Casablanca: o filme antinazista que se tornou um clássico

Profª Drª Andreza Maynard

Universidade Federal de Sergipe

Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

 

Fonte da imagem: https://www.originalfilmart.com/en-br/products/casablanca-film-fest?srsltid=AfmBOoqY_hwd1AzUd9bnd_Id5b3_M19gDA5JlMNdkJkelwPB_BGATH1Z Acesso em 01/10/2025

 

O ano era 1942. Os Estados Unidos participavam da Segunda Guerra, e a Warner Bros. lançou a produção antinazista Casablanca. Dirigido por Michael Curtiz e estrelado por Humphrey Bogart (Rick) e Ingrid Bergman (Ilsa), o filme reunia todos os elementos para se tornar um sucesso naquele momento, mas acabou ultrapassando o seu tempo e consagrou-se como um clássico do cinema mundial. Em 2025 Casablanca continua encantando gerações. Mas por quê?

Indicado em oito categorias do Oscar, o longa venceu três estatuetas, incluindo a de Melhor Filme. Ambientado na Segunda Guerra, apresenta os nazistas como vilões que precisam ser detidos, o que lhe rendeu a classificação de antinazista. Trata-se de um filme de guerra, e produzido em meio ao conflito, mas, ao contrário do que se poderia imaginar, não há cenas em campos de batalha.

O protagonista da trama é Rick Blaine, interpretado por Bogart, um americano dono de um clube noturno, aparentemente apático e neutro. No entanto, diante do horror nazista, ele é forçado a escolher um lado. Ao ajudar Ilsa e Victor Laszlo a escapar, Rick simboliza a própria mudança de postura dos Estados Unidos durante a guerra, da hesitação inicial ao engajamento na luta pela liberdade.

Casablanca conquistou o público pela emoção. O uso de closes intensificou a narrativa, convidando o espectador a se aproximar dos personagens e de seus sentimentos. A cena em que os frequentadores do Café de Rick entoam A Marselhesa para silenciar os nazistas ainda hoje impressiona. O filme, que trouxe uma representação visceral da resistência, emocionou plateias em 1942 e continua a fazê-lo porque apresenta dilemas humanos universais.

Ítalo Calvino afirmou que os clássicos nos ajudam a “entender quem somos e aonde chegamos”. Casablanca cumpre essa função e, além disso, influenciou inúmeras produções audiovisuais. Foi mencionado no filme distópico Brazil (1985), parodiado pela própria Warner no desenho animado Carrotblanca (1995), do Pernalonga, e recebeu alusões em La La Land: cantando estações (2016), entre muitos outros.

Mais uma prova de que Casablanca permanece vivo na memória cultural e afetiva está no uso recorrente de suas falas. Diante da celeuma recente no Brasil, gerada pela suspensão do visto americano para magistrados do STF, surgiram várias postagens nas redes sociais menosprezando a situação com a imagem da cena em que Rick diz para Ilsa: “Nós sempre teremos Paris”.

A longevidade do filme também se explica por sua dimensão romântica. O triângulo amoroso entre Rick, Ilsa e Laszlo simboliza as renúncias impostas pela guerra. O célebre “Nós sempre teremos Paris” ecoa até hoje porque fala de perdas inevitáveis, de amores sacrificados em nome de um bem maior.

Oito décadas depois, Casablanca continua sendo um lembrete de que a luta contra o autoritarismo jamais deixa de ser necessária. Em um mundo ainda marcado por guerras, refugiados e dilemas éticos, o filme permanece atual porque aborda não apenas a Segunda Guerra, mas também temas como humanidade, resistência, amor e o peso das escolhas individuais.

 

Para saber mais:

CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais