Fedro Portugal faz parte de uma linhagem de médicos que dignificam o Estado de Sergipe. É um homem que merece ser biografado. Dono de uma memória privilegiada, Fedro viveu a história de Sergipe como ninguém, tendo marcado época em tudo que participou com brilho intenso e presença rara. Na Universidade Federal de Sergipe e no Hospital Universitário, ultrapassou os limites do afeto e do respeito, sendo endeusado pelos alunos e colegas sempre com aquele jeito europeu de ser. Além de sua atuação acadêmica percorrendo os corredores das didáticas, Fedro solidificou-se mesmo como médico, atendendo em consultório pessoas da sociedade, anônimos e celebridades sociais, que logo viam nele um amigo, um mestre a cuidar das feridas do corpo e da alma também. Agradável ao extremo, refinado, Fedro sempre foi adepto de uma boa mesa, de um aconchegante hotel e de um vinho de rara safra. Elegante em seus ternos cortados pelo alfaiate Valdir, era íntimo de pessoas nobres e importantes, como o monsenhor Claudionor Fontes, que o fez fiel depositário de seus bens. Casado com a também médica Selma Portugal, uma joia rara de pessoa, vivem um amor eterno, de cumplicidade. Tem três filhos: Joana Angélica, Maria da Glória e Fedrinho, que ingressou no ramo da Gastronomia com o seu restaurante Baco.
Ninguém nunca viu Fedro gritando com ninguém, sempre cordato, altruísta e humano ao extremo. Faz a liturgia de médicos como Augusto Cesar Leite, José Augusto Barreto, Dietrich Wilhelm Todt, Maria Luiza Dórea, Antonio Garcia Filho, pai do poeta Eduardo Conde Garcia, José Calumby Filho, Hyder Gurgel, Amilton Maciel, Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, José Abud, Petronio Gomes, José Fernandes de Magalhães, José Machado de Souza, José Rezende, José Teles de Mendonça, João Machado de Aguiar Melo, Marcos Almeida, Almir Santana, Lucio Prado, William Soares, Ilma Fontes, Marcelo Ribeiro, Gélio Albuquerque, Raimundo Sotero, Zairson Franco, José Maria Rodrigues e tantos outros nomes. Fedro é uma pessoa extraordinária, com gosto para Arquitetura (sua casa tem portão de Osiris Rocha, projeto de Paulo Rehm), louco por ópera e cinema, admirador dos artistas sergipanos, incentivador dos mesmos – comprando livros, quadros, peças de antiquário. Fedro toca piano e é um memorialista de sua terra, tendo vivido os tempos áureos do Cine Guarany, Vitória, Rio Branco e Cine Pálace, a sorveteria Yara, a Cascatinha, o Cacique Chá com painéis de Jenner Augusto, a Cinelândia de seu Araujo com seu sorvete de coco, e Russo e seu sanduíche inesquecível de queijo do reino e pão de cachorro-quente, a Luzitânia com seu bolinho de bacalhau incrível até hoje, e as festas de Natal na Praça da Catedral, com a pipoca lírio do vale. Como Fedro sempre foi um intelectual, frequentou a fase áurea da Livraria Regina, onde podia-se encontrar livros de várias nacionalidades: italianos, franceses, espanhóis, além dos nacionais, em diversas áreas do conhecimento.
Vários intelectuais tiveram livros impressos pela Regina, como Mário Cabral, Santo Souza, Alberto Carvalho, José Calazans, Pires Wynne, entre outros com quem mantinha amizade. A tarde de autógrafos desses lançamentos não só era um entretenimento da Rua João Pessoa, mas, sobretudo, um encontro de intelectuais. Fedro também sempre foi um apaixonado pelo Jornalismo e comprava todo final de semana os jornais do Sul: "O Globo", "Folha de S. Paulo" e "Estadão", dando sempre uma passada na Charutaria Chic, de Moacir. Católico, Fedro é um admirador de Dom Luciano Cabral Duarte, ouvindo a hora católica da Rádio Cultura, sempre aos domingos, ao meio-dia.
Nasceu em Aracaju, Sergipe, no dia 1° de julho de 1944, sendo seus pais o famoso Francisco Nascimento Portugal e Maria da Glória Menezes Portugal. Fez o curso de Humanidades em sua cidade natal, onde frequentou o Colégio Tobias Barreto, conceituado estabelecimento de ensino da capital sergipana. Em 1962, ingressou na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal de Sergipe. No curso de seu tirocínio acadêmico, lecionou Biologia no Colégio Estadual de Sergipe, no Colégio Tobias Barreto e no Colégio Arquidiocesano. Quando estudante de Medicina, foi um dos fundadores do curso BETA, destinado à preparação de alunos para o concurso vestibular. No último ano de seu tirocínio médico, estagiou no Hospital das Clínicas Prof. Edgard Santos, da UFBa, e no Instituto de Dermatologia, sob orientação do Prof. Newton Guimarães, em Salvador, Bahia. Concluído o estágio curricular, diplomou-se na primeira turma de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, UFS.
Em 1972, prestou concurso para professor auxiliar de ensino da Faculdade de Ciências Médicas, iniciando, assim, sua carreira docente em sua universidade de origem. De 1976 a 1978, fez residência médica na Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Naquela ocasião, seu currículo profissional contava com 54 participações em congressos e 49 cursos de pós-graduação na área de Dermatologia, 34 participações como palestrante em eventos da especialidade, além de aprovação em concurso público para professor substituto de Dermatologia.
É membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, do Colégio Íbero-Americano de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, da Associação Brasileira de Hansenologia, da Sociedade Médica de Sergipe e da Academia Sergipana de Medicina. É fundador da Secção Regional da Bahia e de Sergipe da Sociedade Brasileira de Dermatologia. É detentor de diversos títulos e honrarias, tais como a de Honra ao Mérito da Sociedade de Cirurgia Plástica e de Queimados, da Sociedade Norte/Nordeste de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Como ser humano, Fedro Portugal nos enobrece pelos gestos comedidos, coração grande, percepção humana invejável. Continua atendendo humildemente em seu consultório, dando aula aos residentes do Hospital Universitário, ministrando palestras pelo mundo afora e, recentemente, quando se encontrou internado, os seus alunos deram plantão no hospital, além de ter visitado o poeta no HU com as suas lindas alunas o acompanhando. Fedro é como dizem os mais velhos: não existe. É um mito, uma lenda. Um Bagavadguitá. Uma canção de Deus. O texto, escrito em sânscrito, relata o diálogo de Krishna (uma das encarnações de Vixnu) com Arjuna (seu discípulo guerreiro) em pleno campo de batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever e recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna, que o instrui na ciência da autorrealização. Seria assim a alma de Fedro Portugal. Um diamante raro, de cuidadosa lapidação própria, esculpido no mais nobre amálgama do tempo e da vida. É um luxo ser amigo de Fedro Portugal. Uma honra tal como o diamante Koh-i-noor, o Diamante dos Imperadores.
Gostaria de ter a capacidade de falar deste homem. Mas escassa é a palavra e inútil o significado diante do amor que sentimos por ele. Tantas vezes atendendo meu pai em seu consultório, sem lhe cobrar nada. Quanto a mim (ah!, meu Deus!), quantos anos! Sempre me honrando com palavras imerecidas de apoio, numa discrição e polidez únicas. Tal como um filme de Luchino Visconti com o sensível e refinado "Morte em Veneza" (1971), protagonizado por Dirk Bogarde e baseado na obra de Thomas Mann. O filme conta a história de Gustav Aschenbach, um compositor que vai passar férias em Veneza, e acaba por viver uma grande e inesperada paixão, que iniciaria a sua completa destruição. O filme faz uma abordagem do conceito filosófico de beleza, assim como a passagem do tempo e a importância da juventude nas nossas vidas. Assim, em meio a tantas paixões em sua vida: pelas artes, pela ciência e pelo ser humano, Fedro Portugal pode repetir com Drummond: “As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão.
Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas, ficarão”.