O Falcão, o Leãozinho e o Conselho dos Bichos

Preâmbulo:
O processo de escolha do Quinto Constitucional em Sergipe, essencial para garantir a representatividade da advocacia no Tribunal de Justiça, está sob suspeita de manipulação. Apesar da promessa de uma eleição direta e transparente pelo presidente da OAB/SE, Danniel Alves, rumores sobre um modelo híbrido, que permite ao Conselho filtrar os candidatos antes da votação, geram dúvidas sobre a legitimidade do pleito.

Candidatos como Fabiano Feitosa, reconhecido por sua independência, enfrentam resistência de uma cúpula que aparenta favorecer aliados como Márcio Conrado, próximo ao atual sistema. Vozes importantes, como a de Clara Machado, destacam a necessidade de preparo técnico, enquanto Carla Caroline clama por cotas raciais e de gênero, refletindo a luta por representatividade.

Com a reunião decisiva do Conselho marcada para amanhã na sede da OAB/SE, a advocacia sergipana vive um momento crítico. O que está em jogo não é apenas a ocupação de uma vaga no Tribunal, mas o respeito à democracia e à transparência. O futuro da Ordem e sua credibilidade dependem da resposta a essa crise. Passemos a Fábula:

Na majestosa Floresta da Justiça, onde cada bicho se orgulhava da Árvore da Imparcialidade, uma disputa fervia. A escolha de quem subiria ao galho mais alto — símbolo da proteção e equilíbrio para todos — era motivo de debates acalorados. Mas este ano, a floresta estava em alvoroço. Manobras, intrigas e conspirações colocaram em risco o processo democrático que, até então, era motivo de orgulho para todos.

O Leãozinho Daniel, líder da Ordem dos Bichos da Floresta (OBF), tinha prometido eleições livres, abertas e diretas. Mas, nas sombras, o misterioso Caçador CAM cochichava em seus ouvidos, planejando uma maneira de garantir que apenas os favoritos do sistema tivessem chance.

No centro da floresta, Márcio, o Pavão, exibia suas plumas para qualquer bicho que passasse. Ele caminhava devagar, com a pose de quem já sabia o desfecho.

— Afinal, o Leãozinho é o presidente. Quem somos nós para questionar suas decisões? Devemos confiar no Conselho. Eu mesmo sou uma escolha óbvia — veja só minhas plumas! — dizia o Pavão, girando em círculos, enquanto os pardais balançavam a cabeça, revirando os olhos.

Já o Elefante Evânio Moura, conhecido por sua sabedoria, permanecia calado. Muitos bichos se aproximaram para perguntar por que ele, um nome forte e respeitado, não se pronunciava.

— Elefante, por que você não defende a eleição direta?, perguntou o Tamanduá Carlos Pina, que observava com cautela.

Ele balançou a tromba e respondeu:
— Porque apoiar o Leãozinho foi minha escolha, e estou comprometido com isso. Meu papel é respeitar o que for decidido.

Isso irritou o Rinoceronte Juvenal Rocha, que balançou as orelhas e bufou:
— Respeitar decisões que prejudicam a floresta não é sabedoria, é omissão. Advogado raiz defende os bichos, não interesses próprios!

O Pavão, ouvindo a discussão, soltou um riso debochado:
— Caro Juvenal, não seja tão rústico. Deixe que o Conselho, com sua sabedoria, decida. E, quem sabe, reconheçam em mim o brilho de um verdadeiro líder!

Do alto de um penhasco, o Falcão Fabiano Feitosa observava a movimentação. Ele sabia que havia algo errado. Voou até a clareira principal e, pousando em um tronco, gritou:

— Amigos, vocês não veem o que está acontecendo? Eles querem filtrar os candidatos antes de vocês votarem! Isso não é democracia. É uma farsa!

O Pavão revirou as penas e respondeu:
— Ah, Falcão, como você é dramático. Sempre voando alto, mas incapaz de ver os detalhes. Esse filtro é necessário para organizar o processo. Não é verdade, Leãozinho?

O Leãozinho, que observava de sua pedra, tentou responder, mas foi interrompido pelo Rato ABES, que subiu em um tronco, bufando de raiva:
— Leãozinho, você acha que engana quem? Essa história de filtro é só para garantir que seus amigos cheguem ao topo. Isso não é organização; é manipulação descarada!

O Leãozinho tentou manter a calma, mas sua voz tremia:
— Caro Rato, acalme-se. Estamos apenas ajustando o processo para torná-lo mais eficiente. Confiem em mim!
— Confiar em você? HA!, o Rato deu uma risada sarcástica. Você e o CAM estão jogando sujo. E eu vou expor tudo amanhã, na reunião do Conselho dos Bichos!

Enquanto o dia da reunião se aproximava, os rumores tomavam conta da floresta. O Macaco Getúlio Sobral, sempre brincalhão, pulava de galho em galho, tirando onda com a situação:
— Deixa eles brigarem! No fim, quem vai subir na árvore sou eu. E quando isso acontecer, meus amigos, preparem-se para muita macacada!

Na surdina, o Tamanduá Carlos Pina permanecia em silêncio, mas observava tudo com atenção. Ele sabia que, se o Falcão fosse eliminado da disputa, ele poderia ser o escolhido pelo Governador Leão Mitidieri.
— Se o Falcão cair, minhas chances sobem. É melhor não me envolver muito…, pensou o Tamanduá, enquanto devorava algumas formigas distraídas.

Na noite anterior à reunião, os bichos se reuniram em uma grande clareira. Todos queriam falar, e a discussão logo se tornou caótica. A Cabra Tatiane Silvestre subiu em uma pedra e gritou:
— Chega de manobras! A escolha deve ser direta. Os bichos devem decidir, e não o Conselho!

A Preguiça Inácio Krauss, que observava tudo de longe, apoiou:
— Concordo… Mas… Vamos com calma. Amanhã é o dia D. Precisamos estar atentos.

Enquanto os bichos discutiam acaloradamente na clareira, uma figura imponente e sábia pousou silenciosamente em um galho próximo. Era a Coruja Clara Machado, conhecida por sua inteligência e por observar tudo com atenção. Ela pigarreou, ajustou suas penas e começou a falar com sua voz serena, mas firme:
— Animais da floresta, peço um momento de atenção. Todos aqui falam sobre política, alianças e cotas, mas estão esquecendo o essencial: para ocupar o galho mais alto da Árvore da Imparcialidade, é preciso mais do que popularidade. É necessário preparo intelectual, experiência e visão clara sobre o que significa defender nossa floresta.

O silêncio tomou conta da clareira. Até o Pavão, que adorava se exibir, recuou um pouco, enquanto o Macaco Getúlio Sobral murmurava:
— Ah, lá vem a Coruja com seu discurso de escola. Será que ela vai distribuir prova no final?

A Coruja, ignorando a piada, continuou:
— O próximo ocupante do galho mais alto precisa ser alguém com bagagem, não apenas política, mas também intelectual. Precisamos de quem possa interpretar as regras da floresta com sabedoria e justiça.

O Elefante Evânio, sempre respeitado por sua postura calma, balançou sua grande tromba em aprovação e declarou:
— Clara está certa. O Quinto Constitucional exige preparo. Não podemos permitir que a Árvore da Imparcialidade seja ocupada por quem não entende a profundidade de suas responsabilidades.

O apoio do Elefante era raro, e isso deu peso ao discurso da Coruja. O Falcão Fabiano Feitosa, que ouvia tudo de um galho alto, assentiu:
— Coruja, você fala com clareza. A luta aqui não é apenas contra as manipulações, mas também por alguém que represente o melhor da floresta.

Enquanto a discussão ganhava profundidade, a Cutia Carla Caroline avançou para o centro da clareira. Pequena, mas com voz firme, ela começou a falar:
— Eu ouço todos vocês, mas quero lembrar que a floresta precisa avançar. Este sistema está arcaico! Quantas vezes uma mulher ocupou o galho mais alto? E quantas vezes uma mulher negra esteve nessa posição?

O silêncio foi quebrado por murmúrios de concordância entre as Ovelhas e o Tamanduá Carlos Pina, que observava tudo com sua expressão serena. A Cutia continuou, agora mais enfática:
— Está na hora de as cotas raciais e de gênero serem realmente aplicadas no Quinto Constitucional. Não é só uma questão de justiça, mas de representatividade. Não queremos mais as mesmas caras, os mesmos interesses. A floresta precisa de mudança, e essa mudança deve começar agora!

O discurso da Cutia foi aplaudido por alguns, mas o Macaco Getúlio, sempre irreverente, começou a pular de galho em galho, zombando:
— Cotas, cotas… O que precisamos é de bananas bem divididas! Carla, você quer mesmo subir na Árvore da Imparcialidade? Melhor garantir que as galinhas não te vejam comendo milho antes!

A clareira explodiu em risadas. A Cutia, porém, não se intimidou:
— Ria à vontade, Getúlio. Pelo menos eu tenho coragem de falar o que penso. Você só sabe fazer piada porque não tem nada sério para oferecer!

Getúlio deu uma pirueta e respondeu:
— Eu ofereço alegria, minha querida! E se a floresta quiser um líder bem-humorado, já sabemos quem vai subir na árvore!

A clareira estava em alvoroço. O Rato ABES, ainda muito indignado com a possibilidade de manipulação, voltou a atacar, repetidamente:
— Leãozinho! Caçador! Vocês acham que somos tolos? Essa história de filtro é só para garantir que os seus favoritos cheguem ao topo. Não vou permitir que vocês maculem a Casa da Democracia!

O Leãozinho Daniel, já perdendo a paciência, rugiu:
— Rato, você é pequeno demais para entender o que está em jogo aqui. Estamos organizando o processo para o bem de todos.

O Rato deu um salto, encarando o Leãozinho de frente:
— Pequeno, sim, mas com coragem suficiente para enfrentar suas mentiras. Não vou me calar enquanto vocês tentam transformar nossa floresta em um teatro de manipulações!

Enquanto isso, o Tamanduá Carlos Pina cochichava com o Pavão:
— Se o Falcão sair da disputa, minhas chances aumentam. Só precisamos manter o foco.

O Pavão, com suas plumas brilhando, respondeu em tom confiante:
— Querido Tamanduá, você pode tentar, mas quem nasceu para brilhar sou eu. Veja como todos olham para mim. É claro que sou o escolhido natural.

Na manhã do dia 19, todos os bichos se reunirão no grande Conselho. O Leãozinho Daniel subirá em sua pedra para abrir a sessão, mas deverá ser interrompido pelo Rato dizendo:
— Antes de começarmos, quero registrar que essa reunião é uma farsa se a democracia não for respeitada. Não aceitamos filtros impostos pelo Conselho!

O Caçador CAM, sempre escondido entre as árvores, observará tudo com um sorriso discreto, enquanto o Pavão exibirá suas plumas para os Corvos Conselheiros. O Falcão, com certeza voará em círculos, aguardando o momento certo para se pronunciar e a bicharada no final da reunião saberão como será a escolha do Quinto. O Fabulista então retorna das férias para observar o debate.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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