Pela primeira vez, depois de uma longa e tenebrosa espera, tivemos a felicidade de ouvir de um petista de alta estirpe – o governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda – em alto e bom tom, na mídia nacional, que o justo não pode pagar pelo pecador, ao referir-se às ações delituosas praticadas, nos últimos anos, pelos companheiros paulistas que sempre tiveram o comando total do partido nas mãos. “Um erro de um militante de São Paulo termina contaminando todo o partido de Norte a Sul do país. Esse tipo de dependência não pode continuar”, afirmou Déda, convicto de que o PT paulista não pode mais ser hegemônico no comando. Afinal, os paulistas tiveram a sua chance e falharam de forma grotesca. Aprontaram horrores, desacreditaram a legenda, macularam o brilho da estrela. Portanto, é chegada a hora de novas lideranças – principalmente, as que despontaram nas ultimas eleições – terem oportunidade de recuperar os escombros, de colar os cacos que restaram da militância.
É público e notório que o PT viu-se em maus lençóis diante das peraltices de seus líderes maiores (José Genoino, Delúbio Soares, Ricardo Berzoine, Zé Dirceu, Silvio Pereira) no Planalto. Mas, mesmo assim, até então, só ouvimos de seus principais integrantes desculpas esfarrapadas na tentativa de encobrir erros, ao invés de uma tomada de posição equilibrada como a do governador eleito de Sergipe, na última semana.
Do presidente Lula da Silva, de forma decepcionante, só conseguimos ouvir até agora que ele não sabia de nada. Não sabia do mensalão, do Valerioduto, do dinheiro ilegal para compra de dossiê. Dinheiro, que dinheiro? “Vamos apurar”. Garantiu – quase sem alternativa – um candidatíssimo presidente Lula, disposto a tudo para não arredar pé do governo, depois do susto do primeiro turno.
Naturalmente, uma reação à entrevista de Marcelo Déda veio de pronto. Sentindo-se atingido, o ex-primeiro-ministro de Lula, José Dirceu, tentou desqualificá-la, em seu blog, classificando-a como “fraquinha”. Não parou, no entanto, para analisar que fraquinhos foram os seus argumentos diante dos fatos.