Na Floresta Jurídica, um território tão agitado que até as cobras usavam crachá para organizar suas intrigas, fervilhava com criaturas de todos os tipos, cada uma tentando mostrar que seu brilho era mais legítimo que o do vizinho. No centro dessa arena de egos, tronos e contratos, reinava a famosa Ordem dos Búfalos Advogados (OBA), aclamada como a guardiã da justiça, o templo da ética e a última esperança de respeito. Mas, nos bastidores, enquanto búfalos poliam seus chifres e tartarugas ajustavam suas togas, os tentáculos das alianças secretas já começavam a se mover. Intrigas borbulhavam, discursos inflavam como balões e, a cada minuto, os segredos mais obscuros do reino estavam prestes a explodir como um trovão no meio de uma procissão de formigas. O caos estava a caminho, e quem não tivesse as garras afiadas ia acabar comendo poeira.
No trono da OBA, reinava o Leãozinho Daniel que rugia forte em discursos inflamados e se apresentava como a personificação dos valores da Ordem. Mas os animais da floresta sabiam que, por trás do rugido, havia mais do que aparentava: o Leão não era o verdadeiro rei, mas um subordinado leal ao misterioso Caçador CAM, o verdadeiro comandante do reino e padrinho do leão. Daniel rugia de dia, mas à noite, cochichava nas sombras, ajustando suas ações ao comando invisível de seu mestre. No entanto, as criaturas do reino estavam cada vez mais desconfiadas, e as críticas começaram a surgir em rodas de conversas clandestinas.
“Ah, parem de falar como se alguém estivesse realmente surpreso com isso,” interrompeu a Preguiça Inácio Krauss, descendo do galho mais próximo com uma lentidão tão calculada que parecia um protesto passivo contra a pressa do mundo. “Vocês acham mesmo que o Leão liga para o que chamam de ‘advocacia de chão’? Por favor. Ele obedece ao Caçador CAM”.
A Cabra Tatiana Silvestre, impaciente como sempre, subiu em uma pedra próxima, e disse: “Ah, mas que novidade! O Leão rugindo sem morder e o Caçador puxando os cordões. Vocês acham mesmo que ele vai largar o osso que o Caçador joga no colo dele? Esse Leão é mais domesticado do que uma ovelha de fazenda.” De longe, a Coruja Clara Machado, com sua postura meticulosa, respondeu: “Tatiana, você precisa ser mais cuidadosa com as palavras. O Leão pode não morder, mas ele ainda tem dentes.” “Dentes?!”
A Coruja estava de olho em tudo. Ela limpou os óculos com as asas e comentou, com a serenidade de quem sabia mais do que dizia: “Ah, meus amigos é fácil gritar. Mas alguém aqui já parou para considerar o que acontece quando a gente chuta o Leão e o Caçador decide nos caçar diretamente?” Os animais riram e a dúvida espalhou-se pela floresta com o vento que soprando ao luar.
De repente, o Velho Elefante Evânio Moura emergiu das sombras. Ele caminhou levemente até o centro, cada passo ressoando como um lembrete da sabedoria e paciência que faltavam em muitos. “Silêncio!” bradou ele: “Vocês estão tão ocupados reclamando que se esqueceram do essencial: este reino não é sustentado pelo Leão, nem pelo Caçador. É sustentado por nós.”
Os animais na clareira ouviam em silêncio, mas seus olhares estavam fixos na sombra da torre do Caçador CAM, onde o verdadeiro poder se escondia, observando e manipulando. “Mais um show de luzes e palavras,” murmurou Clara Machado, voando para um galho mais alto. De pronto, Rinoceronte Juvenal entrou bufando, com passos que faziam as árvores tremerem: “Isso é um golpe contra a advocacia! Um golpe descarado e mal disfarçado!” Os animais se entreolharam.
O Pavão Márcio ergueu o bico com um sorriso afiado. “Meus caros, vamos com calma. Vocês acham mesmo que uma floresta de animais barulhentos pode decidir melhor do que o nosso conselho”. e riu baixinho.
Lá no canto, o rato ABES com olheiras profundas e uma expressão desgastada levantou a voz com dificuldade. “Eu… eu não posso acreditar no que estou ouvindo… mas, infelizmente, eu só posso dizer mais depois que esse júri acabar. Já são dez dias! DEZ DIAS! E o Leão ainda acha que tem o direito de ignorar o respeito que nós, animais da floresta, merecemos!” A Preguiça Inácio Krauss, que estava pendurado em um galho baixo, bocejando enquanto observava a confusão. “Se o Rato terminar esse júri, quem sabe ele tenha energia para gritar o que todos já sabemos: incompetência total do Leão e seu mestre Caçador.”
“Não se preocupem,” respondeu o Rato. Assim que eu sair desse júri, eu mesmo vou roer essa estrutura e expor o que está errado. “Espero que sim,” disse a Coruja Clara, ajustando seus óculos. “Porque, do jeito que as coisas andam, o próximo rugido pode ser a ordem final do Caçador.”
Logo, uma Foca …. que mexia mais com os nervos dos poderosos, radialista de nadadeiras rápidas e riso inconfundível. Ele era uma força da natureza: metade jornalista investigativo, metade showman. Luiz Carlos tinha o dom de transformar escândalos em histórias que faziam até as árvores balançarem – e ele adorava cada segundo disso. “Ah, meus queridos ouvintes da floresta,” começava ele, sua voz ecoando pelo vale. “Hoje o cardápio tá especial: temos um pavão que brilha demais, um caçador que se enrola em suas próprias armadilhas e um leão que rugiu tanto que perdeu a voz. Vamos mergulhar nessa bagunça?”
No meio do tumulto, enquanto as árvores balançavam sob as promessas vazias do Leão e o brilho ofuscante do Pavão, surgiu o Lobo Fabiano Feitosa, determinado a trazer a mudança que a advocacia tanto clamava. Ele não era de discursos pomposos ou exibições desnecessárias – era de ação. E sua missão era clara: garantir que a eleição do Quinto fosse direta, feita pela advocacia de verdade, e não decidida por um conselho que mais parecia um clube exclusivo de animais bem alinhados. “Chega de espetáculo!” gritou Fabiano, subindo em uma pedra na clareira. “Quem trabalha no chão da floresta sabe o que é lutar por justiça. E é essa advocacia que deve decidir o futuro, não um bando de conselheiros que vivem em torres de vidro.”
Os animais começaram a murmurar em concordância, e até os esquilos, normalmente neutros, começaram a se aproximar do Lobo. O clima na clareira estava fervendo. Diante da crescente pressão, Daniel convocou uma grande assembleia para tentar restaurar sua autoridade. Ali, cada animal teve a chance de falar, e a união dos pequenos – liderada pelo Elefante e o Rinoceronte – surpreendeu o reino. Eles exigiram mudanças no processo do Quinto, como eleições diretas para garantir que todos os animais fossem representados, não apenas os mais poderosos.
O Elefante, muito mais magro e lindo, sábio e respeitado por sua memória e imparcialidade, foi o último a falar: “Não podemos construir um reino justo em cima de privilégios ocultos. A ética não é um luxo dos poderosos, mas um direito de todos. Que a flecha do Caçador e o rugido do Leãozinho sejam reavaliados sob a luz da transparência.”
No final, a assembleia decidiu pela democratização do processo, mostrando que, mesmo na Selva Jurídica, onde as aparências muitas vezes enganam, a união dos pequenos animais pode trazer grandes mudanças e por mais que alguns tentem se agarrar ao poder com garras, plumas, chifres e teorias, a força da ética e da representatividade sempre encontra uma maneira de florescer, desde que a coragem de questionar seja maior que o medo de confrontar.