Série especial do Sesquicentenário de Aracaju Inácio Barbosa não foi acusado, apenas, de representar os interesses do Barão de Maruim e de ser um “mulato, pobre, porém honrado”, epíteto próprio dos oitocentos, quando dominava no Brasil uma elite escravocrata, e tão preconceituosa como aquela frase com a qual era anunciado, nos programas de rádio, “Seu” Oscar, cantor e pandeirista aracajuano: “o pretinho de alma branca”. Houve quem cobrasse do presidente da Província o declínio da indústria açucareira em Sergipe, que tinha sido a principal motivação daquela autoridade, ao transferir de São Cristóvão para Aracaju a sede da capital. É verdade que Sergipe está reduzido a uma única usina de açúcar, a São José do Pinheiro, uma das mais antigas do Estado – situada em Laranjeiras – mas que tem uma capacidade produtiva superior a 1 milhão de sacas. Ao lado do açúcar, surgiram outros produtos, presentes na pauta de exportação, que também passaram pelo Porto do rio Sergipe, seguindo barra a fora. O sal, por exemplo, teve seu apogeu e moveu pelo menos uma nova indústria em Aracaju, a de embarcações, em estaleiros que sobreviveram por muitas décadas e dos quais H. Dantas, na Barra dos Coqueiros é um exemplo. Foi o sal que fez a fortuna e consagrou o empreendedorismo de Bastos Coelho. Como açúcar, o sal também teve o seu Instituto Nacional e Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do Socorro eram os principais produtores. Depois do sal, o algodão, chamado de “ouro branco” pelos nordestinos, gerando uma classe média no Semi-Árido e no sertão sanfranciscano, graças ao volume de desencaroçadores, que separavam a pluma para as fábricas de tecidos, quase uma dezena, sendo duas em Aracaju, e para exportação. Aracaju beneficiou-se, e muito, da riqueza proporcionada pelo sal e especialmente pelo algodão. Mais casas foram construídas, novos empreendimentos comerciais surgiram, tornando mais dinâmica a vida social e cultural da cidade, consolidando seu papel de capital e de porto. Grandes navios faziam linhas regulares de passageiros, entrando e saindo do porto com seus longos apitos, deixando na paisagem uma imagem que ficou, para sempre, na lembrança das pessoas. Os couros, madeiras, e outros produtos completavam a riqueza local, toda ela escoada pela barra do rio Sergipe. A partir dos anos 1950 o petróleo e os recursos minerais passaram a estimular a luta dos sergipanos, conscientes da riqueza a ser explorada. As notícias de velhos relatórios e de novas pesquisas e sondagens indicavam que havia no Estado grandes reservas minerais, que poderiam servir para a redenção econômica do Estado e do povo sergipano. Ao longo do tempo foi formatado um projeto de desenvolvimento, ancorado nas riquezas minerais. A descoberta de petróleo, em 1963, no campo terrestre de Carmópolis, e a descoberta de gás natural, na plataforma continental de Aracaju, inovando na pesquisa em lâmina d’água, comprovou não apenas a existência do “ouro negro”, mas também das diversas jazidas de minerais, que levaram o Governo Federal e criar, dentro da estrutura da Petrobras, a Nitrofértil (hoje Fafem) e a Petromisa (hoje Companhia Vale do Rio Doce) para, respectivamente, utilizar o gás natural e minerar o cloreto de potássio da mina de Taquari-Vassouras, em Rosário do Catete. Cimento, Amônia e Uréia, Cloreto de Potássio passaram a integrar a produção de Sergipe, requerendo a construção de um Porto amplo, para embarcações de grande calado, sem a incoveniência das dragagens constantes. Orlando Dantas, político, empresário e jornalista, liderou na Gazeta de Sergipe uma campanha pela exploração mineral, acelerando a industrialização do Estado, e defendeu a construção do novo porto no estuário do rio Sergipe, que considerava possuir as condições ideais para a obra redentora da economia sergipana. Estudos técnicos mostravam pareceres favoráveis ao estuário de Aracaju, enquanto outros indicavam um porto em mar aberto – off shore -, de acordo com as tendências modernas do mundo. O certo é que Aracaju, mais uma vez, estava no centro das atenções, por conta de sua localização e do papel que exercia, de longo tempo, como capital, na liderança do processo de desenvolvimento de Sergipe. As estradas, os trilhos da estrada de ferro, também significaram contribuição essencial, compensando, de algum modo, a falta de um porto adequado para a exportação da nova pauta de produtos sergipanos. Aracaju, contudo, estava na passagem dos caminhões e dos trens, dando seu apoio ás estruturas de comércio. Situada a poucos quilômetros do tronco rodoviário da BR-235/101 e sediando a Estação Ferroviária, Aracaju não perdeu, em nenhum momento, sua posição estratégica como capital, centro dos negócios do Estado. Dizia-se, com certo ar de deboche, que Sergipe não exportava porque não tinha porto e não tinha porto porque não tinha o que exportar. As autoridades do Estado tomaram a responsabilidade de abrir estradas, indenizar áreas, construir pontes, oferecendo tais serviços ao Governo Federal, para que a construção do Porto de Sergipe fosse concretizada. Cabe destacar o papel político de Seixas Dória, ex-deputado estadual, ex deputado federal, ex governador, que trocou posição no primeiro plano do Governo, no âmbito federal, pela definição das obras do porto, através do presidente da República, seu dileto amigo e velho companheiro José Sarney das lides político-partidárias. Construído em mar aberto, no município de Barra dos Coqueiros, junto da área reservada para o Pólo Cloroquímico de Sergipe, nas proximidades de Aracaju, o Porto de Sergipe recebeu, muito justamente, o nome de Inácio Barbosa, preito de gratidão e de homenagem ao homem que vislumbrou o papel futuro de Sergipe e de sua capital, há justos 150 anos.
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