FRAGMENTOS DA HISTÓRIA (III)

Série Especial do Sesquicentenário de Aracaju

 

A mudança da capital e a instituição da Associação Sergipense são consideradas as duas marcantes obras do período de governo de Inácio Joaquim Barbosa. Mas é preciso acrescentar, ao seu acervo de conquistas, o arranjo político conciliador que marcou suas relações de presidente com as diversas facções partidárias que, desde que o monsenhor Antonio Fernandes da Silveira – entre os anos de 1830 e 1831 – fundou a primeira agremiação partidária, viviam em disputas ruidosas e demandas nocivas aos interesses gerais da Província. O perfil do presidente Inácio Barbosa e sua presença no cenário nacional servem de base à compreensão de suas posições progressistas.

 

Nascido no Rio de Janeiro, filho de um militar e proprietário do mesmo nome, e de Rosa Francisca Barbosa, Inácio Joaquim Barbosa preparou-se nas letras jurídicas e nas lides administrativas para ocupar espaço em três Províncias: a do Rio de Janeiro, onde foi juiz Municipal, oficial da Secretaria da Fazenda e deputado Federal; a do Ceará, onde foi Secretário da Província, vice-presidente e Deputado Geral em duas legislaturas, sempre como suplente; e Sergipe para onde veio, em 1853, como presidente e onde morreu, em 6 de outubro de 1855. O parentesco (primo) com o militar e político general Manuel Felizardo de Souza e Melo, que foi presidente de algumas Províncias, deputado Geral e ministro da Guerra e da Marinha, é tido como uma “abre portas” para o jovem fluminense que, em 1840, vai estudar Direito na Academia de São Paulo, bacharelando-se em 1844, não sem antes participar dos eventos ocorridos no Teatro Público, que determinaram a prisão dos estudantes Martim Francisco Ribeiro de Andrada Júnior e Tristão da Cunha Menezes, envolvendo os demais estudantes presentes ao espetáculo, e entre eles Inácio Barbosa, preso e indiciado como seus colegas, conforme o Auto de Qualificação, de 22 de junho de 1843. É neste Auto que Inácio Joaquim Barbosa Filho declara sua idade – 20 anos – desmentindo os registros que o tinham como nascido em 1821.

 

A biografia do jovem presidente está centrada, em Sergipe, no tripé: mudança da capital, rebocagem a vapor e conciliação política. Na sua “Mensagem aos deputados Provinciais”, em 1º de março de 1855, manifesta seu desejo de mudar a capital e expõe seus argumentos, nitidamente em favor de Aracaju, ainda que considere a hipótese da capital ir para a Barra dos Coqueiros, deixando São Cristóvão no isolamento histórico. A idéia mostrou-se, inicialmente, desaconselhável e motivou pesadas críticas, onerou a gestão do presidente, ainda que ele tenha colhido, com habilidade, recursos de capitalistas que apostavam na idéia da nova capital, como os barões de Maruim, de Propriá e de Estância que contribuíram com construções de casas de morada nas ruas centrais de Aracaju dos primeiros meses e anos. A disposição do presidente em construir, rapidamente, a cidade era tão evidente que chegou a adiantar aos funcionários públicos os salários de um ano para a construção de moradias.

 

A preparação e melhoria da barra, justificada plenamente pelos valores exportados anualmente, ganhou ares de prioridade, dando à mudança um aspecto mercantil singular, que de algum modo indulgenciou a gestão do jovem presidente. A chegada do vapor Aracaju foi uma festa, garantindo o funcionamento regular da barra, permitindo uma certa modernização do setor açucareiro, em favor de uma maior produção. Importar maquinários, estabelecer parâmetros comparativos, conscientizar os proprietários foram armas utilizadas por Inácio Barbosa para fortalecer a principal riqueza da Província.

 

Unir os políticos sergipanos, quase todos senhores de engenho e de fazendas de gado, parecia ser uma tarefa hercúlea, mas terminou sendo um dos êxitos do presidente Inácio Barbosa, que nem o desaforado brinde feito pelo major Barroso Botocudo, em Laranjeiras, impediu.  Além de cometer a indelicadeza preconceituosa de considerar Inácio Joaquim Barbosa “mulato pobre mas honrado”, como se a honradez não integrasse o perfil dos mulatos, o major errou ao afirmar ter conhecido no Ceará “a família de pardos” do presidente. Tudo faz crer que o pai de Inácio Barbosa era maroto, integrante da grande comunidade portuguesa que permanecia no Brasil, mesmo depois da proclamação da Independência. As relações de Inácio Barbosa com o Ceará são claras. Para lá ele foi, em 1848, como secretário da Província, acompanhando o presidente Fausto de Aguiar. No mesmo ano casou com Maria Gouveia, filha do comerciante e vice-cônsul português Manoel Caetano Gouveia, com quem teve duas filhas – Maria Guilhermina e Maria Joana – e de quem ficou viúvo, quando já estava de volta ao Rio de Janeiro. Em 1849 foi nomeado vice-presidente do Ceará e procurador Fiscal da Tesouraria Provincial, permanecendo naquela Província até 1850, quando passa a ser 1º Oficial da Secretaria da Fazenda e Juiz Municipal da Corte (não mais de Paraíba do Sul). Nas eleições cearenses tem seu nome incluído na lista de candidatos e fica como segundo suplente, assumindo o mandato em 1852. No ano seguinte, em nova eleição, melhora a posição e fica como primeiro suplente, assumindo novamente, em 1853, honrando com sua inteligência a Província que lhe dera os dois mandatos.

 

A credibilidade para estabelecer uma gestão conciliadora tinha sido construída nas diversas atividades do presidente. Isto ficou claro, no Plenário da Câmara Federal, quando aparteando a Inácio Barbosa, o deputado Ângelo Muniz da Silva Ferraz diz: “Eu presto ao nobre deputado o maior reconhecimento e respeito aos seus talentos e à sua capacidade, e este reconhecimento não data de hoje, dada desde que pela primeira vez o ouvi como advogado ao Tribunal do Júri desta Corte que então dirigia. Já vê, pois, o nobre deputado que eu presto grande confiança nos seus conhecimentos.” A conciliação empreendida por Inácio Barbosa deu novos caminhos à política sergipana.

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br
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O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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