A política sergipana tem sido palco de grandes reviravoltas nos últimos anos, e poucos personagens representam esse enredo com tanta intensidade quanto Valmir de Francisquinho (PL). O que aconteceu com ele em 2022 foi muito mais do que um simples episódio de inelegibilidade. Foi uma manobra jurídica sem precedentes, um golpe estratégico que o retirou de uma disputa na qual ele tinha chances reais de vitória.
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Agora, com sua recente ascensão política e sua presença cada vez mais forte no debate público, Valmir não apenas retorna ao tabuleiro, mas o faz em um momento estratégico, onde sua presença pode alterar profundamente o cenário de 2026. Diante disso, é necessário analisar com critério todos os pontos que envolvem sua trajetória recente, o papel dos personagens envolvidos e os impactos políticos dessa movimentação.
A inelegibilidade de Valmir em 2022 foi um dos episódios mais controversos da história política de Sergipe. O ex-prefeito de Itabaiana estava elegível, com todas as condições legais para disputar o governo do Estado, mas foi impedido nos últimos momentos da campanha. O detalhe mais absurdo? Logo após ele retirar sua candidatura, sua elegibilidade foi restaurada.
Esse movimento não passou despercebido pelos analistas políticos e pela sociedade sergipana. Afinal, não se tratava de um mero erro jurídico ou de um detalhe técnico. Foi uma decisão com claros efeitos políticos, que mudou o rumo da eleição ao impedir um candidato competitivo de participar da disputa.
O caso de Valmir expôs uma fragmentação jurídica inédita no país. Poucos políticos enfrentaram um cenário tão bizarro: primeiro, ser retirado da eleição sem justificativa convincente; depois, ter sua condição de elegibilidade restaurada quando já era tarde demais para voltar ao jogo. Agora, em mais um capítulo de decisões questionáveis, Valmir se vê novamente inelegível, desta vez por conta do caso do matadouro de Itabaiana.
Embora tenha sido absolvido em primeira instância, Valmir firmou um Acordo de Não Persecução Civil (APNC) com o Ministério Público, o que em tese encerraria a questão sem maiores consequências. No entanto, o Tribunal de Justiça de Sergipe (TJ/SE) não aceitou o acordo, optando por condená-lo e impor a perda de seus direitos políticos. Assim, ele não poderá ser candidato em 2026, salvo uma reviravolta judicial.
O mais grave é que outros políticos conseguiram reverter suas condenações por meio de ANPC, mesmo depois de condenados em última instância. O ex-deputado André Moura, por exemplo, foi condenado pelo STF, mas posteriormente fez um acordo de não persecução civil e hoje está plenamente elegível. Ou seja, a lei, que deveria ser aplicada de forma isonômica, parece ser usada de maneira desigual quando se trata de Valmir.
Apesar da rasteira em 2022, Valmir não foi apagado do cenário político. Pelo contrário, voltou em 2024 com ainda mais força, disputando e vencendo a prefeitura de Itabaiana com uma votação expressiva. No entanto, seu nome para 2026 agora depende de um imbróglio jurídico que levanta questões sobre a seletividade do sistema de Justiça e o real impacto das forças políticas sobre ele.
Aqui, vale destacar o papel de Adailton Sousa, que poderia ter concorrido à reeleição, mas reconheceu a liderança de Valmir e abriu mão da disputa em favor dele. Esse gesto mostra o peso político de Valmir dentro do grupo e reforça que sua força vai além do seu nome – ela está enraizada em uma base consolidada e leal. Essa vitória não foi apenas um retorno ao poder municipal. Foi um recado claro: Valmir ainda tem forte apoio popular e é um nome a ser considerado para disputas maiores.
Enquanto consolidava sua posição em Itabaiana, Valmir teve um papel decisivo na eleição de Emília Corrêa (PL) em Aracaju. Poucos sabem, mas ele não foi apenas um apoiador de bastidores – ele esteve na linha de frente da campanha, percorrendo bairros, dialogando com eleitores e fortalecendo a candidatura onde Emília era mais frágil.
A estratégia foi clara: Valmir concentrou seus esforços nas periferias, locais onde sempre teve grande influência. O motivo? A forte presença de comerciantes e empreendedores itabaianenses, um público que o vê como referência. Seu engajamento foi além das ruas: ele gravou programas eleitorais, mobilizou lideranças e contribuiu diretamente para o crescimento de Emília no segundo turno. O resultado? A vitória de Emília teve as digitais de Valmir. Mas, estranhamente, seu papel tem sido minimizado nos bastidores políticos.
Apesar de todo esse histórico, o PL parece decidido a minar Valmir nos bastidores. Valmir recentemente denunciou um fogo amigo dentro do partido, afirmando que há uma clara tentativa de excluí-lo das decisões estratégicas e reduzir sua influência. As evidências dessa crise são claras: o presidente do PL, Edivan Amorim, afirmou que Valmir não quis substituir sua candidatura por Emília em 2022, entretanto Valmir, por sua vez, desmentiu essa versão, dizendo que tentou fazer a substituição – mas o partido não permitiu.
Ou seja, há uma ruptura evidente dentro do partido, onde duas narrativas completamente opostas indicam um movimento para marginalizar um dos seus maiores nomes. Se o PL tem outros planos para 2026, precisa deixar isso claro. O que não pode fazer é fritar Valmir nos bastidores, como se ele fosse um nome qualquer.
Enquanto o PL hesita, os governistas acenderam o sinal amarelo. O movimento em torno de Valmir de Francisquinho tem chamado a atenção do Palácio dos Despachos, e ninguém mais duvida que sua força eleitoral pode bagunçar o jogo de 2026.
Outros grupos políticos já demonstram interesse real em tê-lo em seus quadros. MDB, Republicanos, União Brasil e PP já sondam sua possível migração, e os governistas não estão parados. O governador Fábio Mitidieri (PSD), percebendo a crescente influência de Valmir, fez gestos públicos de aproximação, inclusive indo a Itabaiana dialogar diretamente com ele. Essa visita não foi apenas um ato de cortesia institucional – foi um sinal claro de que o governo sabe do peso político que Valmir carrega e de que deixá-lo livre no tabuleiro pode ser um erro fatal para a base governista.
Além disso, o senador Rogério Carvalho (PT) e o ex-deputado André Moura (UB) também têm mantido conversas estratégicas com Valmir. Essa movimentação reforça a ideia de que seu nome está longe de ser descartável e que ele pode ser um fator de desestabilização nas próximas eleições. Diante disso, surge a grande pergunta: o PL realmente quer perder Valmir? Ou só perceberá sua importância quando for tarde demais?
A política sergipana atravessa um período de desajuste estratégico no campo da direita, e isso se reflete diretamente na falta de um nome competitivo para enfrentar o governo em 2026. Desde a eleição de Fábio Mitidieri (PSD), a direita se fragmentou, perdeu protagonismo e não conseguiu consolidar uma liderança capaz de rivalizar com o grupo governista, isso no campo Estadual é óbvio.
Atualmente, o único nome ventilado para assumir essa missão é Ricardo Marques, mas sua baixa capilaridade política e falta de inserção estadual tornam improvável sua competitividade contra um governo estruturado, articulado e fortalecido por uma base ampla. Marques pode até ser um bom quadro político, mas carece de uma base consolidada e de capacidade real de mobilização.
Valmir de Francisquinho é a principal figura da oposição em Sergipe, caso resolva suas questões jurídicas. Sua base eleitoral fiel e consolidada lhe dá força independente de partidos. Em 2022, mesmo sem concorrer, ajudou o PL a alcançar votação histórica. Em 2024, reafirmou sua influência ao vencer com folga para a prefeitura de Itabaiana. Além dos votos, destaca-se por sua habilidade em formar alianças e unir a direita do interior com a capital, algo raro na política local.
Outro ponto que devemos analisar é que Valmir foi peça-chave na vitória de Emília Corrêa em Aracaju, mostrando sua capacidade de dialogar com diferentes setores, como o empresariado e a classe trabalhadora autônoma. Com esse perfil, ele se consolida como o nome mais forte da oposição. No entanto, sua inelegibilidade, fruto de um processo jurídico questionável, é o grande obstáculo.
Se reverter a situação, será um dos maiores desafios para o governo de Fábio Mitidieri em 2026. Caso contrário, a direita entrará fragilizada na disputa, sem um nome à altura para enfrentar a máquina governista. A grande questão é: se Valmir não for candidato, quem ocupará esse espaço? A oposição conseguirá se organizar ou continuará desorientada?
O erro do PL pode custar caro. Se continuar tentando reduzir o espaço de Valmir, ele pode simplesmente sair do partido e levar sua base consigo. E nesse cenário, quem perde não é Valmir – é o próprio partido.
A política é feita de movimentações estratégicas, e Valmir já provou que sabe a hora de entrar e sair do jogo. Se o PL insistir em isolá-lo, é só uma questão de tempo para que ele encontre outro caminho. A pergunta que fica é: o PL terá visão política para evitar esse erro ou continuará insistindo em apagar seu maior ativo? Porque, ao que tudo indica, quem subestimar Valmir, em 2026, pode acabar surpreendido.