Mitidieri no Alvo, a Fragmentação da Base e a Ascensão da Direita

O jogo político de 2026 já começou, e Sergipe promete um xadrez eleitoral de alto risco. O governador Fábio Mitidieri pode até tentar disfarçar o desconforto, mas os sinais de racha dentro de sua base já são mais do que evidentes. O que antes parecia uma coalizão sólida começa a mostrar fissuras profundas, e quem está do lado de fora já se organiza para ocupar os espaços vazios.

Sérgio Reis sela apoio a Rogério Carvalho para senado em 2026

 

Um dos primeiros sinais de que a base de Mitidieri pode não estar sob controle veio de Sérgio Reis, prefeito de Lagarto, um político que construiu sua trajetória com astúcia e habilidade de articulação. Sua aliança repentina com o senador Rogério Carvalho (PT) pegou o governo de surpresa e levantou mais perguntas do que respostas.

O mais curioso? Nem sequer houve uma consulta prévia ao governador — ou, pelo menos, não há sinais públicos de que Mitidieri tenha sido avisado de antemão. Isso abre espaço para duas hipóteses intrigantes: ou Sérgio Reis se sente autônomo o suficiente para agir sem prestar contas, desafiando a autoridade do governador, ou Mitidieri já sabia da movimentação e preferiu não interferir, o que indicaria uma tolerância velada com o avanço de Rogério Carvalho dentro do grupo governista.

Se o governador foi pego de surpresa, a situação é grave. Mas, se tinha conhecimento prévio e permitiu esse movimento, surge um novo questionamento: Fábio Mitidieri está disposto a apoiar Rogério Carvalho para o Senado em 2026? Se sim, onde isso deixa Alessandro Vieira, André Moura e outros aliados que esperavam espaço na chapa governista? A dúvida está lançada.

Sérgio Reis é um político pragmático, com habilidade para transitar entre diferentes espectros de poder e negociar com múltiplos grupos sem perder sua posição estratégica. Ele não teme testar os limites das alianças, e ao declarar apoio a Rogério Carvalho para o senado em 2026, em uma almoço na sua residência em Lagarto, deixou uma mensagem direta ao governo: o alinhamento dentro do grupo não é automático.

A grande questão, porém, é se essa mensagem foi apenas para os aliados ou também para o próprio governador. O certo é que essa movimentação de Sérgio não passou despercebida. André Moura, um dos principais articuladores políticos do grupo governista e nome natural para disputar o Senado, ligou o sinal de alerta. Ele acreditava que a chapa governista estaria unida em torno de seu nome e do senador Alessandro Vieira, mas agora percebe que os planos podem estar mudando sem que ele tenha sido avisado.

Talvez André já tenha previsto esse risco. Nos últimos dias, foi visto em uma conversa com Valmir de Francisquinho, prefeito de Itabaiana. O que foi discutido? Ninguém sabe ao certo, mas o fato de dois políticos experientes trocarem um “pé de orelha” neste momento só reforça a percepção de que algo está em curso nos bastidores.

Se há um nome que não pode ser ignorado nesse tabuleiro, é o de André Moura. Ex-deputado federal, ex-líder do governo Temer no Congresso e um dos articuladores mais influentes de Sergipe, André não entra em jogo para ser coadjuvante.

Ainda que esteja dentro da base de Fábio Mitidieri, sua paciência tem limites. Ele acreditava que a vaga ao Senado estava sendo construída para ele dentro do bloco governista, mas agora vê Sérgio Reis se aproximar de Rogério Carvalho, um movimento que pode significar uma mudança de rumo nos planos para 2026.

O que Mitidieri precisa entender — e rápido — é que André Moura não é um aliado que pode ser subestimado ou mantido em segundo plano. Se ele perceber que seu espaço está diminuindo, não hesitará em buscar outro caminho, e isso pode ser o fator decisivo para desestabilizar de vez a estrutura governista.

Por outro lado, Rogério Carvalho dispensa apresentações. Senador pelo PT, ex-secretário da Saúde e um dos políticos mais experientes e combativos do Estado, ele tem algo que muitos tentam, mas poucos conseguem: trânsito na política e entre os políticos. Rogério não se restringe ao núcleo duro da esquerda. Ele sabe construir alianças dentro e fora do PT, tornando-se uma figura que pode ser catalisadora de movimentos estratégicos.

Seu nome já circula como um dos mais fortes para a disputa ao Senado, sendo um adversário de peso para nomes como Rodrigo Valadares, Alessandro Vieira e André Moura. Mas a grande questão é: ele concorrerá pelo grupo de Mitidieri?

A resposta pode estar na aliança estratégica entre Rogério Carvalho e Sérgio Reis. Se essa aproximação evoluir para um alinhamento definitivo, André Moura ou Alessandro Vieira inevitavelmente será preterido. E quando isso acontecer, o governismo terá que administrar não apenas um descontentamento, mas um possível rompimento, o que pode reconfigurar completamente o jogo político para 2026. O espaço é limitado, e um deles vai sobrar — a única dúvida é quem será o primeiro a sair da mesa.

Enquanto Mitidieri ainda tenta controlar as tensões internas, a direita já se movimenta para ocupar o vácuo deixado pela fragmentação da base governista. E um nome começa a ganhar força: Rodrigo Valadares. Inicialmente visto como um nome forte para o Senado, Rodrigo vem se consolidando como uma alternativa para o governo do Estado, especialmente se a direita enxergar nele um nome viável para unificar suas forças.

Diferente de eleições passadas, em que a direita sergipana sofria com a falta de um nome competitivo, Rodrigo pode se beneficiar diretamente da crise no grupo de Mitidieri. Se o racha dentro do governo se aprofundar, Rodrigo Valadares se torna o maior beneficiado, absorvendo os votos dos descontentes e consolidando um projeto competitivo para o governo estadual. Quanto mais Mitidieri perde o controle da própria base, mais Rodrigo ganha força, transformando-se em uma alternativa viável para a direita e para aqueles que se sentem excluídos do tabuleiro governista. O governador não pode mais ignorar os sinais de alerta. Se quiser manter sua base coesa e competitiva para 2026, ele precisa agir agora.

A aliança entre Sérgio Reis e Rogério Carvalho, sem consulta prévia ao governo, não foi um simples gesto político. Foi um recado. E quem já entendeu esse recado é Gustinho Ribeiro, que pode estar a um passo de mudar de lado se perceber que seu espaço está sendo reduzido.

O jogo de 2026 começou cedo, e o maior erro que Mitidieri pode cometer é assistir de braços cruzados enquanto sua base se desintegra. Se ele não agir rápido, será apenas um espectador da própria derrota. Afinal, ninguém governa Sergipe sem controle sobre o próprio grupo, como bem falava o saudoso Marcelo Déda.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.

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