Enquanto os nossos deputados e senadores estão a debater o “vazamento” de um dossiê contra o governo de Fernando Henrique Cardoso, na ausência de uma discussão mais séria, sobre os grandes problemas nacionais, o Presidente Lula continua a nadar de braçada na preferência das pesquisas. Infelizmente, os líderes, José Agripino do DEM e Artur Virgílio do PSDB, acreditam que os seus discursos recuperarão o eleitorado minguante que cerca suas siglas. E o que se observa são palavras vazias numa CPI que não empolga, até agora um verdadeiro tiro no pé da oposição, porque qualquer investigação em cima do governo do ex-presidente, faz renovar as eleições presidenciais de 2002 e 2006, nas quais suas teses foram recusadas em maioria pelo eleitorado nacional. Derrotas que ainda se revelam exemplares, em rejeição pura e simples de um discurso que perdera sua aura de esperança. Sim, porque o intelectual FHC fora, por muitos anos, a única esperança de uma intelligentsia descabeçada e preconceituosa, como só nossa esquerda festiva o é, quando cria seus mitos, louvando-lhe um gigantismo cerebral, por triórquido, enquanto produtores e reprodutores de uma decantada criação, desprezando tudo e todos que lhe pensem em dissonância. E o governo FHC foi dissonante com tudo o que esta intelectualidade assentada nas nossas universidades postulara, esperara e propagara, em o erigindo como seu mito essencial por excelência. Justamente os cérebros pensantes, aqueles que não crêem no mito nem nos heróis, imaginaram FHC como um verdadeiro titã brasileiro. Uma excrescência que o povo abestadamente o recepcionou por super-herói, e o fez seu presidente por oito longos anos. Tempo de um presidente sorridente, gozador e só sarcástico, super-herói irônico, sem a graça de seu contraponto histriônico; o vampiro brasileiro, aquele personagem cômico dos shows do comediante Chico Anísio. Mas o povo aos poucos percebeu naquele seu sorriso quase cínico de só sarcasmo, gargalhar comedido, a expressão verdadeira da indiferente cátedra perante os iletrados. Porque a cátedra, e o professor honoris causa por insolência, exibem frente aos iletrados um desdém tão desprezível, que malsina até o perdão do Messias, quando um dia ao vulgo requerera: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Do alto da cadeira do saber, a massa iletrada sempre será cota rasteira, por desprezível, afinal da maciez de uma douta poltrona não há tempo para contemplar, concessões ou motivações de comiseração ou piedade. Para estes mestres, por doutores e luminares especialistas, nutridos e só cevados na papirografia e nos “papers” científicos, a comiseração e a piedade são tolices que perderam, no tempo e nos templos, o seu langor. E o povo que nunca foi burro, viu que neste discurso ilustrado e muito aplaudido no idioma que não era o seu, viu que a conta do sucesso do Real era remunerada com o seu poder de compra estagnado, e o desemprego crescente, por conseqüente. Enquanto isso só o sorridente FHC não via que o povo lhe fugia. Como pensar em minorar misérias se sua melhor matéria era garimpar títulos e homenagens de Universidades mundo afora, espatifando mundo afora também, todo um patrimônio construído com o suor do povo? Como desdizer depois que se empanturrou no alucinógeno da receita neoliberal tardia de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, transformando-se no maior privatista que se conhece na história pátria, vendendo o patrimônio público por trinta dinheiros? Como então, passado o porre do alcalóide neoliberal baixio, desfazer-se da fama de cultor seminal do desbaste estatal em terra brasilis, atacando o funcionalismo público como ineficiente, chamando os aposentados de vagabundos, e arrochando todos no salário que restou mínimo? E foi só isso que lhe restou num mandato de oito anos de triste memória. E a memória disso tudo é tão triste que sua sombra aniquila e estonteia qualquer debate que o PSDB e o ex-PFL, mudado de nome, possam conduzir com seriedade. Daí se exaurirem em discussões escandalosas, inconsistentes sem um necessário discurso alternativo para o país. Enquanto isso o presidente Lula em improvisos, coerentes por verdadeiros, dá aula aos letrados enraivecidos com o seu discurso, ora fustigando gafanhotos, ora combatendo os infiéis, nesta terra de muitos arrotos de bacharéis. E, a cada fala bem exposta e colocada, por improvisada sem peias, nem palavras meias, continua nadando em altas braçadas na preferência popular, para ira dos bem nascidos e falantes, e a classe média sempre bem nutrida e galante, nos bares e restaurantes, enraivecidos agora, porque o povão está podendo comer mais e melhor. Ora, para os que em mesa farta sofrem fastio, toda comida saciada e bem arrotada vira dejeto, entope esgoto e exala excremento, assim eis agora neste momento, em sucedâneo também da CPMF perdida, a praga do mosquito ressurgida. Culpam o ressurgimento do mosquito como um subproduto dos malefícios do PAC, esquecendo que a dengue é o reflexo do desapreço às recomendações do sanitarista Oswaldo Cruz, lá bem longe, no tempo e no pensamento, banido e renegado por nossas empedernidas elites, eternamente empesteadas de burrice, para sempre. Empestamento cerebral que impede os muitos cegos de verem, por agora, um país em condições econômicas jamais vistas em termos de inflação, reservas cambiais, poder de compra e crescimento sustentável. Tudo isso em meio a ausências de agitação e de discursos radicais, por demagógicos, extinção da CPMF para redução das verbas da saúde. Cegueira de oportuna catarata ou de uma oportunista miopia, que não constata, não credita, e bem menos acredita, que o salário mínimo bate recorde em meio à queda do dólar, valorizando-se também frente às moedas fortes estabilizadas no planeta; tudo o que fora sonho por séculos, e que se apresenta como laivos de esperança, sem ter quebrado o país, como sói denunciado e ameaçado, por pesadelo. Enquanto isso por pesadelo, a oposição DEM-PSDB, sobretudo no Senado Federal, quer fazer polemizar um discurso eminentemente paulistano, por paroquial e eleitoral exclusivo da cidade de São Paulo, quando o país lhe é muito maior. Prega-se a alternância do poder só pra São Paulo, encastoando o Governador José Serra como o delfim da hora e da vez, excluindo a vontade do povo, que se lhe fosse perguntado, escolheria o presidente Lula mais uma vez. Ora! Uma resposta deste tipo não merece consideração! Mesmo vinda do povo! Ela tem um caráter golpista! Nunca se deve consultar a massa nos seus momentos felizes! Dirão seus eternos manipuladores. Para estes, o povo só vale alguma coisa quando está com raiva, quando é impossível represá-lo em seu momento de carcará; quando está no ponto de pegar, matar e espedaçar. E tudo isso despedaça e exaspera FHC, incomodado por esquecido, igual a uma desafinada prima-dama, que teima ainda em se achar muito aplaudido, quando o eco antanho é mais um vexame não estranho. Porque não é estranho nem de mal tamanho saber que há momento de cantar e de falar, pra evitar o opróbio e a vexação. E o Henrique Fernando não se contempla no seu próprio vexame, enchendo por enxame, as vaias e os zumbidos ao seu redor. Vaia que alcança o PSDB e o ex-PFL, que ao se renovarem, em discurso e em lideranças, conseguem piorar cada vez mais. Piora cuja mudança de nomes e de siglas envergonhadas não os escondem, faltando-lhes a aura de sua velha liderança do passado, morta ou envelhecida em meio a um discurso não renovado em propostas. Evidência de despropositadas propostas, que lhe sobraram nos líderes menores, refestelando-se num despojo apodrecido, apaixonados por si mesmos, qual Narciso enamorado, por onanista, indiferente à beleza da paisagem nunca vista. Assim, não é à toa que o mal cinzelado DEM, e o narcisista PSDB destoam, por seus lideres envelhecidos e pelos jovens ali hoje nutridos, chegados e recém-chegados, ultrapassados por carcomidos, fazendo uma oposição tola, burra, inconseqüente, e já reprovada pelo povo, em maioria. Como negar que o governo Lula está colhendo mais sucessos que fracassos? Eis aí o grande fracasso da oposição.
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