As impenitentes bombas atômicas

Prof.ª Dr.ª Andreza Maynard

Prof. Dr. Dilton Maynard

Universidade Federal de Sergipe

Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

 

Fonte da imagem: Montagem feita pelos autores a partir das fotografias das bombas atômicas Little Boy e Fat Man encontradas no seguinte endereço: https://nsarchive.gwu.edu/briefing-book/nuclear-vault/2020-08-04/atomic-bomb-end-world-war-ii  Acesso em 30/07/2023.

 

Em maio de 1945, os Aliados haviam derrotado as tropas inimigas na frente Ocidental. Contudo, os combates persistiam no Oriente. Apropriando-se da máxima maquiavélica de que os fins justificam os meios, os Estados Unidos usaram bombas atômicas, forçando assim a rendição incondicional do Japão e pondo fim à Segunda Guerra Mundial. 

No dia 6 de agosto de 1945, foi lançada a primeira bomba atômica sobre Hiroshima. E no dia 9 de agosto o alvo foi a cidade de Nagasaki. Num total descompasso com a sua finalidade, qual seja, exterminar a vida de seres humanos, as bombas nucleares receberam os espirituosos apelidos de Little Boy e Fat Man. Tais nomes foram atribuídos graças ao formato de cada uma. 

As bombas funcionavam pelo princípio de fissão nuclear e apresentavam alto poder de destruição. A Little Boy tinha 16 mil toneladas de TNT e a Fat Man carregava o equivalente a 20 mil toneladas de TNT. As explosões geraram uma bola de fogo com temperaturas de aproximadamente 300 graus celsius. Tudo o que estava num raio de aproximadamente 1 a 2km virou cinzas, incluindo os habitantes das duas cidades.

À época, o uso das bombas atômicas foi considerado um sucesso. Além de forçar a rendição do Japão e de pôr um fim à Guerra iniciada em 1939, pode-se destacar que todo o mundo viu e ficou impressionado com as imagens da detonação das duas bombas. A ação foi devidamente registrada por câmeras. Até hoje, as fotografias dos cogumelos gigantes de fogo e fumaça gerados pelas bombas estão presentes nos livros didáticos de história.

O emprego das armas nucleares em 1945 pelos Estados Unidos permitiu que este obtivesse uma posição de vantagem não apenas sobre as nações inimigas na Guerra, mas também, e principalmente, diante de antigos aliados, sobretudo França, Inglaterra e Rússia. Nos anos seguintes, houve uma corrida para que cada um desses países desenvolvesse uma bomba atômica e aumentasse o seu poder de destruição.

Passados 78 anos do fim da Segunda Guerra, o entendimento sobre o uso de bombas atômicas mudou consideravelmente. Pela definição atual do direito internacional, os dois ataques nucleares realizados em agosto de 1945 são considerados crimes de guerra, sobretudo porque a maioria das vítimas eram civis. As bombas atômicas mataram aproximadamente 200 mil pessoas. Apesar disso, nenhum presidente estadunidense jamais se desculpou pelos mortos, ou pelos milhares de sobreviventes que padeceram por gerações com os efeitos da radiação.

Historiadores japoneses atribuem tal comportamento à noção de que a Segunda Guerra Mundial foi a “grande guerra” da qual os Estados Unidos se orgulham de haverem participado. E, além da soberba que envolve a experiência dos estadunidenses com a Guerra, existe a possibilidade do uso dessa arma de destruição em massa no futuro.

Atualmente, apenas Rússia, Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte possuem armas desse tipo, sendo que 90% pertencem aos Estados Unidos e à Rússia. E a guerra da Ucrânia reacendeu a possibilidade do uso de armas nucleares, despertando preocupações de vários países, inclusive do Brasil.

Do ponto de vista humanitário, entender o que houve em Hiroshima e Nagazaki se faz cada vez mais urgente. Hoje, as duas cidades japonesas, que foram revitalizadas e voltaram a ser habitadas, mantêm praças e museus que homenageiam as vítimas e nos lembram dos horrores causados pelas bombas atômicas. Desde 1945, nenhum outro país lançou mão dessa arma; porém, isso nunca deixou de ser uma possibilidade. 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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