Fim de linha para o obcecado Aécio

A vida e a arte são abundantes em personagens marcados pela obsessão. O mito do Fausto, que alcançaria sua máxima expressão na obra de Johann von Goethe, conta do alquimista obcecado pela ideia de modernidade e pelo desejo de juventude que entregou a alma a Mefistófeles para alcançar seu objetivo. Napoleão Bonaparte foi o conquistador que foi derrotado e feneceu obcecado por estabelecer a hegemonia francesa sobre a Europa. Hitler todos conhecem o seu grau de obsessão.

Obsessão é o apego exagerado a um sentimento ou a uma mesma ideia. O obcecado tem uma ideia fixa que importuna e esse sentimento pode virar uma patologia. O obcecado é patético.

Em 2008, o então prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, interessado numa aliança política com o então governador mineiro do PSDB, argumentava para os companheiros petistas que Aécio Neves não era obcecado pela presidência da República como José Serra. Ledo engano. O tempo mostrou que é igual ou pior do que o senador paulista. O playboy Aécio desenvolveu uma neurose obsessiva, uma compulsão: ele quer a presidência da República, custe o que custar.

Desde aquela frustrada comemoração no apartamento da irmã Andreia Neves no começo da noite do dia 26 de outubro, quando foi saudado como novo presidente do Brasil por José Agripino, Luciano Huck e quejandos, ele passou a acreditar que tinha, sim, vencido a eleição e não tirou mais essa ideia fixa da cabeça. Não adiantou o choque de realidade que o atingiu e gelou a todos minutos depois, quando a TV mostrou a virada de Dilma.

Quase nove meses depois, mais precisamente no dia 7 de julho, numa entrevista à Rádio Gaúcha, ao falar sobre sua reeleição como presidente do PSDB, ele afirmou textualmente: “O impeachment pressupõe um fato jurídico concreto. Pode acontecer? Pode, e ele independe das oposições. Como pode também não acontecer. O que nós dissemos na nossa convenção que me reelegeu, neste domingo, ‘presidente da república’ é que o PSDB é um partido pronto para qualquer saída, inclusive a permanência da presidente da República”.

Diante da gargalhada dos apresentadores surpresos com o ato falho, tentou se corrigir, disse que não deve antecipar cenários e que, saída honrosa, não se sabe nem "se a eleição vai ocorrer em 2018".

Desde aquela frustrante derrota vem repetindo como um alienado que foi roubado, que Dilma comprou a reeleição, e incorporou à sua obsessão a ideia do impeachment. Não se pode afirmar que é um maluco falando para si mesmo porque há um bando de boçais que acredita nas suas perorações.

Em fevereiro, numa tensa sessão do Senado, ele bateu boca com o presidente da Casa, Renan Calheiros, com troca de dedo em riste e berros no plenário, irritado com a estratégia do peemedebista na formação da Mesa Diretora. Aécio então deixou escapar uma pérola da sua obsessão: disse que Renan só seria presidente dos senadores que o elegeram. A frase equivale a afirmar que Dilma Rousseff só é presidente dos que nela votaram. Renan retrucou afirmando que ele precisava ter melhor "dimensão da democracia".

De fato, ele acredita que foi eleito presidente por aquela quase metade dos eleitores que nele votaram. Mas às vésperas das manifestações de 15 de março, Aécio Neves ainda tentou assumir uma posição democrática, deixando claro que o impeachment não estava na agenda do partido. Mas logo depois, sem qualquer justificativa razoável, mudou de posição, aderiu à tese golpista e reforçou a estratégia de vencer pelo cansaço.

O objetivo traçado é impedir Dilma de governar e provocar a sua queda. Arranjou um aliado de peso para a sua tese, o homem-bomba Eduardo Cunha, outro que tem rabo de palha e quer tocar fogo no país.

Não adiantou o jurista referência para o PSDB, Miguel Reale Jr., afirmar que não há base jurídica para o impedimento: “A pena do impeachment visa a exonerar o presidente por atos praticados no decorrer do mandato. Findo o exercício da Presidência, não se pode retirar do cargo aquele cujo governo findou”. Ou seja, nada do que ocorreu no primeiro mandato serve para interromper o atual.

O próprio Aécio, no mês de maio, atestou a conhecida probidade de Dilma. “Acho que a presidente da República é uma mulher honesta, uma mulher de bem. Não faço nenhuma crítica a sua conduta pessoal. Acho apenas que ela está despreparada para governar um país da complexidade do Brasil”.

Ele acha e, por achar, Dilma deve cair. Como o impeachment é aplicável apenas em caso de envolvimento direto do mandatário em crime de responsabilidade durante a gestão em curso, precisaria ter surgido um fato novo e recente para dar legitimidade ao seu achismo.

Operação Lava-Jato e supostas manobras fiscais impugnadas pelo TCU têm então alimentado sua compulsão. Em entrevista à aliada revista Veja desta semana, Aécio Neves afirmou que sua posição em relação ao impeachment contra Dilma Rousseff é “de respeito à Constituição”.

Disse à revista: “Que fique claro que um desfecho amparado pela Constituição não pode ser tratado como tentativa de golpe. Golpeiam aqueles que tentam impedir o desfecho no âmbito da Constituição”. E acrescentou um elemento comprovador da sua patologia: não sabe se existem elementos de culpa contra Dilma Rousseff atualmente, mas, segundo disse, nada impede que eles surjam mais adiante.

A nova é que ele já se prepara para ser candidato ao Palácio do Planalto em 2015. Sim, neste ano. “Acredito que em breve seremos chamados a assumir a responsabilidade de tirar o Brasil desse poço sem fundo em que o PT nos enfiou”, afirmou na mesma entrevista à Veja.

Não caiu a ficha que suas maluquices já não interessam àqueles que sempre o apoiaram e agora perceberam que essa crise política alimentada por ele e seus asseclas está prejudicando seus negócios. A Folha de S. Paulo afirmou que a democracia não pode ser vergada em favor de interesses pessoais. A Globo agora pede esforços pela governabilidade do país e chamou a oposição do PSDB de “inconsequente”. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirma que a questão do impeachment não está colocada. E Renan Calheiros defende a governabilidade.

Já deu, Aécio!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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