O asno, a raposa e o governador

FAUSTO LEITE – 27/05/2027

O asno, a raposa e o governador

As parábolas são uma forma caricata e lúdica de se ilustrar uma realidade, evocando o leitor ou ouvinte à elaboração de importantes verdades sobre a conduta humana. Era a forma com que o filho de Nazaré costumava se comunicar para chegar ao coração dos seus seguidores. Na política, a repetição dos padrões torna possível as narrativas parabólicas, cheias de eufemismos, metáforas e demais truques de linguagem, tudo isso com o objetivo de, muito mais do que identificar seus protagonistas, transcender e transformar a arquetípica e bizarra realidade social que nos cerca.

Antes de me aventurar em mais uma parábola, neste caso em uma fábula, cheia de divertidos animais, devo registrar que tal inspiração me ocorreu ao analisar o comportamento político do governador Fábio Mitidieri, assistindo de camarote às largadas políticas rumo ao Palácio Municipal Inácio Barbosa.

Mitidieri tem demonstrado que entende de política e sobretudo de gestão. Tem agrupamento, valoriza seus aliados, cumpre promessas de campanha e acordos. Conduz o governo com requinte de empreendedorismo e sabe analisar o tabuleiro político como ninguém, sempre com o pé atrás com os falsos correligionários. Quando interpelado, tem respostas rápidas e objetivas, que emudecem os adversários e aliados de última hora. Digamos que é um Republicano nato que sabe ouvir o povo e, acima de tudo, garantir o convívio respeitoso entre os três poderes estatais. Fábio é inteligente, pensa macro, distingue fatos de boatos e é um excelente observador, tanto que tem acompanhado silenciosamente o desenrolar da campanha municipal de Aracaju e o festival de incertezas políticas que pipocam como milho quente, diariamente, na nossa capital. Ao que me consta, o nosso governador não tem qualquer simpatia ou tolerância com os falsos amigos, referência principal da fábula de Esopo, intitulada: O Asno, a Raposa e o Leão.

No centro dessa trama imaginária está o asno, símbolo da força bruta e da ingenuidade política. Como muitos líderes políticos, o asno é facilmente enganado pela promessa de uma recompensa fácil. Sua credulidade o torna presa fácil para as destrezas da raposa.

A raposa, por sua vez, personifica a astúcia política. Habilmente manipuladora, ela seduz o asno com a promessa de um encontro com o temível leão, alimentando sua vaidade e ganhando sua confiança. Essa manipulação é um reflexo de figuras políticas que vivem tão somente em função dos seus próprios interesses, violando sem constrangimento a confiança do eleitor.

Finalmente, o leão. O soberano da floresta representa a autoridade e o poder. Sua lealdade é fundamental para manter a ordem e a estabilidade política. No entanto, quando sua confiança é traída pela raposa, ele rapidamente restaura a justiça, mostrando que a lealdade é uma qualidade inegociável para aqueles que desejam governar com justiça e liderança.

Dentre tais comportamentos, podemos encontrar uma rica analogia com a política contemporânea, em que asnos e raposas vivem às voltas, ora se engalfinhando, ora com promessas de amor eterno, de modo que suas declarações são frívolas e altamente passionais. Asnos e raposas, assim como alguns políticos, são ligados pelo medo e, por isso, seus acordos e parcerias não costumam perdurar.

Esta semana deve ser decisiva para os aliados do governo entenderem que entre o asno e a raposa existe a figura do governador do Estado, que sabe a importância da coerência e da lealdade para manter a fluidez e estabilidade do seu mandato político.

Sereno, Fábio aguarda, no sexto andar do Palácio de Despachos, o desenrolar da pré-candidatura de Yandra, orquestrada pelo ex-deputado André Moura; a possível pré-candidatura de Fabiano Oliveira, liderada pelo senador Laércio Oliveira e a conturbada pré-candidatura da delegada Danielle Garcia, fomentada pelo senador Alexandro Vieira, todos sedentos de uma bênção governamental, mesmo sabendo da aliança de Mitidieri com Edvaldo e que o candidato do atual prefeito, há muito divulgada, é Luís Roberto.

Enquanto Danielle Garcia procura convencer Fabiano Oliveira a ser seu vice, jurando amizade eterna, Yandra pretende devorar o Rei da Night e acabar com os planos da Delegada.

Sem o governador, todavia, esses “acordos” e “cantadas” políticas não decolam. O grupamento de André Moura e Yandra têm a secretaria de Agricultura, EMDAGRO, PRONESE e CONDERSE e mais uma penca de cargos. O círculo de Laércio Oliveira e Fabiano Oliveira têm a secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico da Ciência e Tecnologia (SEDETEC), CODISE, FAPITEC e SERGIPETEC e outra enxurrada de cargos. Os seguidores de Alessandro Vieira e Danielle Garcia têm a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e diversos outros cargos espalhados pelo governo. Ainda assim, seguem especulando falsas coligações e ensaiando pré-candidaturas, apenas para dificultar a vida do poderoso chefão.

Dentre tantos animais repugnantes, Mitidieri tem em suas mãos a oportunidade de assumir o protagonismo desta selva política.

É importante esclarecer que o objetivo desta narrativa, como em qualquer fábula, não é denegrir indivíduos específicos, mas sobretudo destacar que a lealdade política é uma qualidade valiosa e frágil, que precisa ser cultivada e protegida em um ambiente político muitas vezes turbulento e imprevisível. Boa sorte governador!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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