Yandra Moura na Cidade das Maravilhas

Foi com ruidosa e utopista festa, que Yandra de André lançou, na última segunda-feira, sua pré-candidatura à Prefeitura de Aracaju, chapa composta pelo ex-governador Belivaldo Chagas como Vice. O local escolhido não costuma ser o mais frequentado pela princesa Yandra, mas era o cenário ideal para o maravilhoso espetáculo. Na performática estreia, também tivemos fogos de artifício, iluminação, painéis de led, confetes, serpentinas, gelo seco, muita fumaça, apitos, distribuição de camisas, bonés e uma plateia bem montada, que muito me lembrou a festejada obra do autor Lewis Carroll: “As aventuras de Alice no País das Maravilhas”.

Em um mundo paralelo, Alice cai na toca de um coelho e encontra um mundo de fantasias povoado por uma coleção de personagens verdadeiramente bizarros. A jovem Yandra, por sua vez, cai de paraquedas em uma aventura política e encontra um município cuja realidade e problemas lhe são totalmente desconhecidos, incluindo intenso crescimento demográfico e a sobrecarga das políticas de infraestrutura urbana, degradação ambiental e seu impacto nas grandes mudanças climáticas globais, coordenação de tráfego e sistema de transporte público, dentre outros tantos problemas sociais. No mundo das maravilhas, Yandra tenta abordar esses desafios com seu discurso idealista e soluções simplistas, carregada nos braços do povo.

Tal qual o Coelho Branco de Alice, seu pai, André Moura, vem conduzindo Yandra pelo encantado mundo da política, desafiando sua pupila a uma grande aventura: a de se lançar na corrida eleitoral à Prefeitura de Aracaju. Suas aparições são curtas e estratégicas, quase invisíveis, até para não dificultar ainda mais o trajeto tortuoso da sua rebenta. Não teve direito à voz ou se fez de mudo no pré-lançamento de Yandra. Talvez, pelo fato de ter tido apenas 31 mil votos para senado em 2018 em Aracaju, ou pelo fato de ter recém pulado uma fogueira no Superior Tribunal Federal, fatos transacionados junto ao MPF mas não esquecidos pela cidade maravilhosa.

Enquanto Alice conheceu a Lebre de Março, o Chapeleiro Maluco, a Lagarta Fumegante e a temível Rainha de Copas, Yandra tem se deparado com personagens non gratos, ex-adversários ferrenhos, que si engalfinharam entre si na última década. A começar por Belivaldo Chagas, o pré-candidato a vice que enfrentou André por duas vezes. Ainda sobem no mesmo palanque de Yandra, Heleno Silva e Fábio Henrique que caminharam juntos com Belivaldo até o último instante das eleições de 2018 e rumaram nos últimos minutos para palanques diferentes. Coisas só admissíveis no estranho mundo das maravilhas.

Que o mundo ilusório de Lewis Carroll não retire dos aracajuanos a capacidade de enxergar as duras e reais necessidades da nossa capital. Que sejamos capazes de valorizar mais a experiência e a empatia à opulência e magia das grandes campanhas.

Recorde-se que a corrida ao Executivo, diferente do mandato legislativo, depende muito mais do que simples carisma ou tribuna eloquente. O chefe de ente federado é como um maestro regendo a sinfonia da administração pública. Sua jornada depende de liderança e gestão eficaz, assumindo a responsabilidade pelo funcionamento cotidiano de uma cidade e por ações concretas que moldam a realidade de milhares de pessoas. Estamos falando de realidade, daquela que nos espreita diariamente no ônibus lotado ou no posto de saúde desassistido. Daquela que aperta o coração do pai e de uma mãe que não consegue trabalhar por não ter onde deixar seus filhos e de tantas outras que nos fazem questionar o paradeiro dos nossos impostos. Somente este cenário pode balizar o nosso voto ou amargaremos 1.460 dias num mundo paralelo, quiçá retrógrado, às custas de pílulas coloridas fornecidas por um tal Gato Risonho.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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