolidou seu grupo político, mas também reduziu a resistência que poderia encontrar na oposição.
Claro, o caminho não será sem obstáculos. O maior desafio pode vir de onde menos se espera: do próprio grupo político. O chamado “fogo amigo”, aquele que vem de aliados insatisfeitos ou de bastidores onde a vaidade fala mais alto, pode se tornar seu principal problema. E Mitidieri precisa estar atento.
Mas se há algo que ele já mostrou é que sabe jogar o jogo. Com habilidade, paciência e senso de oportunidade, o governador está escrevendo um novo capítulo na política sergipana.
O que Fábio Mitidieri está fazendo pode parecer inusitado, mas deveria ser o padrão na política brasileira. Desarmar palanques, conversar com adversários e focar no que realmente importa – a vida das pessoas – não deveria ser visto como algo extraordinário.
Mas, no Brasil de hoje, onde a política virou um interminável embate de torcidas organizadas, eleger o diálogo como ferramenta de governo é um ato quase revolucionário.
Se Mitidieri continuar nesse ritmo, não só terá uma reeleição tranquila, como deixará um legado de como se faz política com maturidade, estratégia e – por que não? – uma dose de inteligência emocional.
E no fim das contas, talvez seja isso que Sergipe mais precisa: menos briga e mais ação, menos discurso e mais solução. Se Mitidieri entendeu isso, e parece que entendeu, ele pode ir muito longe. E quem ganha com isso? O povo sergipano.