A Canção “Zombie”, crítica social e homenagem  

Caroline Moema Dantas Santos
Mestra em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/ UFRJ)
Integrante do Grupo de Estudo do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: moema@getempo.org

Da direita para a esquerda Johnatan Ball e Tim Parry. Disponível em: https://roadie-metal.com/a-historia-por-tras-da-cancao-30-the-cranberries-zombie/. Acessado em: 10 de janeiro de 2023.

 

A canção “Zombie” é de autoria da cantora e compositora Dolores O’Riordan, vocalista da banda irlandesa “The Cranberries”. Dolores sempre chamou a atenção do público por possuir uma voz e uma forma de cantar muito próprias. A banda destacou-se nos anos de 1980 até o início dos anos 2000 como uma banda pop que tinha em suas letras musicais temas como sentimentos e aspectos da vida cotidiana dos jovens irlandeses.

A letra da música “Zombie” ganhou maior destaque por ter destoado do conteúdo majoritariamente abordado nas músicas da banda “The Cranberries”, a letra fala sobre as consequências do atentado que aconteceu na Bridge Street, Warrington (cidade localizada no noroeste da Inglaterra), no dia 20 de março de 1993, realizado pelo grupo IRA (Irish Republican Army), conhecido no Brasil como Exército Republicano Irlandês.

O IRA é um grupo paramilitar de origem católica, que tinha como objetivo unir a República da Irlanda a Irlanda do Norte e torná-la independente do Reino Unido. O grupo IRA foi um dos grupos terroristas europeus mais atuantes durante o século XX seguindo com sua conduta até o início do século XXI, o grupo ficou conhecido pela tática de empreender violência contra civis que poderiam estar ou não ligados ao grupo rival. Os atentados empreendidos por esse grupo estavam ligados a conflitos de ordem política, econômica e/ou religiosa que resultavam da divisão do território em duas partes, a Irlanda do Norte (anglicana e monarquista) e a República da Irlanda (católica e republicana). A força policial também influenciou as ações do grupo IRA, já que esse panorama podia ser agravado de acordo com a violência empreendida pelos policiais da Irlanda do Norte sobre os participantes dos protestos pacíficos dos católicos que moravam nessa região.

O atentado de Warrington resultou na morte de uma criança, Johnatan Ball (3 anos de idade) e um adolescente, Tim Parry (12 anos de idade). Além disso, 54 pessoas ficaram feridas. Após algumas investigações, foi descoberto que o grupo IRA Provisório (Provos) foi o responsável pela explosão de duas bombas numa área comercial de Warrington.

Dolores O’Riordan comovida com o resultado do atentado, escreveu a música “Zombie”, trazendo à tona o debate sobre a onda de violência que vinha acontecendo na Irlanda do Norte durante os anos de 1970, 1980 e nas décadas seguintes. A letra da música não faz somete referência ao atentado de Warrington, ela também é uma homenagem às vítimas e a seus familiares.

Apesar de descaracterizar as canções da banda, a música “Zombie” fez muito sucesso em 1994, ano de seu lançamento. Nos anos de 1990 e início dos anos 2000 a banda The Cranberries fez sucesso e, por isso, a música “Zombie” foi amplamente divulgada não só na Irlanda do Norte, mas também em países da Europa e da América. Todavia, apesar da divulgação os pais de Johnatan Ball e de Tim Parry só souberam da homenagem feita a seus filhos após a morte da cantora Dolores O’Riordan, que faleceu no ano de 2007.

Os pais de Tim Parry por sua vez, criaram a Fundação Tim Parry e Johnathan Ball Foundation (https://timparryjohnathanballfoundation.org.uk/), com o objetivo de divulgar para os irlandeses ações que fomentassem a paz e a união entre os jovens garantindo assim o fim da disseminação do ódio feita pelo IRA.

Após o atentado de Warrington os civis da República da Irlanda e da Irlanda do Norte realizaram manifestações que demonstraram sua insatisfação com as ações terroristas realizadas pelo IRA. A vida de Tim Parry e de Johnatan Ball foram utilizadas como símbolo de oposição à luta armada e ironicamente representam a cruel ironia de que os dois jovens trouxeram a paz para a Irlanda. No entanto, somente no ano de 2005 o IRA declarou oficialmente o fim do uso da violência enquanto recurso e afirmou que continuaria a lutar pela causa republicana na Irlanda por meios pacíficos.

 

Para saber mais:

Fronteira. Belo Horizonte, v. 17, n. 33, p. 124 – 144, 1° sem. 2018. Disponível em: file:///C:/Users/marce/Downloads/Identidade%20nacionalista%20e%20o%20IRA%20%20A%20ascens%C3%A3o%20e%20a%20pacifica%C3%A7%C3%A3o%20do%20grupo%20e%20a%20compreens%C3%A3o%20do%20terrorismo.pdf. Acesso em: 24 de setembro de 2024.

IRA (EXÉRCITO REPUBLICANO IRLANDÊS). Liberdade Digital. Disponível em: <https://www.libertaddigital.com/empresas/ira-ejercito-republicano-irlandes/>. Acesso em: 10 de janeiro de 2023.

MOLUMBY, Gerry. HISTÓRIA IRLANDESA – EM MEMÓRIA DE TIM PARTY E JOHNATAN BALL – OS MENINOS QUE TROUXERAM PAZ AO NORTE. The Irish Post. 17 de setembro de 2021. Disponível em: <https://www.irishpost.com/history/remembering-tim-parry-and-johnathan-ball-the-boys-who-brought-peace-to-the-north-220302>. Acesso em: 10 de janeiro de 2023.

TIM PARTY E JOHNATAN BALL FUNDATION. Disponível em: <https://timparryjohnathanballfoundation.org.uk/>. Acesso em: 10 de janeiro de 2023.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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